Hoje, depois de passados os dias de tragédia das chuvas de verão na região serrana fluminense, da qual eu já falei aqui, vou publicar o texto de uma mulher inteligente, culta, lúcida nas suas considerações, grande conhecedora de geografia e história, e que escreveu este texto em 19 de janeiro de 2011. Vale a pena ler.
A propósito dos desastres acontecidos recentemente na bela região serrana do nosso Estado do Rio de Janeiro, tomei a iniciativa de abrir esse espaço para colocarmos nossas opiniões e, por que não, nossa indignação com os recentes e com os antigos acontecimentos dessa ordem, acontecimentos que já assistimos em outras épocas, muitos aqui mesmo, na cidade do Rio de Janeiro. Intitulei o tópico com uma pergunta justamente porque, não sendo técnica no assunto, não saberia dizer até que ponto pode ir o crescimento de uma cidade sem que isso cause danos de toda ordem a seus moradores. Por outro lado, como moradora de uma das maiores cidades do mundo (27ª cidade do mundo em população, com 6 323 037 hab., e com uma Densidade Demográfica de 5 234 hab/km2, só na capital, de acordo com os dados de 2010), sinto na pele os problemas de uma urbanização desenfreada e permissiva por parte de quem deveria monitorar esse processo, constantemente.
Aqui no Rio, o crescimento desordenado já se arrasta há muitas e muitas décadas. O fato de sediar a capital da Colônia, depois do Império e, depois ainda, da República, até 1960, deu uma "vocação" de metrópole à nossa cidade com tudo de bom e de ruim que isso possa significar. Salvo alguns curtos períodos o poder público sempre fez vista grossa à expansão desordenada da cidade e isso trouxe uma série de problemas que foram se acumulando ao longo dos anos, apenas com soluções paliativas. Transporte e moradia, dois dos inúmeros problemas dessa cidade e que estão intimamente ligados, em geral, tiveram tratamento superficial, que foram se agravando ao longo do tempo, gerando ocupações ilegais, quase sempre em áreas perigosas por ocasião das famosas "chuvas de verão".
"Famosas" Chuvas de Verão
Se são, há muito, "famosas", é porque são conhecidas, são esperadas as suas ocorrências em diferentes pontos da região. Já ocorreram aqui, na cidade do Rio de Janeiro, causando muitos estragos e perdas de vida. Dessa vez, ocorreram na região serrana fluminense. Se me permitem, vou transcrever agora o meu texto, colocado em outro fórum, falando sobre o assunto e a ligação desse fenômeno com o aquecimento global.
"Não descreio do ‘aquecimento global’ e dos problemas e tragédias que podem acontecer devido a essas mudanças em todo o planeta, causadas, em última análise, pelo homem. Por outro lado, as regiões tropicais (e vou me ater apenas a elas, pois é o nosso caso) SEMPRE, ao longo - no mínimo - dos últimos séculos, tiveram episódios de chuvas intensas, de enchentes, de deslizamentos de morros pois, na realidade tropical, a camada superficial do solo é rala, frágil e protegida apenas pela floresta; a mata existe por causa da chuva (tanto que o nome pelo qual a foresta tropical atlântica também é conhecida é "floresta PLUVIAL Atlântica”) e não por causa do solo, que, em geral, é pobre. Chuvas torrenciais e que perduram por várias horas não são incomuns nessas áreas da encosta da Serra do Mar e já aconteceram muitas vezes. Eu me lembro da enchente de 1966 que atingiu a cidade do Rio de Janeiro, mas também as áreas da serra. Na ocasião, houve um deslizamento próximo à Represa de Ribeirão das Lajes, da Light, e pegou parte da estrada Rio-São Paulo atingindo carros e matando pessoas. E este é só um exemplo de que me lembrei agora.
Pode-se argumentar sobre esse episódio atual, no qual o volume de água e a violência com que ela desceu, arrastando tudo como um tsunami, que é um fato único, nunca visto. Eu não creio nisso. Pode ser que nunca antes tenha sido registrado, mas que nunca tenha acontecido, não creio. Concordo que seja um fato raro, mas não o atribuo ao “aquecimento global." É possível, sim, que a violência com que as águas desceram por aqueles vales estreitos tenha sido aumentada pela ocupação desordenada das margens desses vales, onde houve ocupação irregular, tanto das encostas como das margens dos rios, estes assoreados pelos resíduos ali acumulados. Então, embora eu não acredite que essa ação natural (chuva intensa, formação das cabeças d'água, deslizamento de terras dos morros) tenha ligação direta com o aquecimento global, sendo antes um acontecimento atmosférico e geológico comum de áreas tropicais elevadas e escarpadas, essa ação natural foi transformada numa tragédia pelo número de seres humanos mortos, feridos e desabrigados (coisa que antigamente não existiria ou seria de pequeno porte) e, principalmente, foi uma tragédia pela má atuação do homem perante a natureza da região (e aí, a semelhança com o chamado ‘aquecimento global’), atuação, que ao longo dos últimos anos foi totalmente errônea, não respeitando os limites de segurança e bom senso para a ocupação de uma área tão ‘frágil’.”
