quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Cor do Século é Azul

O Aqüífero Guarani tem todas as características para se tornar o “Novo Heartland” do século XXI. Por quê? Porque o Aqüífero Guarani é a maior reserva de água doce subterrânea do planeta que, além de ser banhado pela Bacia Platina, está cheio do líquido mais precioso, o Ouro Azul do século XXI. É importante ressaltar que o Aqüífero Guarani localiza-se em uma região geoestratégica, fazendo fronteira com quatro países, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Este Aqüífero vem sendo cobiçado pela maior potência mundial, os EUA. Por isso a afirmação de que ele congrega todos os atributos para ser o “Novo Heartland” do século XXI.

O Aqüífero Guarani

Por exemplo, Brasil e Argentina já se opõem à construção de base militar americana no Paraguai. Ambos os países temem perder a soberania sobre o Aqüífero Guarani, o que pode resultar em futuros conflitos políticos, econômicos e, até militares. Por quê? Porque não existe a mutualidade nem a cooperação de recursos entre os povos, ou o país tem ou não tem e, aqueles que não têm, procuram prover de outras maneiras para adquirir esses recursos, seja na base econômica ou na força militar.

Um dos maiores especialistas brasileiros em água nas relações internacionais, Francisco Teixeira declarou em 2005 que “esta geopolítica da escassez da água pode levar muito rapidamente a agudização do quadro, desembocando em graves conflitos interestatais”(sic). A escassez da água é o grande problema da humanidade do século XXI. Como relatou a ONU em 2005: “Em 2050, se mudanças profundas não ocorrerem, a escassez de água afetará 7 bilhões de pessoas em 60 países”. Os números impressionam, demonstrando que a situação é crítica e serve de alerta para todos, para que utilizem de forma racional o nosso precioso líquido. É notório que em breve, muito em breve, muitos países pedirão água para os brasileiros. Ou será que já terão tomado nossos recursos hídricos? A crise da água não é local ou regional, mas sim global. Ela pode servir de combustível para alimentar conflitos étnicos, políticos e religiosos em todo o planeta, e marcar mais um capítulo na sangrenta história da humanidade.

Visão apocalítica? Talvez.
Culturalmente, a humanidade habituou-se a usar os recursos hídricos de forma irracional. O agravamento da degradação e da escassez dos recursos hídricos exige um planejamento e um manejo integrado desses recursos. A água deve ser tratada como questão de Estado. O Brasil privilegiado por seus recursos hídricos, deve de forma responsável, melhorar o aproveitamento desses recursos, garantindo a todos, o acesso à água.

Vamos olhar os fatos por um ângulo diferente? A Faixa de Gaza e a Cisjordânia são trechos do que deveria ser constituído o Estado Árabe-Palestino de acordo com a Partilha da ONU de 1947. Mas, Israel, durante a Guerra da Independência (1948/49), conquistou praticamente todo o território palestino. Segundo Maurício Waldman, ambientalista brasileiro respeitado no meio, cerca de 78% do território palestino foi anexado pelos israelenses. Mesmo nos territórios residuais, o Estado Árabe-Palestino não foi implementado. Gaza passou para a administração egípcia e a Cisjordânia para a Jordânia. Mas durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, Israel reconquistou essas duas regiões. As divergências sobre o controle delas permanece até os dias atuais, sendo que o Estado Árabe-Palestino também não foi implementado.


O que era a Palestina em 1946 e em 2000

A tese de Maurício Waldman de que o conflito entre israelenses e palestinos é em grande parte influenciado pelo fator água o que foi atestada em 2005: “A questão do controle das águas do Rio Jordão foi um dos fatores que motivaram a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Desde então, Israel controla a quase totalidade da bacia do Jordão, permitindo que este país mantenha um consumo per capita de água cerca de cinco vezes maior do que seus vizinhos regionais. O Rio Jordão nasce no Líbano e atravessa os territórios da Síria, delimitando a fronteira natural entre Israel e a Jordânia. Possui cerca de 190 Km de extensão, um rio muito pequeno, mas, mesmo assim, se constitui no principal curso de água dessa região.”

Bacia do Rio Jordão na Cisjordânia


Mapa Hídrico da Cisjordânia

O mapa acima, é um mapa hídrico da Cisjordânia. Todas as ramificações em verde são Wadis, cursos temporários de água. Como se pode observar essa região é muito rica em Wadis. Além de ser rica em Wadis, a Cisjordânia possui três grandes aqüíferos, sendo banhada também pelo Rio Jordão, o principal curso d’água dessa região. A Cisjordânia é uma região rica em água, podendo ser considerada um oásis em meio a uma região de clima extremamente desértico, o que explica a situação do mapa. Israel não devolve a Cisjordânia para os palestinos por ela ser rica em água. Acho que poucos sabiam disso, não?!

