Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife, em 19/08/1849 e faleceu em Washington, em 17/01/1910. Foi político, diplomata, historiador, jurista, jornalista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Joaquim Nabuco ainda bem jovem |
Desposou Evelina Torres Soares Ribeiro, filha de José Antônio Soares Ribeiro, 1º barão de Inoã, e neta de Cândido José Rodrigues, 1º barão de Itambi. Dessa união nasceram: Maurício, que foi diplomata e, como o pai, embaixador do Brasil nos EUA; Joaquim, que foi sacerdote da Igreja Católica, chegando a ser Monsenhor e Protonotário Papal; Carolina, escritora de renome; Mariana e José Tomas, este casado com Maria do Carmo Alvim de Mello Franco Nabuco, filha de Afrânio de Mello Franco, primeiro Ministro das Relações Exteriores do governo de Getúlio Vargas.
Causa de Uma Vida
Joaquim Nabuco se opôs de maneira veemente à escravidão, contra a qual lutou tanto por meio de suas atividades políticas quanto de seus escritos. Fez campanha contra a escravidão na Câmara dos Deputados em 1878 e fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira, sendo responsável, em grande parte, pela Abolição em 1888.
A abolição da escravatura, no entanto, não deveria ser feita de maneira ruptúrica, ou violenta, mas assentada numa consciência nacional dos benefícios que tal resultaria à sociedade brasileira, era o pensamento de Nabuco.
Nabuco, ao lado de Ruy Barbosa, assumiu posição de destaque na luta pela liberdade religiosa no Brasil que, na época, tinha a religião católica como oficial, constituindo-se em um Estado confessional. Assim como Ruy Barbosa, Nabuco defendia a separação entre Estado e Religião, bem como a laicidade do ensino público.
Papa Leão XIII |
Em um discurso proferido em 15 de maio de 1879 que abrangia tanto o tema da educação pública, quanto o da separação entre Estado e Religião, a um aparte de vários deputados, responde: "Eu desejava concordar com os nobres deputados, em que se deveria deixar a liberdade a todas as seitas; mas, enquanto a Igreja Católica estiver, diante das outras seitas, em uma situação privilegiada (…), os nobres deputados hão de admitir que (…) ela vai fazer ao próprio Estado, de cuja proteção se prevalece, uma concorrência poderosa no terreno verdadeiramente leigo e nacional do ensino superior. Se os nobres deputados querem conceder maiores franquezas, novos forais à Igreja Católica, então separem-na do Estado. É a Igreja Católica que em toda a parte pede a liberdade do ensino superior. Essa liberdade não foi pedida em França pelos liberais; mas pela Igreja. (…) E porque reconheça que o ensino deva ser livre? Não. Aí está o Syllabus que fulmina de excomunhão quem o sustentar. O que ela pretenderia é a partilha do monopólio para, quando achar-se senhora exclusiva (…), fechar a porta à liberdade e à ciência."
Em um trecho memorável, expressa: "A Igreja Católica foi grande no passado, quando era o cristianismo; quando nascia no meio de uma sociedade corrompida, quando tinha como esperança a conversão dos bárbaros, que se agitavam às portas do Império minado pelo egoísmo, corrompido pelo cesarismo, moralmente degradado pela escravidão. A Igreja Católica foi grande quando tinha que esconder-se nas catacumbas, quando era perseguida. Mas, desde que Constantino dividiu com ela o império do mundo, desde que de perseguida ela passou a sentar-se no trono e a vestir a púrpura dos césares, desde que, ao contrário das palavras do seu divino fundador, que disse: O meu reino não é deste mundo, ela não teve outra religião senão a política, outra ambição senão o governo, a Igreja tem sido a mais constante perseguidora do espírito de liberdade, a dominadora das consciências, até que se tornou inimiga irreconciliável da expansão científica e da liberdade intelectual do nosso século!"
E o orador termina com assegurar que não é inimigo do catolicismo-religião, e sim do "catolicismo-política". "Não sou inimigo da Igreja Católica. Basta ter ela favorecido a expansão das artes, ter sido o fator que foi na história, ser a Igreja da grande maioria dos brasileiros e da nossa raça, para não me constituir em seu adversário. Quando o catolicismo se refugia na alma de cada um, eu o respeito; é uma religião da consciência, é um grande sentimento da humanidade. Mas do que sou inimigo é desse catolicismo político, desse catolicismo que se alia a todos os governos absolutos, é desse catolicismo que em toda a parte dá combate à civilização e quer fazê-la retroceder".
Nabuco, no meio, entre alunos da diretoria do Centro Acadêmico da Faculdade do Largo de São Francisco, que dirigiu. |
Após passagens rápidas pela imprensa carioca, onde iniciaria carreira como jornalista, Nabuco publicou, em 1872, o primeiro livro, Camões e os Lusíadas. Entra então no serviço diplomático, como funcionário do governo imperial. Vive três anos fora do País, trabalhando como adido de primeira classe em Londres, depois em Washington.