Voltando agora às reflexões atuais
Pensando bem, o aquecimento global pode sim, estar diminuindo o intervalo entre esses episódios de grandes chuvas devido ao aqueciemnto das águas dos oceanos, intensificando a evaporação, o acúmulo de nuvens e as chuvas. Na nossa região tropical, úmida desde sempre, esses episódios podem se acentuar. Mas eles já existiam e sempre aconteceram, especialmente em áreas de encostas voltadas para o oceano, como é o caso da região serrana do Rio de Janeiro.
É possível evitar que essas tragédias aconteçam? A chuva, não é possível, mas a tragédia, sim! Mas para isso, medidas "impopulares" teriam de ser tomadas. Afastar as pessoas de áreas de encosta, fornecer moradia adequada e barata em locais mais seguros, fornecer transporte de qualidade para que elas possam se deslocar com rapidez para seus locais de trabalho, incentivar empresas a transferir, não só as fábricas, mas escritórios para locais fora do "centro", facilitando o acesso ao trabalho. Isso, é claro, em cidades grandes como o Rio.
Faço uma analogia com o exemplo de Paris. Em que pese alguns problemas que sempre acontecem em grandes cidades, muitas empresas retiraram suas sedes do centro daquela capital, deixando-a "livre" para o turismo, sua principal vocação hoje em dia, respeitando sua arquitetura e seu traçado e mudaram-se para regiões próximas, como La Defense, onde os "arranha-céus" puderam expandir-se mais livremente, instalando aí muitas empresas que não teriam espaço na área central de Paris. É claro que nem se precisa tocar na questão do transporte que está a anos-luz na nossa frente. Por que não se pode fazer o mesmo aqui?
Talvez, a transferência empresarial esteja, sim, sendo feita aproveitando os grandes espaços da Barra da Tijuca. Mas e a moradia dos trabalhadores? E o transporte? Será que essas novas vias (as "Trans") resolverão os problemas com os BRTs? Tenho minhas dúvidas... Por que estão proliferando favelas na região da Barra? Atribuo grande parte do motivo justamente à questão "transporte/trabalho/moradia". É esse um dos problemas mais sérios dessa cidade e que precisa ser atacado com vigor.
E quanto à região serrana, o ritmo de favelização de toda aquela área é impressionante. E não sou eu quem diz isso. Técnicos, antigos moradores e até "autoridades" reconhecem o processo. E sempre as novas casas, construídas, em geral, precariamente, encontram-se próximas, perigosamente próximas, aos rios ou então são levantadas nas encostas íngremes tendo, para isso, que se derrubar várias - ou muitas - árvores que são a única e frágil proteção daquele solo raso. Não bastando esse tipo de ocupação, das pessoas desavisadas, acrescenta-se a ocupação, irresponsável muitas vezes, de "empreendedores imobiliários" que subornam para poder abrir um condomínio numa área antes florestal, muitas vezes Reserva de Mata, atraindo compradores de maior poder aquisitivo.
Não resta dúvida de que deve ser maravilhoso poder viver, ou passar os finais de semana, em local tão aprazível, longe do burburinho da grande cidade, em meio ao verde e ao canto dos pássaros. Eu amo! Mas será que esse empreendimento é legal? A casa tem estrutura adequada? Como estarão as encostas no entorno? E mais outras tantas perguntas, que eu, como leiga total, não seria capaz de me lembrar em fazer agora.
Quando criança, ia todos os anos para a Colônia do SESC, em Bonclima (logo depois de Nogueira). Íamos de ônibus pela Estrada União e Indústria e me lembro muito bem do caminho percorrido ao longo do Rio Piabanha. Criança que eu era e com uma vivência restrita no subúrbio do Rio, me encantava ao ver aquelas encostas cheias de floresta a perder de vista. As casas eram poucas ao longo do caminho, a não ser nas imediações de Correias e Nogueira. Há cerca de uns 3 ou 4 anos, passei de novo por aquela região. Que diferença! Muito menos verde e casas de todos os tamanhos e aparências, subiam desde a margem do rio até quase o topo. Impressionante o nível de ocupação a que chegou aquela área. Isso apenas para dar um exemplo da ocupação desenfreada à qual os governates fizeram vista grossa.
