segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife, em 19/08/1849 e faleceu em Washington, em 17/01/1910. Foi político, diplomata, historiador, jurista, jornalista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Joaquim Nabuco ainda bem jovem
Ele foi um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos. Foi um grande diplomata do Império, além de orador, poeta e memorialista. De família influente, escolheu o caminho mais difícil para fazer jus à tradição, defender os direitos dos negros. Levou a questão até o Papa. Com trajetória brilhante, alcançou sucesso na causa de sua vida, apesar do paradoxo, o homem que lutou pela igualdade entre os homens era monarquista.
Desposou Evelina Torres Soares Ribeiro, filha de José Antônio Soares Ribeiro, 1º barão de Inoã, e neta de Cândido José Rodrigues, 1º barão de Itambi. Dessa união nasceram: Maurício, que foi diplomata e, como o pai, embaixador do Brasil nos EUA; Joaquim, que foi sacerdote da Igreja Católica, chegando a ser Monsenhor e Protonotário Papal; Carolina, escritora de renome; Mariana e José Tomas, este casado com Maria do Carmo Alvim de Mello Franco Nabuco, filha de Afrânio de Mello Franco, primeiro Ministro das Relações Exteriores do governo de Getúlio Vargas.

Evelina Torres Soares Ribeiro, sua esposa

Causa de Uma Vida
Joaquim Nabuco se opôs de maneira veemente à escravidão, contra a qual lutou tanto por meio de suas atividades políticas quanto de seus escritos. Fez campanha contra a escravidão na Câmara dos Deputados em 1878 e fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira, sendo responsável, em grande parte, pela Abolição em 1888.
A abolição da escravatura, no entanto, não deveria ser feita de maneira ruptúrica, ou violenta, mas assentada numa consciência nacional dos benefícios que tal resultaria à sociedade brasileira, era o pensamento de Nabuco.
Nabuco, ao lado de Ruy Barbosa, assumiu posição de destaque na luta pela liberdade religiosa no Brasil que, na época, tinha a religião católica como oficial, constituindo-se em um Estado confessional. Assim como Ruy Barbosa, Nabuco defendia a separação entre Estado e Religião, bem como a laicidade do ensino público. 

Papa Leão XIII

Em um discurso proferido em 15 de maio de 1879 que abrangia tanto o tema da educação pública, quanto o da separação entre Estado e Religião, a um aparte de vários deputados, responde: "Eu desejava concordar com os nobres deputados, em que se deveria deixar a liberdade a todas as seitas; mas, enquanto a Igreja Católica estiver, diante das outras seitas, em uma situação privilegiada (…), os nobres deputados hão de admitir que (…) ela vai fazer ao próprio Estado, de cuja proteção se prevalece, uma concorrência poderosa no terreno verdadeiramente leigo e nacional do ensino superior. Se os nobres deputados querem conceder maiores franquezas, novos forais à Igreja Católica, então separem-na do Estado. É a Igreja Católica que em toda a parte pede a liberdade do ensino superior. Essa liberdade não foi pedida em França pelos liberais; mas pela Igreja. (…) E porque reconheça que o ensino deva ser livre? Não. Aí está o Syllabus que fulmina de excomunhão quem o sustentar. O que ela pretenderia é a partilha do monopólio para, quando achar-se senhora exclusiva (…), fechar a porta à liberdade e à ciência."
Em um trecho memorável, expressa: "A Igreja Católica foi grande no passado, quando era o cristianismo; quando nascia no meio de uma sociedade corrompida, quando tinha como esperança a conversão dos bárbaros, que se agitavam às portas do Império minado pelo egoísmo, corrompido pelo cesarismo, moralmente degradado pela escravidão. A Igreja Católica foi grande quando tinha que esconder-se nas catacumbas, quando era perseguida. Mas, desde que Constantino dividiu com ela o império do mundo, desde que de perseguida ela passou a sentar-se no trono e a vestir a púrpura dos césares, desde que, ao contrário das palavras do seu divino fundador, que disse: O meu reino não é deste mundo, ela não teve outra religião senão a política, outra ambição senão o governo, a Igreja tem sido a mais constante perseguidora do espírito de liberdade, a dominadora das consciências, até que se tornou inimiga irreconciliável da expansão científica e da liberdade intelectual do nosso século!"
E o orador termina com assegurar que não é inimigo do catolicismo-religião, e sim do "catolicismo-política". "Não sou inimigo da Igreja Católica. Basta ter ela favorecido a expansão das artes, ter sido o fator que foi na história, ser a Igreja da grande maioria dos brasileiros e da nossa raça, para não me constituir em seu adversário. Quando o catolicismo se refugia na alma de cada um, eu o respeito; é uma religião da consciência, é um grande sentimento da humanidade. Mas do que sou inimigo é desse catolicismo político, desse catolicismo que se alia a todos os governos absolutos, é desse catolicismo que em toda a parte dá combate à civilização e quer fazê-la retroceder".

Nabuco, no meio, entre alunos da diretoria do Centro Acadêmico da Faculdade do Largo de São Francisco, que dirigiu.

Após passagens rápidas pela imprensa carioca, onde iniciaria carreira como jornalista, Nabuco publicou, em 1872, o primeiro livro, Camões e os Lusíadas. Entra então no serviço diplomático, como funcionário do governo imperial. Vive três anos fora do País, trabalhando como adido de primeira classe em Londres, depois em Washington.
Volta ao Rio como deputado geral pela província de Pernambuco. O retorno marca o início de uma campanha em favor do Abolicionismo, da qual ele seria uma das figuras centrais. Porém, a iniciativa de instalar em sua própria casa a Sociedade Brasileira contra a Escravidão aprofunda as divergências com seu partido e inviabiliza a reeleição.
Em 1883 parte para nova temporada no exterior - um “exílio voluntário”, segundo suas próprias palavras. Em Londres, trabalha como advogado e correspondente do Jornal do Commercio. Um ano depois, publica O Abolicionismo. Volta ao Brasil em 1885, assumindo novamente o cargo de deputado por Pernambuco e a liderança da campanha pela Abolição. Participa ativamente da promulgação da Lei dos Sexagenários. Seus discursos seriam reunidos no livro A Campanha Abolicionista, de 1885.
O esforço em prol da Abolição, que incluiu uma visita ao papa Leão XIII, pedindo a manifestação do pontífice em favor do fim da escravidão no mundo, encontro que geraria, no mesmo ano, uma encíclica papal sobre a causa, seria coroado com a Abolição da Escravatura no Brasil, em 1888.

Nabuco em seu escritório em Washington

Abolicionista Porém Monarquista
Após a derrubada da monarquia brasileira retirou-se da vida pública por algum tempo.
Nessa época estreita relações com diversas personalidades da literatura nacional, Machado de Assis, Maciel Monteiro, Lúcio de Mendonça, José Veríssimo. Dessas amizades nasceram o projeto e a fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, da qual foi secretário-geral.
Nabuco foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, tomando assento na cadeira 27, que tem por patrono Maciel Monteiro.
 
