De gravatinha borboleta, Jorge Vidor |
Esta manhã assisti a uma entrevista, se é que podemos chamá-la assim, na GloboNews, feita pelo jornalista Jorge Vidor, para o programa Conta Corrente Especial. Os convidados eram dois professores: Mônica de Bolle, Professora de Macroeconomia da PUC-RJ e Reinaldo Gonçalves, Professor titular de Economia Internacional do IE da UFRJ. Apesar de a professora, segundo suas próprias palavras, estar analisando as razões conjunturais da inflação em alta e crescimento em baixa no Brasil, o Professor Reinaldo Gonçalves deu um show de síntese sobre os problemas estruturais pelos quais o Brasil tem passado, principalmente nos dois governos Lula, que sem a devida atenção e planejamento para a resolução, de nada adiantarão medidas paliativas sempre que, ciclicamente, passarmos pelos problemas conjunturais que, obviamente, serão sempre esperados, já que não se romperá o elo da cadeia.
Com essa breve e quase única, intervenção, nos menos de 30 minutos de programa, este professor, além de dar um ippon na professora e no entrevistador, me chamou a atenção para seu trabalho. Lá fui eu ler na internet tudo o que ele tem feito ultimamente. Meu blog não é a revista de fofocas, não... Mas como é que eu iria perder um “badado” desses, leitores?!
Na sua fala durante a entrevista, o Professor disse com todas as letras, que o governo Lula, juntamente com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foram irresponsáveis na política de oferta de crédito fácil, leia-se BNDES, e na política cambial, ao manter o dólar e o euro baixos; sem contar com a indecência (sic) dos cartéis em vários segmentos e sobre o nada que é feito. Obviamente, meu currículo não chega nem perto do currículo do Prof. Reinaldo, mas quando eu escrevo isso que ele falou, pois é o que eu penso, sinto-me escrevendo para as paredes, visto que esse assunto, quando comentado por mim, não causa reação nenhuma nas pessoas. Senão vejamos, meu post de 02/02 deste ano, Redes de Infraestrutura no Brasil. Ele eu mencionei um plano de aula do Curso de Preparação à ECEME. Este plano de aulas consiste de 3 itens:
Professor Reinaldo Gonçalves
Dentre os inúmeros trabalhos do Professor Reinaldo Gonçalves, encontrei um artigo dele excelente escrito em 2008, falando do PAC. Para não fazer um post mais extenso do que esse já está, mencionarei apenas um dos quatro pontos que ele destaca no seu texto "PAC: Desaceleração do Crescimento e Vulnerabilidade Externa".
Inoperância na Implementação
1. A inoperância do governo federal evidencia-se quando se constata que somente 27% dos recursos previstos foram efetivamente pagos no primeiro ano de vigência do PAC.
2. A ineficácia na implementação do PAC aparece, por exemplo, quando se considera que o conjunto dos principais projetos para o Rio de Janeiro, com a exceção dos projetos em andamento sob a responsabilidade direta da Petrobrás, somente dois dos 10 principais projetos saíram do papel.
3. O argumento do governo de que 86% das 2126 ações em andamento estão tendo desempenho adequado carecem de credibilidade. Não há avaliação externa do PAC, não se conhecem os critérios de adequação e o julgamento do próprio gestor deve ser visto com desconfiança. Por que o governo Lula não cria um grupo independente de acompanhamento e avaliação do PAC com representações indicadas pela sociedade civil?
4. No primeiro ano do PAC houve o “apagão aéreo” com suas trágicas consequências e o aumento do risco de grave crise no setor energético.
5. Os aeroportos brasileiros aparecem na lista dos piores aeroportos do mundo, segundo a revista Forbes.
6. Muitos especialistas afirmam que o país já está experimentando crise energética em decorrência da explosão dos preços negociados no mercado paralelo (mercado livre) de energia elétrica, do redirecionamento do gás natural para as termelétricas e as restrições de oferta das hidroelétricas.
7. As mudanças do marco regulatório pouco avançaram e o que há de mais evidente parece ser o afrouxamento do controle dos processos de licenciamento ambiental.
8. A questão da defesa da concorrência tornou-se secundária em um país marcado por forte centralização do capital. Este fato é relevante, por exemplo, quando se considera que o setor de cimento é, por um lado, estratégico para os investimentos em infraestrutura e, por outro, tem um histórico de fortes práticas comerciais restritivas. O abuso do poder econômico continua sem a efetiva regulação governamental.