Como disse o Zuenir Ventura em sua crônica de hoje (19/01/2011), no Globo, "o Brasil é um país estranho: solidário nas desgraças, não consegue tirar lições para evitar que elas voltem a acontecer." Ainda o Zuenir cita hoje uma tramitação no Congresso de um projeto "que é uma espécie de ‘liberou geral’ para as transgressões ambientais. Trata-se do novo Código Florestal, que na prática vai ser ainda mais permissivo em relação às construções no topo dos morros, nas encostas e nas margens dos rios, ou seja, nas áreas de risco, que provocam tantos deslizamentos e mortes. A proposta, aprovada por uma comissão especial, deve ser votada na Câmara em março."
Observem este link http://aleosp2008.wordpress.com/2008/11/29/rio-de-janeiro-as-grandes-enchentes-desde-1711/ que, como o nome já diz, mostra um registro das enchentes na cidade do Rio e em parte do estado do Rio de Janeiro.
Vejam que desde o século XVIII já havia registro desses desastres (sem contar o que aconteceu antes). Em 1756, três dias de chuvas fortes provocaram inundações e desabamentos com muitas vítimas. Em 1811, parte do Morro do Castelo desmoronou e provocou novamente destruição e muitas mortes. O recorte de jornal de 1883 registra em abril, um volume pluviométrico de 223 mm, tal como o que aconteceu agora na região serrana que, segundo os técnicos, deve ter sido dessa monta.
Ontem, estava assistindo um programa de entrevistas no qual uma geógrafa citou o exemplo em que, na década de 60 do século XX (não me lembro se em 66 ou 67), na região de Caraguatatuba, litoral paulista, o volume de chuvas atingiu a marca de 400mm!
Essas citações mostram que o aquecimento global não está tão diretamente ligado a esses episódios. Isso pode acontecer numa área tropical como a nossa, normalmente sujeita a esses fenômenos. O que não é normal, nem admissível, é que o poder público, que está "careca" de saber disso tudo, nunca tenha tomado efetivas providências para impedir, ou pelo menos minimizar, os efeitos danosos sofridos pela população, sem contar os prejuízos para a economia como um todo.
A propósito dos desastres acontecidos recentemente na bela região serrana do nosso Estado do Rio de Janeiro, tomei a iniciativa de abrir esse espaço para colocarmos nossas opiniões e, por que não, nossa indignação com os recentes e com os antigos acontecimentos dessa ordem, acontecimentos que já assistimos em outras épocas, muitos aqui mesmo, na cidade do Rio de Janeiro. Intitulei o tópico com uma pergunta justamente porque, não sendo técnica no assunto, não saberia dizer até que ponto pode ir o crescimento de uma cidade sem que isso cause danos de toda ordem a seus moradores. Por outro lado, como moradora de uma das maiores cidades do mundo (27ª cidade do mundo em população, com 6 323 037 hab., e com uma Densidade Demográfica de 5 234 hab/km2, só na capital, de acordo com os dados de 2010), sinto na pele os problemas de uma urbanização desenfreada e permissiva por parte de quem deveria monitorar esse processo, constantemente.
Imagem aérea mostra deslizamento em morro de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro |
Aqui no Rio, o crescimento desordenado já se arrasta há muitas e muitas décadas. O fato de sediar a capital da Colônia, depois do Império e, depois ainda, da República, até 1960, deu uma "vocação" de metrópole à nossa cidade com tudo de bom e de ruim que isso possa significar. Salvo alguns curtos períodos o poder público sempre fez vista grossa à expansão desordenada da cidade e isso trouxe uma série de problemas que foram se acumulando ao longo dos anos, apenas com soluções paliativas. Transporte e moradia, dois dos inúmeros problemas dessa cidade e que estão intimamente ligados, em geral, tiveram tratamento superficial, que foram se agravando ao longo do tempo, gerando ocupações ilegais, quase sempre em áreas perigosas por ocasião das famosas "chuvas de verão".
Enchente em São Cristóvão em 1910 |
"Famosas" Chuvas de Verão
Se são, há muito, "famosas", é porque são conhecidas, são esperadas as suas ocorrências em diferentes pontos da região. Já ocorreram aqui, na cidade do Rio de Janeiro, causando muitos estragos e perdas de vida. Dessa vez, ocorreram na região serrana fluminense. Se me permitem, vou transcrever agora o meu texto, colocado em outro fórum, falando sobre o assunto e a ligação desse fenômeno com o aquecimento global.