Joaquim Nabuco ma ABL

Entre os imortais, manteve uma grande amizade com o escritor Machado de Assis, que mantinha até mesmo um retrato de Nabuco pendurado na parede de sua residência, e com quem costumava trocar correspondências, que acabaram publicadas.
Quando Machado de Assis morreu, um de seus amigos, José Veríssimo, escreveu um artigo em sua homenagem. Numa explosão de admiração pelo homem de origens modestas e ancestrais negros que tornara-se um dos maiores romancistas do século, Veríssimo violou uma convenção social e referiu-se a Machado como o mulato Machado de Assis. Joaquim Nabuco, que leu o artigo, rapidamente percebeu o faux-pas e recomendou a supressão da palavra, insistindo que Machado não teria gostado dela. “Seu artigo no jornal está belíssimo” – escreveu a Veríssimo – “mas esta frase causou-me arrepio: mulato, foi de fato grego da melhor época. Eu não teria chamado o Machado de mulato e penso que nada lhe doeria mais do que essa síntese. Rogo-lhe que tire isso quando reduzir os artigos a páginas permanentes. A palavra não é literária e é pejorativa, basta ver-lhe a etimologia. O Machado para mim era um branco e creio que por tal se tomava…”

Joaquim Nabuco e Machado de Assis, grandes amigos
Em 1900, o Presidente Campos Sales conseguiu demovê-lo a aceitar o posto de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em missão especial em Londres, na questão do Brasil com a Inglaterra, a respeito dos limites da Guiana Inglesa. Em 1901, era acreditado em missão ordinária, como embaixador do Brasil em Londres e, a partir de 1905, em Washington.
Grande era o seu prestígio perante o povo e o governo norte-americano, manifestado em expressões de admiração dos homens mais eminentes, a começar pelo Presidente Theodore Roosevelt e pelo Secretário de Estado Root; e na recepção das Universidades, nas quais proferiu uma série de conferências, sobre cultura brasileira.
Carta de Theodore Roosevelt (*)
Em 1908 recebeu o grau de doutor em letras por Yale, e foi convidado a pronunciar o discurso oficial de encerramento do ano letivo ou dia da colação dos graus da Universidade de Chicago, e um discurso oficial na Universidade de Wisconsin. Quando faleceu, em Washington, seu corpo foi conduzido, com solenidade excepcional, para o cemitério da capital norte-americana, e depois foi trasladado para o Brasil, no cruzador North Caroline. Do Rio de Janeiro foi transportado para o Recife, sua cidade natal. 




(*)  Na carta lê-se:

The White House
Washington
May, 22, 1907

My Dear Mr. Ambassador:
Let me again thank you for the book, now so valueable not only in itself but because of having the name of the donor in it.

With all good wishes, believe me,
Faithfully yours,
Theodore Roosevelt

Mr. Joaquim Nabuco,
The Brazilian Ambassador,
Lafayette Square,
Washington, D.C.



sábado, 28 de agosto de 2010

Palavra de Escoteiro

Nesses tempos de valores totalmente invertidos, de crianças e pré-adolescentes sensualizadas precocemente, nesses tempos de BBBs, bailes funk, e marias-chuteiras, nesses tempos de consumismo exasperador e degradação da família, lembrei-me de uma entidade antiga, do início do século XX, que eu pensava já extinta. O movimento escoteiro.
O escotismo, fundado na Inglaterra, por Lorde Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, em 1907, é um movimento mundial, educacional, voluntariado, apartidário, sem fins lucrativos. A sua proposta é o desenvolvimento do jovem, por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Promessa e na Lei escoteira, e através da prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina.
Robert Stephenson Smyth Baden-Powell
Tudo começou quando Baden-Powell, aos 19 anos, em 1876, uma oportunidade de ir à Índia como subtenente de regimento na Guerra da Criméia. Sua vida militar foi brilhante e ele era promovido à medida que ganhava inúmeras guerras das quais participou pela Índia e várias colônias britânicas na África. Em 1901, tornou-se major-general e um herói aos olhos de seus compatriotas com a tomada de Mafeking, na África do Sul. Seu sucesso em tantas guerras deveu-se, segundo o próprio general, ao livro que escrevera para os militares, Aids to Scouting (Ajudas à Exploração Militar). O livro estava sendo usado como um compêndio nas escolas masculinas. Baden-Powell viu nisto um desafio. Compreendeu que estava aí a oportunidade de ajudar a juventude.
No verão de 1907 foi com um grupo de 20 rapazes separados por 4 patrulhas para a Ilha de Brownsea, no Canal da Mancha, a fim de realizar o primeiro acampamento escoteiro que o mundo presenciou. O acampamento teve um completo êxito. Nascia, assim, o escotismo.

A Promessa Escoteira
A promessa escoteira sintetiza o embasamento moral do Movimento Escoteiro. No momento da Promessa, os membros do Movimento comprometem-se, voluntariamente, a conduzirem-se de acordo com a orientação moral do Movimento, reconhecendo a existência de deveres que têm de ser cumpridos.
"Pela minha honra, eu prometo que farei o meu melhor para cumprir meu dever para com Deus e o Rei, ajudar os outros em todas as ocasiões e obedecer à Lei Escoteira."

A flor de lis

A Lei Escoteira
Quando Baden-Powell idealizou a Lei Escoteira, decidiu não estabelecer leis proibitivas, mas conceitos para formação de pessoas benévolas, para que, desta forma, o jovem escoteiro tivesse onde se espelhar e pudesse se orientar.

Os Dez Artigos da Lei Escoteira
1.   A Honra, para Escoteiros, é ser digno de confiança.
2.   O Escoteiro é leal ao Rei, à sua pátria, aos seus escotistas, aos seus pais, aos seus empregadores, e aos seus subordinados.
3.   O Dever para o Escoteiro é ser útil e ajudar o próximo.
4.   O Escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros, não importando a que país, classe ou credo o outro possa pertencer.
5.   O Escoteiro é cortês.
6.   O Escoteiro é amigo dos animais.
7.   O Escoteiro obedece às ordens dos seus pais, do seu monitor ou do seu chefe escoteiro.
8.   O Escoteiro sorri e assobia sobre todas as dificuldades.
9.   O Escoteiro é econômico.
10.O Escoteiro é limpo no pensamento, na palavra e na ação.

