terça-feira, 2 de novembro de 2010

O que você vai ser quando crescer?

Fiquei surpresa com o título de um tópico que vi num site de networking do qual participo: "Seminário de Engenharia Clínica". Engenharia clínica? O que seria isso? Fui pesquisar melhor a engenharia em si, e achei a seguinte lista das especialidades da engenharia, atualmente:

1. Engenharia de Alimentos
2. Engenharia Agronômica
3. Engenharia de Materiais
4. Engenharia Aeronáutica
5. Engenharia Naval
6. Engenharia Ambiental
7. Engenharia Agrícola
8. Engenharia Civil
9. Engenharia de Produção
10. Engenharia Elétrica
11. Engenharia Física
12. Engenharia Mecânica
13. Engenharia Mecatrônica
14. Engenharia Química
15. Engenharia de Petróleo
16. Engenharia de Controle e Automação
17. Engenharia da Computação
18. Engenharia de Telecomunicações
19. Engenharia Florestal
20. Engenharia de Teleinformática
21. Engenharia da Pesca

Fiquei pensando... Quem será agrônomo, se existe o engenheiro agrônomo? Onde estarão os químicos? Os biólogos? Os zootecnistas? Os físicos? Para cada uma destas áreas há uma engenharia “equivalente”. Voltei ao texto do seminário e percebi que já existe mais uma especialidade da engenharia, a clínica. Ela está voltada para a formação de engenheiros especializados em aparelhos hospitalares. Continuei a me perguntar, esse não deveria ser trabalho para um engenheiro que fez mecânica ou eletrônica, para projetar um aparelho desse tipo? Desculpem-me, mas acho que estamos chegando a um certo exagero. 


O futuro do agrônomo?

O futuro do físico?
Um Administrador Industrial me respondeu que talvez possa haver um exagero, porém, cada vez mais se faz necessário termos especialistas em determinadas áreas. A engenharia clínica pode ser tratada, hoje, por qualquer engenheiro, e logo depois fazer a especialização ou encurtar o caminho com curso de graduação, atualmente só disponível em São Paulo. A visão do Engenheiro Clínico é praticamente a de um Administrador Hospitalar, com visão técnica de manutenção, logística, gerenciamento, segurança hospitalar, tecnologia em instalação e infra-estrutura de equipamentos etc. Comentário meu: Ou seja, ele é um super homem. Chuta a bola e já sai correndo para agarrá-la no gol. E ele continua, as temáticas de algumas profissões estão muito próximas, por exemplo: biólogo, pode ser um especialista em meio ambiente, mas não é um engenheiro ambiental. Novo comentário meu: Ou seja, se formou biólogo, e ainda perdeu tempo se especializando em meio ambiente? Vai arder nas portas do inferno por não ter o título de engenheiro ambiental. Será que eu me encontraria com Dr. Jacques-Yves Cousteau por lá? Oficial da marinha francesa, oceanógrafo mundialmente conhecido por suas viagens de pesquisa, a bordo do Calypso, o Dr. Cousteau foi um dos inventores do aqualung, o equipamento de mergulho autônomo que substituiu os pesados escafandros, e também participou como piloto de testes da criação de aparelhos de ultra-som para levantamentos geológicos do relevo submarino e de equipamentos fotocinematográficos para trabalhos em grandes profundidades. ELE NÃO ERA ENGENHEIRO!


Este não era engenheiro...

E ele finaliza assim: É possível que no futuro possa existir um engenheiro de movimentos humanos e não um fisioterapeuta, basta adicionar a robótica e a nanobiociência. A esta altura, estou boquiaberta e perguntando: E onde estão todos os jovens que farão o vestibular que não se inscrevem TODOS no curso de engenharia? Quem sabe se, dessa maneira, o MEC, ou qualquer órgão do poder público, responsável pela educação, atentaria para o fato?

Fisioterapeutas... Cuidado...
O engenheiro clínico, responsável pelo seminário a que me referi, respondeu-me assim: “Eliane, as novas modalidades de Engenharia surgem para suprir uma necessidade existente. No caso da Engenharia Clínica ela surgiu em face da segurança do paciente (muitos morriam em virtude dos novos equipamentos que surgiam na época). Atualmente, é necessário um profissional para gerir a tecnologia médico-hospitalar. Administrar contratos de compra, comodato e manutenção de equipamentos. Prover o hospital de tecnologia confiável e segura a custos compatíveis. O Engenheiro Clínico elabora parecer/justificativa técnica; avalia e desenvolve novos fornecedores; analisa laudos de verificação e calibração de equipamentos, desenvolve, implementa e dirige programas de administração de equipamentos; avalia e seleciona novas tecnologias; atua com instalação e aceitação de novos equipamentos; providencia treinamento de operadores e técnicos; cria dispositivos de interface entre os usuários e fabricantes, e coordena programas de reparos e manutenções. Acredito que surgindo novas necessidades, surgirão novas especialidades na Engenharia. Agora, cabe aos conselhos regionais fiscalizarem para que não haja distorções de função.” Eu volto a me perguntar, hoje em dia, para que serve um médico clínico geral? É para se pensar, não?

