Eu devo estar realmente muito desatualizada ou talvez alienada das notícias, mas confesso que só hoje tomei conhecimento de mais este caso estarrecedor de violência contra os professores. Àqueles que ainda não conhecem o caso, transcrevo, assim como tantos blogs o fizeram, o texto brilhantemente lúcido que o advogado Igor Pantuzza Wildmann escreveu em analogia ao famoso texto de Émile Zola, J’accuse.
Em 1898, Zola tomou parte no aceso debate público relativo ao caso Dreyfus, publicando artigos em jornais e revistas onde tornou claro aquilo que mais tarde se viria a provar definitivamente: a inocência de Dreyfus. O seu famoso artigo ‘J'accuse’ (Eu Acuso), com o subtítulo ‘Carta a Félix Faure, Presidente da República’, publicado no jornal literário L'Aurore, era tão incisivo que levou à revisão do processo, dando-lhe uma nova dinâmica e que terminaria, anos depois do assassinato de Zola, com a reabilitação do oficial Alfred Dreyfus em 1906, injustamente acusado de traição.
A Notícia
Notícia do Portal G1 de 09/12/2010
Vai ser enterrado na tarde desta quinta-feira, 09/12/2010, o corpo do professor Kássio Vinícius Castro Gomes, que foi esfaqueado por um aluno na noite desta terça-feira, 07/12/2010, dentro de uma faculdade particular de Belo Horizonte, MG. Gomes tinha 39 anos e dava aula no curso de Educação Física, no Instituto Metodista Izabela Hendrix, na região centro-sul de Belo Horizonte.
Amilton Loyola Caires, de 23 anos, confessou que matou o professor, segundo a polícia e o advogado de defesa. Depois de fugir da cena do crime, ele foi preso em casa horas depois. O universitário está detido no Centro de Remanejamento de Segurança Prisional (Ceresp) Gameleira, na capital. De acordo com o delegado Breno Pardini, Amilton Loyola assumiu ter esfaqueado o professor e disse que era perseguido por ele. A motivação, segundo Pardini, será investigada e diverge da versão de testemunhas de que uma nota baixa recebida pelo aluno seria a causa do crime. Ainda segundo o delegado, o aluno disse em depoimento que entrou com a faca escondida na mochila e que pretendia apenas intimidar o professor (sic).
Nessa quarta-feira, 08/12/2010, o advogado Nelson Rogério Leão disse que o cliente sofre de transtorno bipolar e é esquizofrênico. "O professor era exigente, mas nada justifica um ato deste", disse o advogado.
A Publicação do Desagravo
Em 19/12/2010, o advogado Igor Pantuzza Wildmann escreveu a amigos: “Embora há muito tempo desligado daquela instituição, como ex-professor do Instituto Metodista Izabela Hendrix, fiquei profundamente consternado com o caso do universitário que, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca no coração de seu professor, na cantina, em pleno horário escolar, à frente de todos.
Escrevi um desagravo e, em minha opinião, a pérfida ilusão vendida a muitos alunos despreparados, sobre a escola (e a vida) como lugares supostamente cheios de direitos e pobres em deveres, acaba por contribuir para ambientes propensos à violência moral e física.
Espero que, se concordarem com os termos, repassem adiante, sem moderação. A divulgação é livre. Abs, Igor.
O Jornal L'Aurore de 1898 |
Em 1898, Zola tomou parte no aceso debate público relativo ao caso Dreyfus, publicando artigos em jornais e revistas onde tornou claro aquilo que mais tarde se viria a provar definitivamente: a inocência de Dreyfus. O seu famoso artigo ‘J'accuse’ (Eu Acuso), com o subtítulo ‘Carta a Félix Faure, Presidente da República’, publicado no jornal literário L'Aurore, era tão incisivo que levou à revisão do processo, dando-lhe uma nova dinâmica e que terminaria, anos depois do assassinato de Zola, com a reabilitação do oficial Alfred Dreyfus em 1906, injustamente acusado de traição.