9. A Vale do Rio Doce, uma das três empresas multinacionais responsáveis pelo cartel do minério de ferro, tem sido acusada de práticas comerciais restritivas que afetam o setor de siderurgia e construção civil. O governo tem se mostrado inoperante em área que afeta diretamente a infraestrutura do país.
10. Devido à sua própria inoperância, o governo conta com a maior liberalização externa na esfera produtiva via participação efetiva de empresas estrangeiras nas concessões para administrar as rodovias federais. No setor aéreo as autoridades federais defendem a ampliação do limite de participação do capital estrangeiro nas empresas aéreas nacionais de 20% para 49%.
11. A inoperância governamental também é evidente no caso da crise do setor energético. Especialistas têm recorrentemente denunciado a ineficácia e, até mesmo, a irresponsabilidade do governo neste setor. Segundo o Instituto Ilumina há “passividade do governo federal” e “ausência de providências mais efetivas que possam evitar uma crise nos próximos dois ou três anos”. As mudanças no marco regulatório ficaram somente no papel ou, então, foram parcialmente executadas de tal forma que “o sistema hidroenergético tornou-se muito vulnerável”. Neste sistema não houve expansão adequada da oferta e “no que se refere à operação, praticamente nada de relevante foi acrescentado.”
12. Sete anos depois da crise de energia e cinco anos de governo, o país defronta-se com séria restrição ao crescimento econômico em decorrência dos problemas energéticos, no que se refere tanto à hidroeletricidade quanto às outras fontes de energia, como o gás natural. Mais recentemente, o governo obrigou a Petrobrás a desviar gás natural para as termelétricas, o que provoca o aumento dos custos da produção de derivados do petróleo. A empresa reduzirá seus lucros e, portanto sua capacidade de investimento, ou, então, haverá aumento de preços.
13. As autoridades governamentais que se mostraram inoperantes no que se refere à questão energética são, precisamente, aquelas que estão atualmente na coordenação do PAC, com destaque para a Ministra Dilma Roussef. Com os sinais evidentes de crise energética, após cinco anos de governo, a pergunta é: Por que Dilma Roussef não foi demitida?
E eu vou além, gostaria de entender porque “energia de fonte nuclear” é um assunto tabu no Brasil. Se é limpa e barata, por que não? Por que este “medo” (ou será que não é medo, mas sim conveniência de alguém?) em debater o assunto?
Digam se não é para refletir. Parem para pensar e raciocinar. Talvez seja preciso repensar, quem sabe?! Não acreditem em discursos fáceis e cheios de jargões, siglas e palavras em inglês. Tudo que é muito fácil, é digno de uma avaliação mais cautelosa. Qualquer dia vou lançar aqui a "Campanha da Reflexão e do Raciocínio". É disso que precisamos, de uma sociedade com mais cérebros do que bundas.
Com essa breve e quase única, intervenção, nos menos de 30 minutos de programa, este professor, além de dar um ippon na professora e no entrevistador, me chamou a atenção para seu trabalho. Lá fui eu ler na internet tudo o que ele tem feito ultimamente. Meu blog não é a revista de fofocas, não... Mas como é que eu iria perder um “badado” desses, leitores?!
Monica de Bolle, Professora Macroeconomia da PUC-RJ |
Na sua fala durante a entrevista, o Professor disse com todas as letras, que o governo Lula, juntamente com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foram irresponsáveis na política de oferta de crédito fácil, leia-se BNDES, e na política cambial, ao manter o dólar e o euro baixos; sem contar com a indecência (sic) dos cartéis em vários segmentos e sobre o nada que é feito. Obviamente, meu currículo não chega nem perto do currículo do Prof. Reinaldo, mas quando eu escrevo isso que ele falou, pois é o que eu penso, sinto-me escrevendo para as paredes, visto que esse assunto, quando comentado por mim, não causa reação nenhuma nas pessoas. Senão vejamos, meu post de 02/02 deste ano, Redes de Infraestrutura no Brasil. Ele eu mencionei um plano de aula do Curso de Preparação à ECEME. Este plano de aulas consiste de 3 itens:
- Perspectivas Energéticas
- Sistema de Transporte Brasileiro
- Redes de Informação (Telecomunicações mais Informática)
Professor Reinaldo Gonçalves
Dentre os inúmeros trabalhos do Professor Reinaldo Gonçalves, encontrei um artigo dele excelente escrito em 2008, falando do PAC. Para não fazer um post mais extenso do que esse já está, mencionarei apenas um dos quatro pontos que ele destaca no seu texto "PAC: Desaceleração do Crescimento e Vulnerabilidade Externa".