GDF Suez, Guerras e Conflitos pelo Ouro Azul
A empresa francesa GDF Suez (GDF - Gaz De France) é uma gigante global no que diz respeito a gás, energias, infraestruturas, meio ambiente, tudo no plural mesmo, com presença nos cinco continentes. Essas expansões geográficas dessas grandes corporações assumem diferentes formas, através de consórcios ou compra de ações de uma empresa que já opera na região. Outra área de atuação dessas grandes corporações é na tecnologia de dessalinização que já vem sendo utilizada por alguns países e comunidades. A tecnologia da dessalinização é promissora, e tem tudo para crescer ainda mais no futuro. Mas, a dessalinização da água não é a solução para a grave crise da escassez de água porque a tecnologia da dessalinização consome muito combustível fóssil, o que agravaria ainda mais o aquecimento global, um dos principais inimigos dos recursos mundiais de água.

A escassez de água poderá ser uma das principais fontes de conflitos do século XXI. A ONU define o problema da escassez como uma “crise silenciosa”, sendo uma crise no momento ofuscada pela escassez de outro líquido precioso, o petróleo. Devido a grave crise da escassez da água, a própria ONU admite que as guerras ou conflitos que ocorrerem no século XXI terão muito mais a ver com a água do que com o petróleo. Essa advertência, que soaria como uma piada há poucas décadas, a cada dia torna-se mais concreta. Entretanto, há uma outra corrente de pensamento sobre o assunto. Segundo o ex-assessor de Bill Clinton e outro grande nome da Geoeconomia, “o confronto agora deixou de ser militar para se tornar econômico”, ou seja, neste novo cenário, os principais atores são as corporações transnacionais, que em grande medida ditam as políticas nacionais, levando os Estados a disputarem entre si para persuadirem essas grandes corporações a se instalarem em seu território.

A Mercantilização da Água
Em 2000, ocorreu o Fórum Mundial da Água na Holanda, que tinha como tema principal à preservação dos recursos hídricos mundiais. Em torno desse fórum deveria ocorrer um debate, se a água deveria ser designada uma necessidade ou um direito. Mas esse debate não ocorreu. Por quê? Porque participaram desse Fórum organizações como o Banco Mundial e as grandes corporações de água, que têm interesse no comércio do “ouro azul”. Consequentemente, as discussões em torno do Fórum se limitaram em como essas corporações poderiam se beneficiar da mercantilização do “ouro azul”.

Se a água fosse designada uma necessidade, então as corporações teriam o direito de fornecer água para toda a população com fins lucrativos, ou seja, seria a conversão da água em mercadoria. Por outro lado, se a água fosse designada um direito, então os governos teriam a responsabilidade de fornecer água para toda a população, sem fins lucrativos. No final do Fórum os participantes assinaram um documento em que ficou acordado que a água seria designada uma necessidade, portanto, uma mercadoria. Resumindo, a partir desse Fórum a água passou de um recurso natural para uma mercadoria. Atualmente, dez grandes corporações dominam o mercado mundial de água, sendo que a Suez e a Vivendi, ambas de origem francesa, detêm cerca de 78% do mercado mundial de água. Pelo menos nesta questão os EUA não “estão no controle”. A França “está” imperialista quanto a esse quesito. Sendo que o Brasil tem a faca e o queijo na mão. Só não podemos deixar que nos tomem nem a faca, nem o queijo.


Podem voltar porque aqui não tem terrorista nenhum para ser procurado, não. Aqui só tem muita água mesmo. E ela é nossa!

2 comentários:

  1. O americano possui o enorme aquífero de Ogallala bem no meio dos EUA, guardado a sete chaves mas, assim como no petróleo, ficam de olho grande na água dos outros. O próximo conflito será sem dúvida pelo controle destas fontes...

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  2. Olá, TecnoKratico. Boa noite. Realmente os EUA têm o Aqüífero de Ogallala, mas pelo pouco que sei, ele já perdeu o muito do seu volume desde que começou a ser explorado para irrigação agrícola. 1/5 das terras irrigadas nos EUA mantêm-se com as águas do Ogallala que se espalham de Nebraska até o Texas, passando por outros estados (não me lembro de todos). Por isso é bom cuidarmos bem do nosso Pantanal.

    Obrigada pela visita e pelo comentário enriquecedor. :))

    Abraços

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