A Notícia
Notícia do Portal G1 de 09/12/2010
Vai ser enterrado na tarde desta quinta-feira, 09/12/2010, o corpo do professor Kássio Vinícius Castro Gomes, que foi esfaqueado por um aluno na noite desta terça-feira, 07/12/2010, dentro de uma faculdade particular de Belo Horizonte, MG. Gomes tinha 39 anos e dava aula no curso de Educação Física, no Instituto Metodista Izabela Hendrix, na região centro-sul de Belo Horizonte.
Amilton Loyola Caires, de 23 anos, confessou que matou o professor, segundo a polícia e o advogado de defesa. Depois de fugir da cena do crime, ele foi preso em casa horas depois. O universitário está detido no Centro de Remanejamento de Segurança Prisional (Ceresp) Gameleira, na capital. De acordo com o delegado Breno Pardini, Amilton Loyola assumiu ter esfaqueado o professor e disse que era perseguido por ele. A motivação, segundo Pardini, será investigada e diverge da versão de testemunhas de que uma nota baixa recebida pelo aluno seria a causa do crime. Ainda segundo o delegado, o aluno disse em depoimento que entrou com a faca escondida na mochila e que pretendia apenas intimidar o professor (sic).
Amilton Loyola Caires, de 23 anos, confessou que matou o Prof. Kássio Vinicius Castro Gomes, de 39 anos. |
Nessa quarta-feira, 08/12/2010, o advogado Nelson Rogério Leão disse que o cliente sofre de transtorno bipolar e é esquizofrênico. "O professor era exigente, mas nada justifica um ato deste", disse o advogado.
O Professor Kássio Vinícius Castro Gomes |
Em 19/12/2010, o advogado Igor Pantuzza Wildmann escreveu a amigos: “Embora há muito tempo desligado daquela instituição, como ex-professor do Instituto Metodista Izabela Hendrix, fiquei profundamente consternado com o caso do universitário que, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca no coração de seu professor, na cantina, em pleno horário escolar, à frente de todos.
Escrevi um desagravo e, em minha opinião, a pérfida ilusão vendida a muitos alunos despreparados, sobre a escola (e a vida) como lugares supostamente cheios de direitos e pobres em deveres, acaba por contribuir para ambientes propensos à violência moral e física.
Espero que, se concordarem com os termos, repassem adiante, sem moderação. A divulgação é livre. Abs, Igor.
J’accuse
Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.
Émile Zola
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...)
Émile Zola
Émile Zola
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...)
Émile Zola
Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado "dano moral" do estudante foi ter que... Estudar!). A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares. Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática. No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que "era proibido proibir". Depois, a geração do "não bate, que traumatiza". A coisa continuou: "Não reprove, que atrapalha". Não dê provas difíceis, pois "temos que respeitar o perfil dos nossos alunos". Aliás, "prova não prova nada". Deixe o aluno "construir seu conhecimento." Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, "é o aluno que vai avaliar o professor". Afinal de contas, ele está pagando... E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de "novo paradigma" (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: "o bandido é vítima da sociedade", "temos que mudar "tudo isso que está aí"; "mais importante que ter conhecimento é ser "crítico"." Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno"cliente... Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que "o mundo lhes deve algo". Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Émile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a "revolta dos oprimidos" e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para "adequar a avaliação ao perfil dos alunos";
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu "tantos por cento";
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno "terá direito" de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um "novo paradigma", uma " nova cultura de paz", pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da "vergonha na cara", do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os "cabeças"boas" que acham e ensinam que disciplina é "careta", que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam "promoters" de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de "o outro". A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: "Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo." Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor "nova cultura de paz" que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
Igor Pantuzza Wildmann
Advogado. Mestre e Doutor em Direito Econômico. Professor da Faculdade Metodista Izabela Hendrix, da Faculdade de Direito Milton Campos e da Pós Graduação da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais. Conselheiro Técnico em Crédito Rural da FAEMG – Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Émile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a "revolta dos oprimidos" e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para "adequar a avaliação ao perfil dos alunos";
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu "tantos por cento";
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno "terá direito" de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um "novo paradigma", uma " nova cultura de paz", pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da "vergonha na cara", do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os "cabeças"boas" que acham e ensinam que disciplina é "careta", que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam "promoters" de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Professor Dr. Igor Pantuzza Wildmann |
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de "o outro". A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: "Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo." Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor "nova cultura de paz" que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
Igor Pantuzza Wildmann
Advogado. Mestre e Doutor em Direito Econômico. Professor da Faculdade Metodista Izabela Hendrix, da Faculdade de Direito Milton Campos e da Pós Graduação da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais. Conselheiro Técnico em Crédito Rural da FAEMG – Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais.