Saudação do escoteiro

O Movimento Escoteiro é um movimento global que produz uma real contribuição na criação de um mundo melhor. A finalidade é o caráter com um propósito. E o propósito é que essa geração seja sadia no futuro, para desenvolver a mais alta forma de compreensão e dever para com Deus, a pátria e o próximo.
Uma pessoa com liberdade e integridade, de mente aberta e com um coração verdadeiro, forte em sua determinação, responsável e ter confiança sobre seus julgamentos e ações. Uma pessoa que coloca acima de sua vida, a verdade de suas palavras.
Pronto para servir outros, envolvido com a comunidade, comprometido com a democracia e com o desenvolvimento, amante da justiça e promovedor da paz, que valoriza o trabalho humano e constrói a sua família em amor, consciente de sua própria dignidade e de outros, dividindo com todos a alegria e a afeição.
Uma pessoa criativa que deixa o mundo melhor do que quando ele encontrou e que promove grandes esforços para manter a integridade da natureza, aprende continuadamente e procura por caminhos que permanecem inexplorados; que faz o seu trabalho bem e é livre de avidez para com posses e é independente de bens materiais. Uma pessoa espiritualizada, com um senso transcendental de vida, que é tem o peito aberto para com Deus, vive a sua vida com alegria e faz dela parte do dia; e é aberto a diálogo, compreende, respeita a fé e a religião do próximo.


Alfabeto em sinais
Modalidades do Escotismo

Escotismo Básico
A Modalidade Básica, caracterizada pelo escoteiro típico, sendo a modalidade com o maior número de integrantes, apresenta grande flexibilidade de atividades e com formação geralmente mais voltada para a atividade excursionista, campismo e montanhismo. Os acampamentos exigem inúmeras técnicas escoteiras, dentre elas a que se destaca é a pioneiria, uma forma de suprir a necessidade de móveis e como um modo de proteção, normalmente constituídas por troncos de madeira e unidas através de amarras.

Escotismo do Mar
O que caracteriza o Escotismo Modalidade do Mar é que eles realizam suas atividades preferencialmente na água, onde quer que exista água em quantidade e profundidade suficientes para que uma embarcação possa navegar, seja ela de que tipo for. Sendo assim podem existir Escoteiros do Mar, seja esta água de mar, de rio, lago, lagoa ou pantanal. Procurando desenvolver nos jovens o gosto pela vida no mar, pelas artes e técnicas marinheiras, pela navegação à vela e a motor, pelas viagens e transportes marítimos, pela pesca, pelo estudo da oceanografia, pela exploração e pelos esportes náuticos, incentivando o culto das tradições da marinha. A gama de atividades que podem ser realizadas é enorme, indo da tradicional navegação a remo até mergulho ou windsurf.

Escotismo do Ar
A Modalidade do Escotismo do Ar, não foi idealizada pelo fundador, Baden-Powell, das outras duas modalidades, básica e do Mar, nem mesmo na Inglaterra, a Modalidade do Ar teve sua origem no Brasil.
Dia 28 de abril de 1938, é oficializado o primeiro Grupo Escoteiro da Modalidade do Ar, o Grupo Escoteiro do Ar Tenente Ricardo Kirk, tendo como responsáveis o Major Aviador Godofredo Vidal, o Tenente Coronel Aviador Vasco Alves Secco e o Primeiro Sargento Telegrafista Jayme Janeiro Rodrigues, na época servindo no 5º Regimento de Aviação, atual CINDACTA II, em Curitiba.
O Escotismo Modalidade do Ar procura desenvolver nos jovens, além dos valores da Modalidade Básica, o gosto pelo aeromodelismo, aeroplanos, pelos problemas de aeroportos, aeronavegação, aeropropulsão, pelo pára-quedismo e pelos esportes aéreos, pelo estudo da meteorologia e da cosmografia, pelo mundo aeroespacial e pela cosmonáutica, incentivando o culto das tradições da aeronáutica do país, conforme portaria do então Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Nero Moura, em 1951.
A União dos Escoteiros do Brasil, fundada em 4 de novembro de 1924, é uma sociedade de âmbito nacional que congrega os Grupos de Escoteiros no Brasil. Hoje existem cerca de 60.000 escoteiros filiados à UEB, que é filiada à Organização Mundial do Movimento Escoteiro.
Os escoteiros no Brasil estão divididos em:
Lobinhos (de 6,5 a 10 anos)
Escoteiros (de 11 a 14 anos)
Seniores (de 15 a 17 anos)
Pioneiros (de 18 a 21 anos)

Lobinho 'Sempre Alerta'
Lendo tudo que está descrito acima como sendo o perfil de um escoteiro, me pergunto por que há apenas 60 mil deles no Brasil inteiro? Por que os pais não incentivam seus filhos e filhas (pois existe também o Movimento das Bandeirantes) a fazerem parte de uma organização tão saudável, útil para todos e profícua como esta? Será que é porque é careta, é pagar mico, sair às ruas usando o uniforme que tem aquele lencinho típico no pescoço? Ou será que é porque seu filho não levará nenhuma vantagem nisso? Infelizmente, deve ser uma mistura de tudo isso. Mal sabem esses pais que os rapazes e moças vão se doar à sociedade, ao bem comum para só então saber o verdadeiro significado da palavra recompensa.

Fonte: Portal da União dos Escoteiros do Brasil, UEB

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Digressões sobre Favelas no Rio

Em 26/04/2010, falei sobre ‘Favelas, Paternalismo, Sociedade’. Estamos nos aproximando das eleições presidenciais no Brasil e este tema, de um modo ou de outro, acaba voltando. E nada mais oportuno do que assuntos “tabu”, como os problemas estruturais de toda sorte que vivenciamos em todas as grandes cidades do país, em época de eleições.
Nas últimas décadas, o ritmo de crescimento das cidades está sendo muito superior ao das possibilidades de previsão das autoridades. O poder público não tem a capacidade de assimilar os problemas das megalópoles que vêm se formando, tampouco dispõe dos recursos para proceder às reformas de grande vulto que se fazem necessárias para criar novas estruturas que sejam eficazes. Uma parte da população que chega às grandes cidades é forçada a se distribuir nos locais mais miseráveis e abandonados, invadindo propriedades alheias ou zonas com condições urbanas inadequadas. O poder público, tanto estadual quanto municipal, é lento na tomada de decisões e, com isso, “dão tempo” para que a realidade nua e crua surja de locais incongruentes e “repentinamente”. 

