É isso. A conivência da sociedade que não participa mesmo e que gosta de um paternalismo, bem ao estilo Getúlio Vargas. Gosta, sim.
A sociedade que não participa é a culpada por vivermos numa megalópole na qual quase metade da população vive em favelas, em condições sub-humanas.
Há que se fazer alguma coisa para acabar com isso? Sim, é claro. Se aparece um político que diz que vai colocar muros nas favelas para que não piore ainda mais a situação, a sociedade o crucifica porque isso é segregar as pessoas (e é mesmo) etc etc. Aí, o político, que nós reclamamos que nunca faz nada, nada faz mesmo.
Então, aparece o demagogo, não importa o nome, pois estamos lotados deles, e diz... Pois eu vou urbanizar as favelas com o dinheiro de um tal de PAC. E a sociedade que não participa, aplaude. Por quê? Porque é politicamente correto (será que esse modismo estadunidense chegou para ficar?). A pessoa se sente menos culpada apoiando o paternalismo. Afinal de contas, enfeitar favelas é bem melhor do que removê-las, não?!
Então, precisamos vivenciar uma tragédia, para que a própria sociedade apática, que apenas aperta o botão 'confirmar' na urna e acabou (isso porque é obrigatório, mas aqui já é outra conversa) já aceite ouvir a palavra remoção até na TV.
Favela do Pasmado que foi removida em 1964 |
O fato é que uma favela esteja ela numa área de risco ou não, é uma ilegalidade. Os terrenos sobre os quais elas estão têm dono. Muitas das vezes, o dono é a União, mas e os outros lugares, os outros bairros do subúrbio carioca? Como os vários galpões de pequenas fábricas e/ou comércios invadidos (ruas inteiras), os empresários literalmente perderam seus patrimônios e nenhum governo fez ou fará nada, pois, afinal de contas, os moradores de comunidades são sempre os coitadinhos, não?! O que eles merecem é que todos nós trabalhemos muito para pagarmos cada vez mais Imposto de Renda, correto? Caso contrário, quem vai pagar as bolsas-família, vale-leite, cheque-cidadão e todas as benesses paternalistas das quais eles vivem?
Interessante é que nos anos 60 um homem chamado Lacerda removeu várias favelas da cidade. Quase todas estavam na zona sul (Praia do Pinto, Catacumba, Pasmado), uma delas, na zona norte, a favela do esqueleto, a atual UERJ. E então, a mesma sociedade apática, que não participa, crucificou o dito cujo e inventou-se toda a sorte de sandices a seu respeito, até porque Lacerda era uma figura polêmica.
O ponto é que o que um governante faz na sua gestão, nunca prossegue na gestão de outro governante, mesmo que sejam do mesmo partido político, imaginem, então, no caso de serem adversários. Daí que, o que era para ser uma nova “cidade", a Cidade de Deus, por falta de continuidade, manutenção no que já havia sido feito, falta da implantação dos transportes de massa, que era a infra-estrutura mais importante, pelo fato da distância do centro da cidade, transformou-se em pouco tempo em uma enorme e nova favela.
E não se iludam. Construam o que quiserem, seja lá onde for, depois de uns dois anos da entrega à população, teremos uma favela literalmente removida... "Removida de endereço".
A sociedade, mesmo aquela que participa, precisa fazer sua escolha. Ou bem nós queremos viver por entre favelas (com turistas visitando-as do mesmo modo que visitam o Pão de Açúcar) ou bem queremos viver em uma cidade limpa com gente educada, que não urine nos muros da cidade.
Vou repetir o que já escrevi em uma dezena de outros artigos em sites diversos, trata-se apenas de falta de educação, não aquela que se aprende nas reles escolas públicas que temos, mas sim aquela educação vinda de casa, da família.
Por fim, concordo plenamente com a frase dita pelo Francisco Maiolino, em um fórum de debates do qual ambos participamos. Eu, aos 50 anos, "não acredito mais em uma sociedade que muito discute e não age". Não age ela própria, nos pequenos detalhes.
Eliane, concordo com cada palavra sua. Quem dera Jânio Quadros ainda estivesse vivo, pois construiu moradias e prédios populares, e avisou o povo de diversas favelas em São Paulo: mudem-se para suas novas casas, pois no dia marcado vamos derrubar toda essa favela. Dito e feito, mas com a devida polêmica: pensa que os moradores queriam sair de lá? Eles não queriam ir para longe, onde houve espaço para a construção dos novos imóveis populares, queriam ficar embaixo da ponte, no pé do morro, perto de onde achavam conveniente morar! Quem sabe se fossem transferidos para Alphaville ficariam satisfeitos...
ResponderExcluirO assunto é delicado, e sua solução é necessária. Infelizmente, pensar e agir com planejamento não e típico dos gestores públicos brasileiros... e quando aparece um, não tem força política e nem papá na boquinha de quem vota para conseguir se eleger e muito menos se reeleger mais tarde. A verdade é ácida e queima por dentro, mas é a verdade que somos obrigados a engolir, mesmo a contra gosto. E a gente ainda paga por isso...
Grande abraço!
Adriano Berger