"Não descreio do ‘aquecimento global’ e dos problemas e tragédias que podem acontecer devido a essas mudanças em todo o planeta, causadas, em última análise, pelo homem. Por outro lado, as regiões tropicais (e vou me ater apenas a elas, pois é o nosso caso) SEMPRE, ao longo - no mínimo - dos últimos séculos, tiveram episódios de chuvas intensas, de enchentes, de deslizamentos de morros pois, na realidade tropical, a camada superficial do solo é rala, frágil e protegida apenas pela floresta; a mata existe por causa da chuva (tanto que o nome pelo qual a foresta tropical atlântica também é conhecida é "floresta PLUVIAL Atlântica”) e não por causa do solo, que, em geral, é pobre. Chuvas torrenciais e que perduram por várias horas não são incomuns nessas áreas da encosta da Serra do Mar e já aconteceram muitas vezes. Eu me lembro da enchente de 1966 que atingiu a cidade do Rio de Janeiro, mas também as áreas da serra. Na ocasião, houve um deslizamento próximo à Represa de Ribeirão das Lajes, da Light, e pegou parte da estrada Rio-São Paulo atingindo carros e matando pessoas. E este é só um exemplo de que me lembrei agora.
Pode-se argumentar sobre esse episódio atual, no qual o volume de água e a violência com que ela desceu, arrastando tudo como um tsunami, que é um fato único, nunca visto. Eu não creio nisso. Pode ser que nunca antes tenha sido registrado, mas que nunca tenha acontecido, não creio. Concordo que seja um fato raro, mas não o atribuo ao “aquecimento global." É possível, sim, que a violência com que as águas desceram por aqueles vales estreitos tenha sido aumentada pela ocupação desordenada das margens desses vales, onde houve ocupação irregular, tanto das encostas como das margens dos rios, estes assoreados pelos resíduos ali acumulados. Então, embora eu não acredite que essa ação natural (chuva intensa, formação das cabeças d'água, deslizamento de terras dos morros) tenha ligação direta com o aquecimento global, sendo antes um acontecimento atmosférico e geológico comum de áreas tropicais elevadas e escarpadas, essa ação natural foi transformada numa tragédia pelo número de seres humanos mortos, feridos e desabrigados (coisa que antigamente não existiria ou seria de pequeno porte) e, principalmente, foi uma tragédia pela má atuação do homem perante a natureza da região (e aí, a semelhança com o chamado ‘aquecimento global’), atuação, que ao longo dos últimos anos foi totalmente errônea, não respeitando os limites de segurança e bom senso para a ocupação de uma área tão ‘frágil’.”
Voltando agora às reflexões atuais
Pensando bem, o aquecimento global pode sim, estar diminuindo o intervalo entre esses episódios de grandes chuvas devido ao aqueciemnto das águas dos oceanos, intensificando a evaporação, o acúmulo de nuvens e as chuvas. Na nossa região tropical, úmida desde sempre, esses episódios podem se acentuar. Mas eles já existiam e sempre aconteceram, especialmente em áreas de encostas voltadas para o oceano, como é o caso da região serrana do Rio de Janeiro.
É possível evitar que essas tragédias aconteçam? A chuva, não é possível, mas a tragédia, sim! Mas para isso, medidas "impopulares" teriam de ser tomadas. Afastar as pessoas de áreas de encosta, fornecer moradia adequada e barata em locais mais seguros, fornecer transporte de qualidade para que elas possam se deslocar com rapidez para seus locais de trabalho, incentivar empresas a transferir, não só as fábricas, mas escritórios para locais fora do "centro", facilitando o acesso ao trabalho. Isso, é claro, em cidades grandes como o Rio.
VLT em Paris, França |
Faço uma analogia com o exemplo de Paris. Em que pese alguns problemas que sempre acontecem em grandes cidades, muitas empresas retiraram suas sedes do centro daquela capital, deixando-a "livre" para o turismo, sua principal vocação hoje em dia, respeitando sua arquitetura e seu traçado e mudaram-se para regiões próximas, como La Defense, onde os "arranha-céus" puderam expandir-se mais livremente, instalando aí muitas empresas que não teriam espaço na área central de Paris. É claro que nem se precisa tocar na questão do transporte que está a anos-luz na nossa frente. Por que não se pode fazer o mesmo aqui?
Talvez, a transferência empresarial esteja, sim, sendo feita aproveitando os grandes espaços da Barra da Tijuca. Mas e a moradia dos trabalhadores? E o transporte? Será que essas novas vias (as "Trans") resolverão os problemas com os BRTs? Tenho minhas dúvidas... Por que estão proliferando favelas na região da Barra? Atribuo grande parte do motivo justamente à questão "transporte/trabalho/moradia". É esse um dos problemas mais sérios dessa cidade e que precisa ser atacado com vigor.
