domingo, 19 de setembro de 2010

O que é cidadania, afinal?

Nunca se falou tanto sobre cidadania, em nossa sociedade, como nos últimos anos. Mas afinal, o que é essa tal cidadania? O ideal seria termos tempo e espaço para discorrer sobre o conceito não só de cidadania, mas também o de cidadão, o de ética, o de democracia, o de política, o de meio ambiente, o de direitos humanos etc. Como isso não é possível, vou focar na tão propalada cidadania.
Segundo o Dicionário, "cidadania é o exercício consciente da condição de cidadão; atuação na sociedade, em defesa da ampliação e fortalecimento da cidadania", entende-se por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este".
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos - aquele que habita na cidade.
No sentido ateniense do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia, reunião dos chamados de dentro para fora, na Ágora, praça pública, onde se agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo. Dentro desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da população determinavam os destinos de toda a Cidade, pois eram excluídos os escravos, mulheres e artesãos.
São várias as definições, mas cidadão é a pessoa que tem Direitos e Deveres, exercendo-os na sociedade em que vive. Já a cidadania é o exercício da conquista desses direitos e do cumprimento dos deveres. É um campo social e político em permanente construção, no qual as pessoas participam como integrantes de uma coletividade.
Estacionar em cima do gramado do AIRJ, será que é uma nova moda?
Vamos refletir sobre o que representa o cidadão, no contexto do mundo em que vivemos. Somos integrantes de um mundo constituído pela nossa família, cidade e pátria, onde vivemos e convivemos uns com os outros. O verdadeiro cidadão procura zelar pelo bem público, respeitar as pessoas e os locais onde freqüenta. Podemos dizer ainda que para cada direito corresponde também um dever e vice-versa.
• O dever de respeitar e o direito de ser respeitado;
• O direito de viver e o dever de respeitar a vida;
• O dever de trabalhar e o direito de exercer qualquer atividade honesta.

Este é um KIA Soreto com placa do Rio de Janeiro KXK-3669
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. A cidadania começa no “pequeno” gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar os sinais e placas etc.

O outro carro é de um paulista apressado de Guarulhos.
Na Grécia antiga, toda a sociedade da civilização apresentava a dicotomia cidadão e não-cidadão. As pesquisadoras Maria Efigênia Lage de Resende e Ana Maria de Moraes, dizem que:
“A cidadania era para os gregos um bem inestimável. Para eles a plena realização do homem se fazia na sua participação integral na vida social e política da Cidade-Estado”. “...só possuía significação se todos os cidadãos participassem integralmente da vida política e social e isso só era possível em comunidades pequenas”.
Com a decadência do Império Romano, e adentrando a Idade Média, ocorreram profundas alterações nas estruturas sociais. O período medieval é marcado pela sociedade caracteristicamente estamental, com rígida hierarquia de classes sociais, clero, nobreza e servos. A Igreja Cristã passou a constituir-se na instituição básica do processo de transição para o tempo medieval. As relações cidadão-Estado, antes reguladas pelo Império, passaram a ser controladas pelos ditames da Igreja Cristã. A doutrina cristã, ao alegar a liberdade e igualdade de todos os homens e a unidade familiar, provocou transformações radicais nas concepções de direito e de estado. Para o advogado especialista na área de Direito Público, Mário Quintão, o desmoronamento das instituições políticas romanas e o fortalecimento do cristianismo ensejaram uma reestruturação social que levou o homem ao sistema de feudalismo, cujas peculiaridades diferiam de acordo com seus aspectos regionais. O feudalismo, considerado “a idade das trevas”, configura-se pela forma piramidal caracterizada por específicas relações de dependência pessoal (vassalagem), abrangendo em sua cúpula o rei, o suserano (senhor feudal) e, em sua base, essencialmente, o campesinato. Na época medieval, em razão da índole hierarquizada das estruturas em classes sociais, diluiu-se o princípio da cidadania. O relacionamento entre senhores e vassalos dificultou bastante a definição desse conceito. O homem medieval, ou era vassalo, ou servo, ou suserano; jamais um cidadão. Os princípios de cidadania e de nacionalidade dos gregos e romanos estiveram, assim, “suspensos” e só foram retomados com a formação dos Estados modernos, a partir de meados do século XVII.

O Ford Eco Sport de Guarulhos de frente para mostrar sua vaga privilegiada.
Falei bastante sobre o que representa ser cidadão e exercer a cidadania porque ontem estive no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e, ao voltar ao estacionamento, apesar de haver vagas um pouco mais distantes da entrada para os elevadores, deparei-me com uma situação que eu qualifico de “pobre”, pois é de uma pobreza sem igual a atitude de pessoas que fazem o que estes dois motoristas(???) fizeram, talvez pensando que estavam sendo mais espertos que os outros, ou quem sabe pensaram ser mais merecedores do que os outros. Quando passei pelos dois carros estacionados daquele modo, lembrei-me de que estava com a máquina fotográfica na bolsa e não pensei duas vezes. Tirei umas poucas fotos mostrando do que estas pessoas se deram ao trabalho de fazer. Desculpem-me os termos, mas é ser muito cara-de-pau a ponto de parar o carro desse modo num estacionamento tão grande e espaçoso. É, primeiramente, falta de educação (não a da escola, mas a de berço), é falta de respeito para com os outros, porque eles não pagaram tarifas mais altas para deixar os carros quase na porta de entrada do terminal.