Essa é a gestão urbana em curso no Complexo do Alemão, o teleférico
Existe uma coisa chamada gestão urbana que é o nome dado à operacionalização de uma cidade. A gestão urbana é, portanto, a ação responsável pela elaboração de políticas públicas e pela sua concretização. E o interessante é que no Brasil criou-se o Ministério das Cidades, que trataria desses assuntos.
Talvez a minha opinião divirja da de vocês, leitores, mas vou comentar alguns assuntos tabu pelo menos no Rio de Janeiro.
Não há dúvidas que, em qualquer lugar do mundo, o local onde está a Favela da Rocinha, hoje serviria para loteamentos legais de casas de luxo que pagariam muito mais IPTU do que em qualquer outra área do Rio de Janeiro. E quando o poder público aumenta sua base de arrecadação, sem aumentar o percentual dos impostos, estamos falando do melhor dos mundos, pois, obviamente, este mesmo IPTU seria utilizado para criar condições estruturais para ocupação e urbanização de outras áreas da cidade para que todos, ricos e pobres, pudessem viver com dignidade. Talvez ainda hoje se possa resolver o problema, apesar de sua extrema complexidade.  

Favela da Rocinha em 1931. Ainda dava tempo.

Favela da Rocinha hoje. Não sei se há solução.

O primeiro ponto para isso seria o governo passar a planejar a longo prazo e em ritmo mais condizente com a realidade das cidades, pois não apenas no Rio de Janeiro temos esses problemas. Não me julguem inocente, pois eu sei que isso não será feito. Estou falando no campo das idéias, na teoria. Lembremo-nos de que a teoria PODE e DEVE ser passada à prática, mas... Os interesses, sempre eles, se colocam entre o poder público e o bem comum nas sociedades.
Voltando à teoria, no Rio de Janeiro, precisamos de uma transformação radical, uma revolução mesmo, nos transportes de massa. E aqui fica claro que não adianta fazer linhas de ônibus, mas transportes intermodais, com ênfase total ao transporte ferroviário. De nada adiantará mega empreendimentos, se não houver infra-estrutura que os suportem. Senão, estarão todos fadados ao fracasso a exemplo do que aconteceu com a Cidade de Deus.
Já que estamos falando de transportes, vamos continuar a falar sério. Faço uma pergunta, qual foi o(a) candidato(a) que tocou no assunto “especulação imobiliária nas favelas”? Como planejar qualquer coisa se as favelas estão repletas de locações e sublocações de algo que simplesmente “NÃO EXISTE”? Eu já falei sobre isso anteriormente e, se uma favela nada mais é do que uma ocupação ilegal, e isso é fato, especulação imobiliária em favelas deveria ser tratada com a devida seriedade pelo poder público, como um problema social da magnitude que ele é.
Reparem que uma coisa leva à outra, a especulação fomenta as favelas. Mas como fiscalizar essa especulação? Que órgão a faria? Os fiscais ganhariam quanto para esse trabalho? Um salário mínimo? Desse modo, estaríamos inflacionando a especulação, pois o morador (a ponta final da cadeia) teria de pagar também os subornos, as propinas para “fechar os olhos” dos fiscais. Não adianta decretar-se que é proibida a locação ou sublocação em favelas com o poder da caneta, pois não há como fiscalizar um decreto desse tipo.
E a Favela do Morro do Bumba em Niterói? O que dizer da quantidade de pessoas que morreram com as águas de março? A Favela do Morro do Bumba foi construída sobre um lixão desativado e em forma de morro. Por que, em vez de ser removida, essa “comunidade” ganhou via de acesso, que incrementou seu crescimento e as famigeradas obras de maquiagem, como por exemplo, iluminação pública, algum calçamento etc? A irresponsabilidade em forma de ganância pelo voto fácil está cada vez mais se sofisticando. Os projetos de teleféricos feitos com o dinheiro do PAC estão aí e não me deixam mentir. O pior é saber que isso seduz inclusive pessoas ditas esclarecidas. Talvez esclarecidas, mas jamais comprometidas com a justiça e o bem comum, pois todos falam muito, fazem passeatas (desde que sejam na orla da zona sul carioca), mas nada fazem que tenha efeito real, concreto, positivo. Nada.


Favela da Catacumba com a linha 16 do ônibus elétrico Largo do Machado-Ipanema, início dos anos 60




O Parque da Catacumba hoje, na Lagoa Rodrigo de Freitas
Li em um blog há uns meses, uma “tabela” de aluguéis em favelas da zona sul do Rio que mencionava, “preços pós UPPs”. Dizia também que “os aluguéis incluem GATOS luminoso e aquático” (sic). O que me deixa boquiaberta é o fato de estarmos presenciando uma Classe C emergente que não se importa em viver em condições habitacionais sub-humanas, sem endereço, sem esgoto etc, mas que faz tudo pela localização de sua moradia. Imaginem oferecer a algum desses moradores de favelas da zona sul, por exemplo, morar em uma casa legalizada em um subúrbio da Leopoldina. Obviamente, não aceitariam tal proposta. Como assim? Sair da zona sul para morar em um subúrbio, em uma casa pequena, de sala e dois quartos, e tendo de pagar IPTU, conta de luz, conta de água e afins? Alguém enlouqueceu no meio dessa história toda, não?!
Tudo o que escrevi aqui, venho repetindo durante, pelo menos, dez anos. Mas quando eu abro a boca para falar sobre estes assuntos, tais como "favela é uma ilegalidade", as pessoas só faltam me linchar, pois a sociedade acha que os menos favorecidos (odeio quem inventou o politicamente correto... só podia ser um estadunidense) são todos uns coitadinhos.
Além da especulação dentro das favelas, é fato também que lá há comércio de toda sorte, inclusive com máquinas para cartões de débito/crédito. É aqui que se vê que a CORRUPÇÃO está também na base que sustenta todo esse sistema. A favela não é uma ilegalidade? Claro que é. Então por que os caminhões de empresas como a AmBev, a Sadia e outras tantas entram nas favelas para fazer entregas em mercadinhos e botecos, que obviamente são ilegais? Ilegais até que ponto? Eu me pergunto se a Sadia circula com mercadorias para entrega sem nota fiscal... Será? Ou será que a prefeitura já está permitindo cadastrar na junta comercial CNPJs de empresas localizadas em lugares que não têm endereço formal? Eu tenho tantas perguntas sem resposta sobre esse mundo paralelo que co-habita nossa cidade...
 