- Erros de Concepção
- Inoperância na Implementação
- Diretrizes Macroeconômicas Equivocadas
- Síntese
Inoperância na Implementação
1. A inoperância do governo federal evidencia-se quando se constata que somente 27% dos recursos previstos foram efetivamente pagos no primeiro ano de vigência do PAC.
2. A ineficácia na implementação do PAC aparece, por exemplo, quando se considera que o conjunto dos principais projetos para o Rio de Janeiro, com a exceção dos projetos em andamento sob a responsabilidade direta da Petrobrás, somente dois dos 10 principais projetos saíram do papel.
3. O argumento do governo de que 86% das 2126 ações em andamento estão tendo desempenho adequado carecem de credibilidade. Não há avaliação externa do PAC, não se conhecem os critérios de adequação e o julgamento do próprio gestor deve ser visto com desconfiança. Por que o governo Lula não cria um grupo independente de acompanhamento e avaliação do PAC com representações indicadas pela sociedade civil?
4. No primeiro ano do PAC houve o “apagão aéreo” com suas trágicas consequências e o aumento do risco de grave crise no setor energético.
5. Os aeroportos brasileiros aparecem na lista dos piores aeroportos do mundo, segundo a revista Forbes.
6. Muitos especialistas afirmam que o país já está experimentando crise energética em decorrência da explosão dos preços negociados no mercado paralelo (mercado livre) de energia elétrica, do redirecionamento do gás natural para as termelétricas e as restrições de oferta das hidroelétricas.
7. As mudanças do marco regulatório pouco avançaram e o que há de mais evidente parece ser o afrouxamento do controle dos processos de licenciamento ambiental.
8. A questão da defesa da concorrência tornou-se secundária em um país marcado por forte centralização do capital. Este fato é relevante, por exemplo, quando se considera que o setor de cimento é, por um lado, estratégico para os investimentos em infraestrutura e, por outro, tem um histórico de fortes práticas comerciais restritivas. O abuso do poder econômico continua sem a efetiva regulação governamental.
9. A Vale do Rio Doce, uma das três empresas multinacionais responsáveis pelo cartel do minério de ferro, tem sido acusada de práticas comerciais restritivas que afetam o setor de siderurgia e construção civil. O governo tem se mostrado inoperante em área que afeta diretamente a infraestrutura do país.
10. Devido à sua própria inoperância, o governo conta com a maior liberalização externa na esfera produtiva via participação efetiva de empresas estrangeiras nas concessões para administrar as rodovias federais. No setor aéreo as autoridades federais defendem a ampliação do limite de participação do capital estrangeiro nas empresas aéreas nacionais de 20% para 49%.
11. A inoperância governamental também é evidente no caso da crise do setor energético. Especialistas têm recorrentemente denunciado a ineficácia e, até mesmo, a irresponsabilidade do governo neste setor. Segundo o Instituto Ilumina há “passividade do governo federal” e “ausência de providências mais efetivas que possam evitar uma crise nos próximos dois ou três anos”. As mudanças no marco regulatório ficaram somente no papel ou, então, foram parcialmente executadas de tal forma que “o sistema hidroenergético tornou-se muito vulnerável”. Neste sistema não houve expansão adequada da oferta e “no que se refere à operação, praticamente nada de relevante foi acrescentado.”
12. Sete anos depois da crise de energia e cinco anos de governo, o país defronta-se com séria restrição ao crescimento econômico em decorrência dos problemas energéticos, no que se refere tanto à hidroeletricidade quanto às outras fontes de energia, como o gás natural. Mais recentemente, o governo obrigou a Petrobrás a desviar gás natural para as termelétricas, o que provoca o aumento dos custos da produção de derivados do petróleo. A empresa reduzirá seus lucros e, portanto sua capacidade de investimento, ou, então, haverá aumento de preços.
13. As autoridades governamentais que se mostraram inoperantes no que se refere à questão energética são, precisamente, aquelas que estão atualmente na coordenação do PAC, com destaque para a Ministra Dilma Roussef. Com os sinais evidentes de crise energética, após cinco anos de governo, a pergunta é: Por que Dilma Roussef não foi demitida?