Difícil até de comentar um texto tão perfeito sobre um assunto tão estarrecedor como esse. Dr. Igor foi irretocável em sua escrita.
ResponderExcluirGostaria de fazer mais uma acusação para somar a tudo isso: ACUSO os gestores de entidades de Direitos Humanos de banalizar o cidadão de bem e proteger os estrupícios, com o pretexto de que assasino e doente mental como esse aluno também são gente como a gente.
Acho que o foco sobre quem merece atenção de fato está se perdendo, e dedica-se muito tempo para cuidar de quem faz o errado contra o seu próximo e pouco tempo para cuidar das vítimas, principalmente das próximas vítimas...
Nesse mesmo contexto está o direito das crianças, dos adolecentes, e de toda a raça de seres que só conhece seus direitos, mas não foram informados sobre seus deveres. Aliás, que deveres? Dever de estudar para ser bem sucedido? Dever de respeitar o próximo? Dever de fazer uma poupança, um plano de saúde e um seguro de vida? Dever de não matar e não roubar para ir para a cadeia? Dever de não sair por aí engravidando e deixando grávidas? Dever de pensar no próprio futuro e na consequência de seus atos? Muito vago isso tudo.
Com isso minha proposta é que se criem entidades de Valores Humanos, botando para escanteio a de Direitos Humanos, para promover e instigar as pessoas a pensarem no que é bom para elas no presente e no futuro, coisa que as famílias já não fazem mais como antigamente.
Não adianta ter só empresas de consultoria sobre ética nos negócios quando falta ética na vida das pessoas, e ninguém fala sobre isso na mídia.
Como você já sabe, meu otimismo quanto a isso está a baixo de zero...
Abraços, Eliane!
Adriano
Na minha opinião,todos tem o livre direito de dizer e pensar o que quiser sobre o fato que ocorreu, eu como uma cidadã,e academica de serv social ,me dou o direito de dizer e perguntar pra vcs, da sociedade, vcs ja param pra pensar na familia do universitário? da mãe dele,do pai? afinal os pais nao pediu pra ter um filho doente, e outra a sociedade em si, só pensa na familia do professor, que foi destruida pelo Amilton, esquecendo que ele tbm destrui não só a do professor mas sim a sua tbm, então, peço a todos da sociedade que se coloque não somente no lugar da familia do professor e sim o da familia do aluno, ele sim erro e tem que pagar pelo crime cometido, afinal nada justifica tirar a vida do outro, mesmo a pessoa sendo doente como ele. Palavra de uma amiga da familia do universitário.
ResponderExcluirCara Anônima, como você mesma disse, "todos têm o livre direito de dizer e pensar o que quiserem sobre o fato que ocorreu". Respeito sua opinião. Contudo, tenho certeza de que você NÃO entendeu rigorosamente nada do que o Dr. Igor Pantuzza Wildmann escreveu. Uma pena. Obrigada pelo tempo dispensado em ler o meu blog. É um prazer responder aos meus leitores.
ResponderExcluirEliane Bonotto