No Complexo do Alemão, a Tim já oferece modelos de celulares para todos os gostos, do 3G aos pré-pagos, depois de fazer uma parceria com um morador que tinha uma pequena loja de varejo
Continuando, as favelas são um mundo à parte do nosso mundo de classe média que paga imposto. Lá há comércio, telefones, internet banda larga, TV a cabo, o grande crediário das Casas Bahia (que já entregaram centenas de TVs LCD, geladeiras dúplex inox, microondas e outras coisas afins em lares de inúmeras “comunidades” Rio de Janeiro afora). Lá, nas favelas, o morador não paga IPTU, luz, água, taxa de Incêndio, nada. Lá, nas favelas, existe também uma coisa preciosa nos dias atuais, as benesses do governo paternalista (e demagogo, sim, porque todo paternalismo é demagogia) em forma de "cestas-tudo".
Eu conheço pessoas que prestam serviços em minha casa, como eletricistas, empregada doméstica, bombeiros hidráulicos e outros, que repetem o mesmo discurso: "E por que eu vou sair da “MINHA” casa que comprei com tanto sacrifício? Lá eu não pago nada, a cesta básica é uma mão na roda, minha mulher já nem precisa mais trabalhar."
É neste momento que penso no DARF que está na minha gavetinha, grampeado ao comprovante de pagamento do IR. Mas eu NÃO sou coitadinha, ao contrário, eu sou o "lobo-mau" da história, parte da elite que teve todas as oportunidades que os “verdadeiros” coitadinhos não tiveram. Por isso, estamos todos condenados a arder no fogo eterno da Receita Federal. Essa é a lógica da "JUSTIÇA" carioca e brasileira. Às vezes, dá vontade de jogar a toalha.
Vou ser obrigada a deixar aqui uma citação do século XVI, que nunca esteve tão atual. "Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas. O reformador tem inimigos em todos os que lucram com a velha ordem e apenas defensores tépidos nos que lucrariam com a nova ordem." Nicolau Maquiavel

sábado, 21 de agosto de 2010

A China será a próxima potência do globo?

Conjecturar sobre que país será a próxima potência e terá influência mundial é muito complicado. É sempre interessante fazer uma visita à história geral. Se olharmos como outras potências no passado impunham sua cultura às demais, veremos que sempre o fizeram pela força. O império romano, depois os otomanos e, finalmente, os ingleses, que foram impérios por vários séculos, sempre impuseram suas culturas através da força. Os espanhóis e os portugueses dominaram por períodos muito curtos e não chegaram a ser considerados potências mundiais Os estadunidenses, atualmente, também não são diferentes, apesar de não estarem "oficialmente" expandindo as suas fronteiras hoje (já estiveram anteriormente, vide Porto Rico, Ilhas Virgens etc), como tentaram os impérios do passado.
O domínio de uma nação atualmente tem por base três princípios. O poder militar, o poder da tecnologia e o poder econômico.

US Navy Sea Shadow stealt
Historicamente, quem domina os mares, domina o mundo. A marinha dos EUA é maior do que a do resto do mundo (talvez juntas) e domina todos os mares. Não vamos nos esquecer que, na America do Sul, em 2008, foi reativada a Quarta Frota do Atlântico Sul, que estava desativada há mais de 50 anos. Até a II Grande Guerra, era a Marinha Britânica que dominava os mares. O ponto é que os portos do Atlântico Norte, que até hoje são os mais importantes do mundo, mudaram de mãos nesta época. Esse foi o preço que os britânicos pagaram para terem os EUA na guerra. Para desenvolver uma marinha que possa, talvez, fazer frente à dos EUA, seriam necessários, de acordo com especialistas, uns 30 anos. Estes mesmos especialistas não mencionam o país que estaria mais próximo deste feito. A China tem investido muito na área militar, mas está muito longe disso.
Resultado de algumas leituras que andei fazendo, ainda segundo especialistas, além de dominar os mares, o segundo fator utilizado pelos EUA para "manter" este domínio é desestabilizar qualquer país que esteja se tornando líder regional e não esteja alinhado com os interesses estadunidenses. Apesar de muita gente achar que a invasão do Iraque foi um erro ou que foi por conta do petróleo (não que estes não sejam fatores relevantes), a razão foi desestabilizar o Oriente Médio. Para quem vê de fora, parece que foi um desastre, mas na realidade, estrategicamente, foi um sucesso. Se atacarem o Irã no futuro, também será pelas mesmas razões. Pessoalmente, acho que o Lula anda apertando a mão de pessoas que ele não deveria, pois que, assim, ele está batendo de frente com os interesses dos EUA cada vez mais. Sua última proeza ao oferecer asilo à mulher condenada à morte no Irã, certamente com intenções nobres, foi desastrosa. Se existia uma oportunidade de ele se calar, era aquela. O ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, chamou o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de “ditador” e criticou a forma como o governo do presidente Lula trata o caso da viúva iraniana. José Serra acusou Dilma de nunca ter dito “uma palavrinha áspera com relação ao Irã” e agora para o governo Lula “o Irã é àquela ditadura fascista e feroz”. Que bela confusão.
Voltando aos especialistas... Dizem ainda que a China hoje exerce um poder regional na Ásia, sem que tenha como se impor muito, porque o seu vizinho, o Japão, tem seus próprios interesses e não tem recursos naturais. Portanto, a tendência é o Japão começar a disputar espaço com a China e, possivelmente, se militarizar novamente. Dizem que este pode ser o conflito que os americanos estão apostando que acontecerá para desestabilizar a região. Bem... O PIB do Japão acabou de ficar menor do que o da China, mas eu não apostaria nessa teoria. Não é impossível, mas é improvável, na minha modesta opinião de leiga.
No quesito domínio tecnológico, acredito que a distância seja ainda maior do que na questão anterior. Se olharmos todas as tecnologias que deverão dominar o mundo nas próximas décadas, são todas elas preponderantemente de empresas estadunidenses. Um estrategista afirmou recentemente que nas próximas décadas, as marinhas atuarão de modo diferente do que vemos hoje, porque todos os seus controles serão feitos do espaço, através de satélites. Portanto, o cenário sofreria uma alteração considerável. Quem hoje estiver dominando os mares, não necessariamente, dominará o mundo num futuro próximo, pois dominará o mundo quem dominar o espaço. Apesar de no atual governo os EUA não estar envidando todos os esforços no desenvolvimento espacial, eles estão à frente dos demais países em investimento, tecnologia, propriedade intelectual etc. Vamos a um exemplo prático, energia, que hoje tem no petróleo a sua maior fonte, já está caminhando para, no futuro, ter o sol como principal fonte. Porém, com placas de captação no espaço e não no solo. Isso hoje já existe e quem deteria essa tecnologia seriam os EUA.
Na área de tecnologia da informação, cloud computing, que deve ser a próxima grande tecnologia difundida, todas as empresas são estadunidenses. Nesse ponto eu acredito, sim, que a China estará sempre um passo atrás, copiando...

Pequim, a China dos espigões e de imagem capitalista
Somente no quesito poder econômico, derivado do consumo, a China poderá fazer frente aos EUA, podendo até ser um eventual líder. Contudo, ainda não sabemos o que vai acontecer quando a bolha imobiliária da China estourar e a moeda começar a flutuar. O problema lá pode ser pior do que foi nos EUA quando isto acontecer, podendo até mesmo mudar o cenário atual por muitos anos. Se mais uma vez, fizermos uma visita à história geral, veremos que, historicamente, a China costuma não conseguir ficar unida como hoje por muito tempo. Há os que acreditam que é só questão de tempo até que ela se divida novamente. Esses especialistas... Não sei não. O dinheiro está mudando de mãos no mundo inteiro e eu acho que pouquíssimas pessoas estão se dando conta disso. E então vou deixar aqui o meu “achismo”. O que eu estou chamando de “mudar de mãos” é o fato de não haver apenas classes emergentes em um ou outro país, mas sim vários países inteiros emergentes. Hoje é o BRIC, depois alguns outros e acredito que isso será um processo natural de evolução do mundo e dos seus habitantes.