Reinaldo Gonçalves, Professor IE / UFRJ |
Digam se não é para refletir. Parem para pensar e raciocinar. Talvez seja preciso repensar, quem sabe?! Não acreditem em discursos fáceis e cheios de jargões, siglas e palavras em inglês. Tudo que é muito fácil, é digno de uma avaliação mais cautelosa. Qualquer dia vou lançar aqui a "Campanha da Reflexão e do Raciocínio". É disso que precisamos, de uma sociedade com mais cérebros do que bundas.
Reinaldo Gonçalves foi meu professor na Escola de Guerra Naval em 2007, como parte do MBA em Gestão Internacional, em parceria com o COPPEAD. Suas análises são sempre muito lúcidas e "pé no chão". Sempre foi crítico da nossa dependência de commodities - satirizada por ele como "economia da asa de frango". Além disso, criou um indicador chamado "Índice de Desempenho Presidencial", composto por vários parâmetros, que avalia o desempenho de todos os presidentes desde a instauração da República.
ResponderExcluirInfelizmente, o brasileiro, em sua maioria, conforme demonstra o resultado das últimas eleições, ficou anestesiado pela Bolsa Família e pela maciça propaganda governamental, que vendeu um país espetacular, com Copa, Olimpíadas, pré-sal, PAC, etc. O povão não quer saber de fundamentos macroeconômicos. No lugar de banda cambial, prefere bunda e o Bial...
Agostinho, obrigada pelo comentário. Realmente, desde que me entendo por gente, escuto dizer a mesma coisa sobre o povão brasileiro, e de forma jocosa.
ResponderExcluirGostaria que no Brasil, que é tão grande em território, e tão pequeno em gente que pensa, houvesse mais "professores Reinaldo". Quem sabe, talvez a população estivesse mais ciente do que se passa no país verdadeiramente e, assim, pudesse formar um parlamento composto de pessoas dotadas de valores morais, antes de mais nada.
Eliane, estou a dois dias me agendando para ler esse post, pois não é conteúdo para ser lido com pressa...
ResponderExcluirNão há o que contestar. O que você narrou, eu, você e mais meia dúzia conhece bem e quase morremos de desgosto ao assistir os debates e programas eleitorais e ver que mesmo com tanta patifaria dita pelo presidente-cabo eleitoral e sua marionete, o povo ainda elege a continuidade desse "crescimento" mascarado pelo governo.
Outro dia fiz um post rápido ilustrando alguma coisa sobre o nosso crescimento (http://nanoberger.blogspot.com/2010/09/o-brasil-que-voce-pensa-que-conhece.html). Mas falar as verdades sobre a nossa economia e sobre o nosso governo é dar murro em ponta de faca. Estamos no Brasil colocados a baixo de mais de 50 países no ranking de qualidade do ensino fundamental. Somos uma terra de cultura subdesenvolvida, como vamos discernir o bom do mau governante?!
Enquanto você assistia a essa entrevista o resto da audiência da TV brasileira estava concentrada nas receitas de Ana Maria Braga... quem vai querer ouvir crítica econômica de um professor universitário?
Mas o ex-presidente Lula foi tão astuto que quando elegeu-se pela primeira vez tratou de não fazer aliança com ninguém para não ficar de rabo preso com partidos, e usou do seu governo popular para pressionar governadores e partidos (aí sim era o momento oportuno) e montou uma rede de influência com tal poder que eu digo sem medo de errar que somente uma catástrofe tirará o PT do poder nos próximos 16 anos.
Enquanto isso, as mazelas conjunturais que você narrou vão continuar a ser ferramenta de manobra, como bem observou Joelmir Beting em seu blog: Saneamento básico e infraestrutura logística não geram tantos votos quanto bolsa escola e bolsa família... a saúde da população e o desenvolvimento econômico que se danem, o povo gosta mesmo é de quem dá esmolas.
Grande abraço,
Adriano
Adriano, infelizmente você está coberto de razão. Além desta frase, não há nada mais que eu possa dizer que já não disse em inúmeros posts deste blog. :(
ResponderExcluirAbração
Adriano vc está coberto de razões. Percebo que nossa sociedade está bastante inerte. Quem tem condições de se manifestar, opta por adotar uma postura inerte, parece até que ainda estamos vivendo na época da ditadura.
ResponderExcluirOlá, Anônimo. Obrigada pela visita e por escolher alocar seu tempo na leitura dos meus textos. É um prazer ter leitores de opiniões diversas. Caso contrário, não teria nem graça escrever... Pra quê? Para todos os leitores dizerem 'Amén'? Acho que dizer 'Amén' é melhor utilizado nas missas católicas. : )
ResponderExcluirGrande abraço