Volta ao Rio como deputado geral pela província de Pernambuco. O retorno marca o início de uma campanha em favor do Abolicionismo, da qual ele seria uma das figuras centrais. Porém, a iniciativa de instalar em sua própria casa a Sociedade Brasileira contra a Escravidão aprofunda as divergências com seu partido e inviabiliza a reeleição.
Em 1883 parte para nova temporada no exterior - um “exílio voluntário”, segundo suas próprias palavras. Em Londres, trabalha como advogado e correspondente do Jornal do Commercio. Um ano depois, publica O Abolicionismo. Volta ao Brasil em 1885, assumindo novamente o cargo de deputado por Pernambuco e a liderança da campanha pela Abolição. Participa ativamente da promulgação da Lei dos Sexagenários. Seus discursos seriam reunidos no livro A Campanha Abolicionista, de 1885.
O esforço em prol da Abolição, que incluiu uma visita ao papa Leão XIII, pedindo a manifestação do pontífice em favor do fim da escravidão no mundo, encontro que geraria, no mesmo ano, uma encíclica papal sobre a causa, seria coroado com a Abolição da Escravatura no Brasil, em 1888.
Abolicionista Porém Monarquista
Após a derrubada da monarquia brasileira retirou-se da vida pública por algum tempo.
Nessa época estreita relações com diversas personalidades da literatura nacional, Machado de Assis, Maciel Monteiro, Lúcio de Mendonça, José Veríssimo. Dessas amizades nasceram o projeto e a fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, da qual foi secretário-geral.
Nabuco foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, tomando assento na cadeira 27, que tem por patrono Maciel Monteiro.
Entre os imortais, manteve uma grande amizade com o escritor Machado de Assis, que mantinha até mesmo um retrato de Nabuco pendurado na parede de sua residência, e com quem costumava trocar correspondências, que acabaram publicadas.
Joaquim Nabuco ma ABL |
Entre os imortais, manteve uma grande amizade com o escritor Machado de Assis, que mantinha até mesmo um retrato de Nabuco pendurado na parede de sua residência, e com quem costumava trocar correspondências, que acabaram publicadas.
Quando Machado de Assis morreu, um de seus amigos, José Veríssimo, escreveu um artigo em sua homenagem. Numa explosão de admiração pelo homem de origens modestas e ancestrais negros que tornara-se um dos maiores romancistas do século, Veríssimo violou uma convenção social e referiu-se a Machado como o mulato Machado de Assis. Joaquim Nabuco, que leu o artigo, rapidamente percebeu o faux-pas e recomendou a supressão da palavra, insistindo que Machado não teria gostado dela. “Seu artigo no jornal está belíssimo” – escreveu a Veríssimo – “mas esta frase causou-me arrepio: mulato, foi de fato grego da melhor época. Eu não teria chamado o Machado de mulato e penso que nada lhe doeria mais do que essa síntese. Rogo-lhe que tire isso quando reduzir os artigos a páginas permanentes. A palavra não é literária e é pejorativa, basta ver-lhe a etimologia. O Machado para mim era um branco e creio que por tal se tomava…”
Joaquim Nabuco e Machado de Assis, grandes amigos |
Grande era o seu prestígio perante o povo e o governo norte-americano, manifestado em expressões de admiração dos homens mais eminentes, a começar pelo Presidente Theodore Roosevelt e pelo Secretário de Estado Root; e na recepção das Universidades, nas quais proferiu uma série de conferências, sobre cultura brasileira.
Em 1908 recebeu o grau de doutor em letras por Yale, e foi convidado a pronunciar o discurso oficial de encerramento do ano letivo ou dia da colação dos graus da Universidade de Chicago, e um discurso oficial na Universidade de Wisconsin. Quando faleceu, em Washington, seu corpo foi conduzido, com solenidade excepcional, para o cemitério da capital norte-americana, e depois foi trasladado para o Brasil, no cruzador North Caroline. Do Rio de Janeiro foi transportado para o Recife, sua cidade natal.
(*) Na carta lê-se:
The White House
My Dear Mr. Ambassador:
Carta de Theodore Roosevelt (*) |
(*) Na carta lê-se:
The White House
Washington
May, 22, 1907
My Dear Mr. Ambassador:
Let me again thank you for the book, now so valueable not only in itself but because of having the name of the donor in it.
With all good wishes, believe me,
Faithfully yours,
Theodore Roosevelt
Mr. Joaquim Nabuco,
The Brazilian Ambassador,
Lafayette Square,
Washington, D.C.