O contraste da periferia da cidade de Pequim
O planeta não suportará mais um hemisfério sul miserável para poder sustentar o fausto e a qualidade de vida do hemisfério norte. O mundo está com a taxa de natalidade caindo e isso não terá volta. Só que os EUA não serão o único país com capacidade de atrair imigrantes. Hoje a Europa vive um problema social sério, que começou há uns quase 20 anos, com a imigração descompassada de cidadãos de suas ex-colônias. Como na Europa em geral o tamanho do estado na economia é notável, e é isso que proporciona um estilo de vida generoso à sua sociedade, a imigração está caminhando a passos largos para a asfixia do sistema social europeu. Isso implica na necessidade de reformas na previdência social, na quantidade de empregos estatais, na pequeníssima quantidade de horas diárias trabalhadas pelos europeus e em um controle apurado da imigração. Os europeus estão indignados perante às reformas que, paulatinamente estão acontecendo. Contudo, eu estou convicta de que o mundo não conseguirá mais ter tantos excluídos em países ditos subdesenvolvidos para que a Europa possa se dar ao luxo de abrir o comércio às 10h da manhã e fechar às 19h; de estabelecimentos comerciais colocarem avisos de que estarão fechados por 30 dias porque todos os empregados estão em férias de verão simultaneamente.
Também por conta dessa situação na Europa é que eu acho que a China pode ter algum fôlego para enfrentar os EUA na questão do poder econômico.
No mais, na minha visão, a China continuará a ser apenas o ‘C’ do BRIC por um bom tempo ainda.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vigiai e Orai !!!

Humoristas de programas de TV, rádio e espetáculos teatrais vão promover um protesto, no próximo domingo, no Rio, contra uma norma que proíbe a veiculação, por rádio ou TV, de entrevistas ou montagens que "degradem ou ridicularizem" candidatos.
A emissora que veicular programa com esse teor pode ser multada pela Justiça em até R$ 106.410, valor que dobra em caso de reincidência.
A norma, que consta da lei 9.504/97 e foi regulamentada por resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), vale desde 1º de julho até o fim do período eleitoral.
O que vocês acham dessa, pessoal? Ué... Um partido, que se diz de esquerda, edita uma norma dessas? É para concorrer com os humoristas? Só pode ser, porque se isso não é uma piada, o que mais poderia ser? Não poder falar sobre os candidatos, durante o período pré-eleitoral, não é aquilo que o pessoal de esquerda tanto bradou contra? A bruxa da Censura está de volta?!?!
Ahann... Então, isso quer dizer que, se eleito, este partido fará com que o fantasma da ditadura volte a nos assombrar? Então só nos resta “vigiai e orai”. Em outras palavras, “vigiai e não votai”. 

Fábio Porchat
Fábio Porchat, que compõe o grupo cômico de teatro "Comédia em Pé", está liderando juntos com vários outros humoristas, uma passeata, "Humor sem Censura", que será realizada na praia de Copacabana (zona sul), às 15h de domingo, dia 22.
A concentração será em frente ao hotel Copacabana Palace. Em seguida, os manifestantes seguirão a pé até o Leme, onde vão ler o manifesto "Humor sem Censura" e recolher assinaturas para um abaixo-assinado, que será entregue ao ator Sérgio Mamberti, presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes).
Mamberti deve encaminhar o documento ao ministro da Cultura, Juca Ferreira. O objetivo dos humoristas é que, a partir desse abaixo-assinado, Juca discuta a situação com o TSE para que a regra seja revertida.
Segundo os organizadores do evento, integrantes do "Rock Bola", "Pânico", "Casseta & Planeta", "Os Caras de Pau", "Melhores do Mundo", "Zorra Total", "Clube da Comédia", "Os Barbichas" e "Plantão de Notícias" já confirmaram participação na passeata. Também são aguardados Danilo Gentili ("CQC"), Marcos Mion ("Os Legendários"), Marcelo Adnet, Bruno Mazzeo, Leandro Hassum, Paulo Bonfá, Fabiana Karla e o cartunista Chico Caruso. Sites de humor, como Kibe Loco, Jacaré Banguela, Anões em Chamas, dentre outros, também estarão representados no evento. Ainda estão sendo convidados redatores de humor da TV, rádio e jornais, além de humoristas dos espetáculos em cartaz nos teatros.
Esse manifesto deveria estar na Internet também, a exemplo do “Ficha Limpa”. Todos devemos assinar e mostrar que o cidadão brasileiro não vai mais aceitar esse tipo de autoritarismo goela abaixo, principalmente partindo de quem se diz “O Representante do POVO”.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A Dama dos Diamantes Negros

Prezados leitores, atendendo a alguns pedidos que me foram feitos por e-mail vou publicar hoje uma matéria da revista Veja de 13/01/2010, quando do lançamento do livro de Claudia Lage, Os Mundos de Eufrásia. Já falei aqui no blog da sua história de vida riquíssima e surpreendente. Como nunca é demais falar de Eufrásia, compartilho com vocês esta matéria da Veja na qual há um pouco da mesma história vista por outro ângulo. Estou certa de que todos vão gostar.