O futuro de um médico clínico geral... Seria este?

Se a diferença entre o administrador hospitalar e o engenheiro clínico é a parte técnica, e estou percebendo que isso acontece também nas outras especialidades da engenharia, vejo algo maior, o MEC deveria, com urgência, pensar numa ampla reforma na educação. Em realidade, o mercado está sentindo falta de profissionais mais técnicos. E é natural que isso aconteça. Nunca se teve tantos avanços tecnológicos como durante o século XX. Esse evento, obviamente, demandará profissionais que acompanhem o movimento. E assim, isso só corrobora a minha teoria de que nenhuma área de conhecimento, nos dias atuais, pode sobreviver sem que seus profissionais aprendam nas universidades os fundamentos técnicos relativos à sua área de interesse. Todas as carreiras deveriam passar a oferecer aos seus estudantes uma formação técnica mais abrangente nas universidades.

Não parei aqui e passei uma vista d’olhos (calma, pessoal... Só quis dizer uma “overview”) pelo Google e encontrei o seguinte, num site português. A Licenciatura da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto tem a duração de cinco anos: nos três primeiros é dada, essencialmente, uma formação de base sendo os dois últimos anos dedicados às disciplinas da especialidade. No âmbito das disciplinas de especialidade os alunos podem participar em projetos de investigação em diferentes domínios da Engenharia Geográfica, nomeadamente nos domínios da Dinâmica Orbital e Navegação, Geodésia Espacial e Geodinâmica, Observação da Terra e Sistemas de Informação Geográfica (SIG), Posicionamento e Altimetria por Satélite. Ou seja, mais uma, a ENGENHARIA GEOGRÁFICA.


E os geógrafos, vão acabar?
Penso também que isso é uma questão de raciocínio lógico. Se nada for feito neste sentido, o mercado vai continuar, cada vez mais, a demandar engenheiros, nas mais diversas especialidades, para acompanhar o avanço das novas tecnologias. O que eu não acho justo é deixar os profissionais de outras áreas sem a qualificação necessária à demanda do mercado. Se formos nessa linha de raciocínio, outros profissionais de tantas outras áreas, que não tenham uma formação tecnológica, entrarão na lista de espécies em extinção. A equação não poderia ser mais perversa: TECNOLOGIA = MAIS ENGENHEIROS, quando deveria ser: TECNOLOGIA = PROFISSIONAIS MAIS TÉCNICOS em todas as áreas.

Seremos todos engenheiros sociais?
Observem este comentário no fórum: “Tenho a mesma percepção da Eliane com relação às engenharias. Eu, por exemplo, sou estatístico. Não posso atuar como engenheiro, mas vejo engenheiros trabalhando como estatísticos, pois as duas carreiras têm muitas matérias similares na faculdade. Tenho orgulho de ser estatístico, que é uma área de tecnologia, mas por alguns motivos agora estou cursando pós-graduação em Engenharia Econômica. Mais uma engenharia?
Sinto hoje que se você não é engenheiro, não é nada, pois o que nos passam é que independentemente da área de formação, o engenheiro estará apto a exercer qualquer função, atitude um tanto quanto arrogante. Concordo que alguns cursos de engenharia criados realmente sejam necessários. Por outro lado, é um título que ainda seduz muito, afinal cursar engenharia não é fácil, mas também não é fácil cursar estatística, medicina, economia e outras.
Engenharia nada mais é que utilizar os conhecimentos científicos e empíricos com o propósito de construir dispositivos ou processos que viabilizem o bem estar da sociedade. Com definição tão ampla assim, podemos considerar tudo engenharia. Afinal de contas, o físico, o matemático, o administrador e outros também fazem isso, acredito que muitos estão se deixando levar pelo glamour de uma nomenclatura que pode ser desnecessária.”


Afinal... O que seria do mundo sem os engenheiros?

Um engenheiro disse: "Resumindo: o que para meu pai era experiência obtida no exercício da profissão, virou curso de especialização para mim e curso de graduação para meu filho (que está fazendo vestibular para... engenharia)."
Fico com a sensação de total impotência quando todos, governo, povo, todos, repetem a frase mais batida do mundo. "O Brasil precisa melhorar a educação". Como? Assim? Nesse ritmo? Faz-me rir. Pode acreditar que por mais que o poder público se esforce, tirar do v0 e colocar em movimento um máquina movida a politicagem como a nossa, é uma tarefa Hercúlea. Já me convenci que teremos cada vez mais as engenharias que se fizerem necessárias no curto prazo para atender ao mercado e sua demanda tecnológica. Ou, nas sábias palavras do estatístico, no fórum, “não há dúvidas de que, no futuro, teremos também a Engenharia Jurídica...”




A Licenciatura em Engenharia Geológica é composta por uma formação de base sólida, ministrada no primeiro ano e em parte do segundo ano, aliada a uma componente aplicada com valências nas diversas áreas em que se pode desenvolver a actividade de um Engenheiro Geólogo.

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