Não está visível na foto neste tamanho, a placa é EIM-8518
É uma pena que nós mortais não tenhamos acesso legal à base de dados dos Detrans de todo Brasil para identificarmos os nomes dos proprietários dos veículos e publicar na internet,  ou seja, além das fotos os seus nomes completos. Será que eles se envergonhariam? Não sei, mas se essa atitude virasse moda no Brasil, uma boa parte da população começaria a repensar suas atitudes.
Entretanto, acho que toda moeda tem dois lados e um deles seria o surgimento de patrulhamentos e “dedos-duros”. O que, obviamente, também não é bom. A sensação de impotência diante de situações como essas me deixa arrasada.
Lembremo-nos, contudo, que a impunidade e a corrupção são endêmicas no Brasil e ainda, que a cidadania constrói-se e conquista-se dia após dia.


3 comentários:

  1. OI ELIANE,

    corretíssimo seu texto.

    Somos um país que está se tornando nação à muito pouco tempo.

    O país é sua configuração geográfica, suas riquesas naturais e a nação, extrapola o físico territorial, exatamente por colocar neste grande cadinho de inter-relacionamento, o ser humano.

    E que é o cidadão brasileiro?

    Historicamente, usurpado nos seus mais legitimos direitos de ter identidade própria como brasileiro, pela invasão incontida , crescente e programada de hábitos e costumes estrangeiros, tirou do brasileiro e durante muito tempo , repito, sua identidade cultural.

    Os nossos "muy hemanos" argentinos nos chamaram durante muito tento de "macaquitos", pois apenas imitávamos um padrão nórdico de conduta , estando nós em plena paisagem latina!

    O antropólogo Darcy Ribeiro no seu livro, O povo brasileiro, descreve exatamente, quem somos.

    Afinal, eram os indios os verdadeiros brasileiros, quando aqui aportaram os colonizadores.

    Em suas imensas naus, comparadas com as canoas dos aborigenes, e ao vê-las os indios começaram a gritar que Maira , sua deusa tinha mandado seus protetores.

    Ao, no entanto, verem descer das embarcações aqueles colonizadores barbudos, fedorentos e cheios de feridas provocadas pela falta de vitamina C durante a longa viagem, os indios sairam correndo dizendo que Maira tinha mandado era os seus diabos.

    Os colonizadores,começaram então a atrair a indiazinhas que se banhavam várias vezes nos rios e a dar-lhes quinquilharias e bugingangas.

    Desta relação perversa, nasceram os mamelucos que não eram indios, portanto brasileiros, não eram europeus, e portanto, não eram nada.

    Os mamelucos não tinham identidade cultural, não sabiam o que eram e assim o Brasil foi inchando e inchando durante muitos anos até você agora descobrir, quantos mamelucos estacionam seus carros nos locais mais impróprios possíveis.

    Cidadania, é o brasileiro consciente dos seus direitos e deverees sociais.

    Ainda estamos, muito longe desta formação cultural Eliane, e ainda muito próximos, dos mamelucos.

    Um abração.

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  2. Oi Paulo. Obrigada por seu comentário em plena madrugada. :))
    Apesar do texto lindo que você gentilmente compartilha com todos que por aqui passam, permita-me discordar de você em um detalhe, eu acho que não estamos tão longe assim de uma guinada cultural. É um trabalho de formiguinha, mas que vale à pena. Basta que começemos. Melhor que formiguinhas, por que não contaminarmos a todos com cidadania como se fôssemos um vírus? :))
    abraços, amigo

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  3. Você não vai acreditar, mas um dia dia desses decidi fotografar a maneira como os cidadãos de Palmas estacionam seus carros no estacionamento do supermercado... ia transformar isso num post do meu blog, mostrando o egoísmo, a preguiça e o desrespeito à coletividade de muitos indivíduos dessa linda cidade. Mas a pressa me impediu de prosseguir nesse propósito.

    É muita falta de respeito ao próximo parar um carro em diagonal numa vaga de ângulo reto! Daí você passeia pelo estacionamento lotado e repara que há mais de 10 vagas desperdiçadas por esses debilódes que ocupam 2 vagas com 1 carro. E assim resumimos o que NÃO é cidadania: não reconhecer o seu espaço na sociedade e não respeitar o espaço alheio.

    Forte abraço!
    Adriano Berger

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Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
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Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!