Revista Veja de 13 de janeiro de 2010
Não havia outra como ela
Nabuco amou a única mulher que estava no mesmo patamar que ele - e, talvez exatamente por isso, nunca se casaram.
Eufrásia, a Dama dos Diamantes Negros
Eufrásia, a amada: bela, elegante, apaixonada e boa investidora, mas sempre protelando o casamento.
Um amor tempestuoso, complicado e globalizado por uma mulher tão fora dos padrões da época que, apesar da paixão mútua e incendiária, não quis se casar com ele. Difícil inventar história pessoal melhor para acompanhar a prodigiosa carreira pública de Joaquim Nabuco do que seu caso do tipo vai e volta com Eufrásia Teixeira Leite, provavelmente a única mulher de seu tempo que manteria um diálogo de igual para igual com ele. E que diálogo. As cartas iam e vinham, ao sabor das brigas e reatamentos. Ela saiu do casarão de 22 cômodos em Vassouras e foi morar em Paris. Não queria voltar para o Brasil. Ele ia e não ficava: França, Itália, Inglaterra, Estados Unidos. Não conseguia não voltar para o Brasil. Ela já era rica e ganhou mais dinheiro ainda no exterior. Transformou-se em investidora profissional: especulava com commodities, comprava títulos públicos, passava os dias trancada no escritório. Ele, com as finanças sempre apertadas, era sugado para o palco público da política. Ela oferecia ajuda para financiá-lo - imaginem isso no século XIX. "Eu tenho algum dinheiro e não sei o que fazer dele, compreende que me é muito mais agradável emprestar a si que a um desconhecido", escreveu, friamente, tentando fingir que propunha um negócio interessante para não ferir o delicado ego masculino. Ele, claro, ficou ofendidíssimo. Brigaram, voltaram.
Na biografia romanceada Mundos de Eufrásia (Editora Record), a autora Claudia Lage reconstitui o conturbado relacionamento. Nabuco e Eufrásia conheceram-se num passeio em família na enseada de Botafogo, ela com 12 anos, ele com 13 - idade suficiente para iniciar uma galanteadora correspondência. Aos 15, o jovem Quinquim parou de escrever. Oito anos depois, eles se reencontraram num recital de poesia no Rio. Eufrásia já uma mulher "aprumadíssima, elegante, linda", segundo um biógrafo, o busto, como se dizia pudicamente na época, projetado, cinturinha afinada no espartilho, suntuosa cabeleira negra, sobrancelhas grossas e marcantes. Claudia Lage imagina o reencontro dela com Nabuco como uma daquelas cenas românticas em que apenas um beijo na mão desencadeia carga erótica arrepiante: "Beijou ávido e longamente a palma, como se sorvesse, resistindo ao impulso maior de sair daquela parte e beijá-la inteira".
Aqui abro um parêntese para esclarecer que Nabuco e Eufrásia nunca se conheceram antes da viagem no navio a caminho de Paris em 1873. Volto a dizer que o livro maravilhoso de Claudia Lage é uma biografia romanceada de Eufrásia. Entretanto, tudo o que aconteceu entre os dois no navio Chimborazo é muito provável de ser verdadeiro, já que as cartas de Eufrásia para Nabuco são reveladoras e estão guardadas na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
As fãs de Crepúsculo podem parar por aqui. Pois, ao contrário do que se poderia imaginar num namoro do século XIX, as coisas entre Eufrásia e Nabuco evoluíram, e muito. Para Claudia Lage, o romance passou dos salões aos lençóis quando os dois viajaram juntos de navio, o Chimborazo, para a Europa. É possível, pois muitos anos depois, numa volta passageira ao Brasil, ela escreveu: "Não sei que influência tem na sua vida a viagem do Chimborazo. Eu por certo sem ela não estaria aqui". Em Paris, eles combinaram casamento pela primeira vez. Depois, desmancharam, iniciando um ciclo que se repetiria nos catorze anos seguintes. Sobre os motivos da indecisão de Eufrásia, os biógrafos tendem a achar que ela cedia a uma promessa feita ao pai, que no leito de morte pediu às filhas que não se casassem. Além da natureza estranha do pedido, ainda mais à época, pesa contra o fato de que Eufrásia já era livre, rica e independente. Nem a família de barões da região de Vassouras, à direita de Gêngis Khan, poderia impedi-la.
Os planos de casamento foram muitas vezes retomados. Mas coração era uma coisa, cabeça outra. Existem, sim, mulheres que, como os homens, pesam os prós e os contras do casamento em relação à liberdade - e à solidão - da vida sem um par. Quando esteve no Rio, hospedada num hotel retirado para preservar a intimidade, derreteu-se. Ele teve de partir em campanha eleitoral, ela de repente decidiu voltar a Paris. Nabuco ficou sem mulher, sem dinheiro e perdeu outra eleição. Acusou-a de abandoná-lo e fazê-lo sofrer. "Tenho mil saudades, nem penso em outra cousa senão na Tijuca, no hotel dos Estrangeiros e em tudo o que se passou", respondeu Eufrásia. Novamente, ele a pediu em casamento. Novamente, ela desconversou - "Casar-me logo, isso infelizmente não posso lhe dizer". Cada vez mais rica, ela se vestia com Charles Frederick Worth, o inglês radicado em Paris que inventou a alta-costura, e ganhou o apelido de "dama dos diamantes negros" por causa da moda de usar jóias costuradas na roupa e presas nos cabelos.

Joaquim Nabuco
Nabuco não era nenhum santo. Enquanto durou o romance com Eufrásia, namorou senhoras casadas, flertou com beldades solteiras e manteve fogosa correspondência com Sarah Bernhardt, a Madonna da época. Da primeira vez que esteve em Washington, como diplomata, queixou-se: "Fora do casamento não há nada aqui". Tinha falta das aventuras extraconjugais. Por causa da paixão por Eufrásia, ficou solteiro até a avançadíssima idade de 39 anos. Por fim, casou-se com a jovem Evelina, de boa família e disposição dócil, em tudo diferente de Eufrásia. Sem falar no dote de 30 000 libras, que ele torrou quase imediatamente: aplicou tudo no que se revelaria, ao longo dos tempos, um dos piores investimentos do mundo, títulos da dívida pública argentina. Ao contrário de Eufrásia, Nabuco não entendia nada do assunto. Evelina o acompanhou na etapa pós-Abolição, quando voltou para a diplomacia e para a religião. "Minha mulher e meus filhos formam o círculo dentro do qual sou intangível. Quanto mais esse círculo nos protege, mais nos aperta", escreveu em 1893. Não foi disso, afinal, que Eufrásia tentou fugir?

Mais adiante postarei, fazendo justiça a ambos, um texto sobre a vida e a grande obra de Joaquim Nabuco, visto que poucos conhecem sua obra literária, que o levou à cadeira 27 da ABL, seu trabalho como diplomata, sua bela amizade com Machado de Assis. Enfim, uma vida de conteúdo especial como era característico aos que viveram no século XIX. 




domingo, 15 de agosto de 2010

Transportes Públicos na Lagoa Rodrigo de Freitas???

