quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Exsite uma coisa chamada Gestão Urbana

Eu já falei tanto sobre isso que, mesmo sabendo que pode ficar enfadonho, preciso repetir, até porque não falei nem uma linha sobre a tragédia das cidades serranas fluminenses.

Neste blog, pelo próprio nome, eu já abordei diversos assuntos. Já falei desde a Teoria de Malthus, passando pela politicagem indecente na ocupação desordenada do Horto do Jardim Botânico no Rio de Janeiro, pela especulação imobiliárias nas favelas, pelos transportes rodoviários em detrimento dos ferroviários, pela falta indecente de metrô no país, pelo ritmo de crescimento das cidades que está sendo muito superior do que o normal, pela transformação das cidades em megalópoles, pela gestão urbana, pela tragédia da favela do Morro do Bumba e suas obras de maquiagem que só fizeram incrementar seu crescimento, pelos projetos de teleféricos feitos com o dinheiro do PAC, até o aquífero Guarani e a hidrelétrica de Belo Monte. Mas meu blog não tem o poder de que precisamos para mudar tudo o que aí está. Para isso precisaríamos da fada madrinha da Cinderela e sua varinha de condão.

Ainda outro dia num post que eu falava sobre a educação disse o seguinte: “Num país em que os candidatos usam o debate presidencial para agir como “prefeitinhos”, fazendo promessas de construir escolas, hospitais, prisões, casas populares, pracinhas e afins, em vez de debater, verdadeiramente, no nível presidencial, ou seja, pensar nas melhores políticas públicas para as diversas áreas estruturais que constituem toda sorte de problemas do país, o que você espera que seja feito? Respondendo sua pergunta, vamos sim, continuar no mesmo blá blá blá de sempre”.

De nada adianta ser o ‘B’ dos BRICs se instituições e seus representantes defendem invasões de patrimônio histórico federal e considerado pela UNESCO como reserva da biosfera. Isso não é o máximo do terceiro mundismo?!

Hoje postei no Facebook uma reportagem na qual Raquel Rolnik, professora da FAU da USP, falava sobre a importância da gestão do solo e da necessidade de mudança do modelo de desenvolvimento urbano e da lógica de organização das nossas cidades. Ela dizia: ”Obras emergenciais não são suficientes para cidades castigadas pelas chuvas”, referindo-se às chuvas da região serrana fluminense. Assim como ela, eu que não sou especialista em urbanismo, consigo enxergar claramente, por conta da minha primeira formação em Ciências Biológicas em 1982, que é tudo uma questão de planejamento de políticas diversas de infraestrutura. E uma coisa puxa a outra. Precisamos de políticas claras e sérias para energia, transportes, telecomunicações, educação, saneamento básico, saúde, gestão urbana, planejamento das cidades em seus tamanhos, local apropriado para crescimento, cinturões verdes delimitando as cidades entre outras coisas.

Professora Raquel Rolnik
Tudo por que passou o estado do Rio de Janeiro só evidencia “falhas históricas e estruturais na ocupação de territórios”, conforme disse Raquel Rolnik. Falando em erros históricos, eu já disse aqui que os inúmeros aterros com inúmeras finalidades fizeram com que, mesmo bem no início do século XX, o Rio de Janeiro sofresse consequências da intervenção humana na urbanização do seu entorno. Já em 1902, a Rua do Senado, por exemplo, sofria com enchentes como as que vemos ainda hoje naquela área. Certamente o aterro da Lagoa do Boqueirão (atual Passeio Público) e pequenos mangues em seu entorno, contribuíram para tais enchentes. Falei da Praça da Bandeira, um local que sempre sofreu com enchentes, porque esta praça é a foz dos rios que nascem no maciço da Tijuca e desaguam no mar da baía de Guanabara. No início do século XIX, o mar chegava àquela área, visto que não existia a Avenida Francisco Bicalho e seu entorno. Falei dos vários magues existentes no caminho entre a atual Praça Tiradentes e o Paço de São Cristóvão que foram todos aterrados para facilitar o trânsito entre São Cristóvão e o centro da cidade.

Quando se fala em planejamento urbano no Brasil, segundo Raquel Rolnik, a pauta é definida basicamente do ponto de vista da construção de obras, e não leva em conta a gestão adequada do solo. As consequências são conhecidas: ocupação de várzeas de rios e construções em encostas de morros, que deveriam servir para amortecer os impactos dos fenômenos climáticos.

Vou repetir aqui no blog uma citação do século XVI, que nunca esteve tão atual. "Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas. O reformador tem inimigos em todos os que lucram com a velha ordem e apenas defensores tépidos nos que lucrariam com a nova ordem." Nicolau Maquiavel



Um comentário:

  1. Eliane é isso mesmo. Eu tb estou cansada de falar sobre isso. Inclusive defendi uma metodologia chamada TRANSPROJETAÇÃO, que tem este espírito de prevenção, e portanto, de gestão.
    Abraços
    Virginia

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