EuroTram em Milão na Itália |
E quanto à região serrana, o ritmo de favelização de toda aquela área é impressionante. E não sou eu quem diz isso. Técnicos, antigos moradores e até "autoridades" reconhecem o processo. E sempre as novas casas, construídas, em geral, precariamente, encontram-se próximas, perigosamente próximas, aos rios ou então são levantadas nas encostas íngremes tendo, para isso, que se derrubar várias - ou muitas - árvores que são a única e frágil proteção daquele solo raso. Não bastando esse tipo de ocupação, das pessoas desavisadas, acrescenta-se a ocupação, irresponsável muitas vezes, de "empreendedores imobiliários" que subornam para poder abrir um condomínio numa área antes florestal, muitas vezes Reserva de Mata, atraindo compradores de maior poder aquisitivo.
Não resta dúvida de que deve ser maravilhoso poder viver, ou passar os finais de semana, em local tão aprazível, longe do burburinho da grande cidade, em meio ao verde e ao canto dos pássaros. Eu amo! Mas será que esse empreendimento é legal? A casa tem estrutura adequada? Como estarão as encostas no entorno? E mais outras tantas perguntas, que eu, como leiga total, não seria capaz de me lembrar em fazer agora.
Quando criança, ia todos os anos para a Colônia do SESC, em Bonclima (logo depois de Nogueira). Íamos de ônibus pela Estrada União e Indústria e me lembro muito bem do caminho percorrido ao longo do Rio Piabanha. Criança que eu era e com uma vivência restrita no subúrbio do Rio, me encantava ao ver aquelas encostas cheias de floresta a perder de vista. As casas eram poucas ao longo do caminho, a não ser nas imediações de Correias e Nogueira. Há cerca de uns 3 ou 4 anos, passei de novo por aquela região. Que diferença! Muito menos verde e casas de todos os tamanhos e aparências, subiam desde a margem do rio até quase o topo. Impressionante o nível de ocupação a que chegou aquela área. Isso apenas para dar um exemplo da ocupação desenfreada à qual os governates fizeram vista grossa.
Como disse o Zuenir Ventura em sua crônica de hoje (19/01/2011), no Globo, "o Brasil é um país estranho: solidário nas desgraças, não consegue tirar lições para evitar que elas voltem a acontecer." Ainda o Zuenir cita hoje uma tramitação no Congresso de um projeto "que é uma espécie de ‘liberou geral’ para as transgressões ambientais. Trata-se do novo Código Florestal, que na prática vai ser ainda mais permissivo em relação às construções no topo dos morros, nas encostas e nas margens dos rios, ou seja, nas áreas de risco, que provocam tantos deslizamentos e mortes. A proposta, aprovada por uma comissão especial, deve ser votada na Câmara em março."
Observem este link http://aleosp2008.wordpress.com/2008/11/29/rio-de-janeiro-as-grandes-enchentes-desde-1711/ que, como o nome já diz, mostra um registro das enchentes na cidade do Rio e em parte do estado do Rio de Janeiro.
Vejam que desde o século XVIII já havia registro desses desastres (sem contar o que aconteceu antes). Em 1756, três dias de chuvas fortes provocaram inundações e desabamentos com muitas vítimas. Em 1811, parte do Morro do Castelo desmoronou e provocou novamente destruição e muitas mortes. O recorte de jornal de 1883 registra em abril, um volume pluviométrico de 223 mm, tal como o que aconteceu agora na região serrana que, segundo os técnicos, deve ter sido dessa monta.
Ontem, estava assistindo um programa de entrevistas no qual uma geógrafa citou o exemplo em que, na década de 60 do século XX (não me lembro se em 66 ou 67), na região de Caraguatatuba, litoral paulista, o volume de chuvas atingiu a marca de 400mm!
Essas citações mostram que o aquecimento global não está tão diretamente ligado a esses episódios. Isso pode acontecer numa área tropical como a nossa, normalmente sujeita a esses fenômenos. O que não é normal, nem admissível, é que o poder público, que está "careca" de saber disso tudo, nunca tenha tomado efetivas providências para impedir, ou pelo menos minimizar, os efeitos danosos sofridos pela população, sem contar os prejuízos para a economia como um todo.
Marilda Teixeira é Professora aposentada do Estado do RJ de Geografia e História. Longe dos currículos com quantidade de títulos, o seu é pleno em qualidade.
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Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
Eu gosto de saber sua opinião sobre o que escrevo.
Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!