25/07/2010 14h48 - Atualizado em 25/07/2010 19h17
Projeto quer implantar transporte público na Lagoa Rodrigo de Freitas
Barcos poderiam ligar Praia de Ipanema à entrada do Túnel Rebouças.
Intenção também é elevar Jardim de Alah para construção de garagem.
Bernardo Tabak, Do G1 RJ

Há uns 10 dias, vi em um dos fóruns de debates do qual participo, o tópico acima. Este artigo foi publicado no G1, o Portal da Rede Globo na Internet.
Fiquei contente ao ler todos os posts e saber que estamos todos pensando de forma semelhante. Isso é sinal de que estamos todos refletindo mais acerca dos problemas da nossa cidade.
Três dos participantes disseram o seguinte: “Tenho realmente dúvidas sobre a utilidade do projeto do ponto de vista de transporte público. Não há volume de público circulante entre os pontos sugeridos na Lagoa e, portanto, o projeto não agrega valor no aspecto transporte urbano. O que pode haver é uma maior e melhor utilização do espaço para fins turísticos e de lazer, mas não gostaria de ver dinheiro do contribuinte nisso”. “Além disso, a prática de esportes dentro da Lagoa ficaria prejudicada. Não da para remar e velejar na lagoa com trânsito de barcos, de transporte coletivo. O cenário com os equipamentos esportivos (caiaques, skifs, optmists, wake board e, mais recentemente, stand up paddle) é muito mais agradável e saudável”. “Um projeto desse tipo teria mais utilidade entre pontos da Baía de Guanabara com São Gonçalo, Ilha do Governador e Universitária, Praça XV, Paquetá e Niterói. O problema é que os arquitetos se concentram demais na privilegiada Zona Sul e o Rio precisa focar nas zonas adjacentes à Baía”.
Na Ilha só barcas tradicionais, nenhum catamarã.
E o meu comentário. Um item a ser considerado é que, antes de qualquer coisa, o primeiro movimento, no sentido de tentar melhorar o trânsito do Rio, deve passar por uma re-estruturação das linhas de ônibus. Todos sabemos que na zona sul há mais linhas de ônibus do que o necessário. Já na zona norte e, principalmente na zona oeste, é o contrário.
Dispensa comentários, não?
Isso para ser leve no comentário, pois o correto mesmo seria investir em trens urbanos e metrô, eles são transportes que não poluem e contribuem para diminuir a quantidade de veículos transitando apenas com o motorista nas ruas da cidade. Aliás, ferrovias são necessárias no Brasil inteiro, para passageiros e carga, principalmente. Os europeus já usam essa "geringonça" desde o século XIX. Sei que não é o mais barato dos transportes, mas é o de mais qualidade e eficiência, o que significa inteligência na gestão dos recursos públicos. Por que “cargas d'água” o Brasil escolheu as rodovias como prioridade total? Será que foi a invasão das montadoras no pós-guerra?
Acho que vou morrer sem entender porque cidades como São Paulo e Rio só começaram as obras de seus respectivos metrôs mais de 60 anos depois de Buenos Aires, que começou a trilhar seu subsolo apenas 13 anos depois de Paris (que teve sua 1ª linha de metrô inaugurada em 1900). Antes dela, só Londres já tinha metrô.
Depois de passarmos pela demolição do Monroe em 1976, ainda não temos metrô suficiente.
Hoje, o sistema de metrô de Paris serve à grande população que se utiliza de transporte de massa, tendo seu metrô e sistema de trens urbanos integrados. E integrado lá não é colocar um ônibus soltando fumaça pela cidade para levar passageiros de um ponto a outro, quando estes não são servidos pelo sistema ferroviário. A integração lá significou unificar todas as linhas dos trens com as do metrô (RER, SNCF e metrô). O passageiro que compra passes semanais ou mensais paga menos por passagem unitária. No Brasil, você compra aqueles dispositivos para pedágios e estacionamentos em shoppings, com pagamento mensal, e tem desconto ZERO nas tarifas.
Quanto às barcas e catamarãs mencionados, posso falar de cadeira, pois moro na Ilha do Governador e desde criança ouvia falar que as barcas "iam sair". Quando as barcas, finalmente, apareceram foi muito bom. Elas saíam a cada 30 minutos pela manhã e à tardinha. Durante o dia havia um espaço de tempo maior. Passados uns dois anos, retiraram os catamarãs, e os horários passaram a ter intervalo de 1 hora entre as barcas. Para sair da Ilha a 1ª barca sai às 07:00h, a 2ª às 08:00h e depois só às 09:20h. Para voltar do Centro para a Ilha após as 17h, você tem os seguintes horários: 17:30h e 18:40h, sendo que há uma barca às 19:50h, que só funciona às sextas-feiras. Nos fins de semana e feriados não há barcas para a Ilha. O tempo de travessia é de 55 minutos até a Praça XV. Isso tudo sem considerar que o terminal fica em um ponto distante na Ilha, quem não mora perto do terminal, não tem vantagem neste transporte.
Estação da Leopoldina, foto de Augusto Malta em 1928.
Estação da Leopoldina hoje, degradação total.




Antes de seu trágico fim, a Leopoldina já foi assim.
E assim !!!
Vocês acreditam no tão prometido "trem bala"?
Eu vejo a Estação de trens da Leopoldina em estado de ruína e tendo o seu recuo da entrada sendo utilizado para ponto final de vans, e os pontos de ônibus bem a sua frente, abarrotados de veículos que atrapalham o trânsito. E ainda aparece alguém do poder público, que nem quero saber de onde possa ser, e anuncia nos jornais que pretendem transformar a Av. Rio Branco em uma rua de pedestres!!! E por onde passará o tráfego que hoje utiliza a Rio Branco? Eu não sou especialista em engenharia de trânsito, mas não me lembro de nenhum caminho mágico que leve o trânsito do Centro da cidade para a zona sul além dos que já temos, e mesmo assim, são caminhos de trânsito bastante pesado.
O Rio conseguiu sair do caos dessa foto de 1965. Hoje não há justificativa.

A opção errada pela total prioridade das rodovias em detrimento das ferrovias.
Portanto, por gentileza, nem me lembrem que essas maravilhas do mundo moderno, se executadas, o serão com o dinheiro do meu IR, OK?! Só para eu não entrar em depressão.
Um outro participante do fórum disse: “Moro no entorno da Lagoa e não vejo necessidade alguma de uma conexão marítima entre os bairros adjacentes, seria queimar dinheiro do contribuinte em um projeto que não agregaria nada à cidade e tampouco ao bairro.
Além do mais, a profundidade da Lagoa não passa de 1,0m, outro ponto discutido por engenheiros é sobre o lodo que compõe o seu fundo, retirando-o poderia desestabilizar a contenção de seu entorno e provocar um deslizamento.
Equacionar o trânsito é rever as concessões das linhas de ônibus e ampliar as linhas do metro, ampliar quer dizer criar novas linhas e trajetos, aumentando a capilaridade desse modal, não é aumentar uma linha existente e saturada”.
Que falta fazem os acidentes sérios de automóveis nos anos 1920
Será que só os responsáveis pelos projetos é que não vêem todos esses pontos? Será que nós é que precisamos aumentar o grau dos nossos óculos? Não pode ser. Essas pessoas eu conheço e são profissionais sérios. E toda vez que chegamos perto do dia das eleições, tentamos fazer o nosso melhor e, mesmo assim, ainda passamos por coisas desse tipo, só para citar um exemplo. Não vou nem entrar em outras searas. Espero não ter de me pegar achando que só a divina providência pode ajudar os cariocas. Eu quero a minha Paris tropical dos anos 1930 de volta!!! 
A Cinelândia nos anos 1920, uma Paris tropical.