Aí vai um pouco da história da Favela do Dendê. A ocupação do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, teria se iniciado pela parte mais alta, hoje conhecida como “Centro”, em 1940, segundo dados do Instituto Pereira Passos - IPP. Os primeiros moradores, vindos do nordeste, encontraram no lugar uma plantação de dendezeiros, origem do nome do local.
Durante muitos anos, seus habitantes sofreram ameaças de remoção por parte dos proprietários, o que nunca de fato ocorreu. No início da década de 1960, a resistência foi reforçada pelo líder comunitário conhecido como Antônio Bananeira, fundador, em 1961, da Associação de Moradores local. E daí para frente, o que era um morro verde, legalmente loteado, transformou-se em mais um número, dentre as estatísticas de favelas no Rio de Janeiro. Os donos foram vencidos.
Na Ilha do Govenador quase todos os logradouros têm nomes indígenas. A Estrada do Dendê é um dos logradouros mais antigos da Ilha do Governador, tendo sido citado, inclusive, em crônicas de Rachel de Queiroz. Até meados dos anos 1950, ainda existiam vestígios de uma construção colonial, junto à Avenida Paranapuan. Com a necessidade de reduzir o percurso dos veículos que se deslocavam em direção ao Centro da Ilha, a Estrada sofreu algumas alterações no alargamento e retificação de alguns trechos. Com isto, algumas árvores centenárias acabaram por ficar exatamente dentro da via pública; só bem mais tarde foram retiradas. Nesta foto de maio de 1962, ainda é possível se observar o aspecto do local.
Ao falar da conhecida Estrada do Dendê, alguns moradores e ex-moradores dos bons tempos de tranquilidade do bairro, comentam que “No início dos anos 1950, lembro-me bem das obras de alargamento da Estrada do Dendê. Escavadeiras desbastando o morro, um monte de caminhões tirando terra. Eu era muito criança, ficava vendo este trabalho, sempre que ia cortar o cabelo no Seu Marcelino...”
“A estrada do Dendê teve participação ativa em minha vida. Subíamos o morro do Dendê para armar os alçapões para pegar coleiros, canários etc... Os comércios existentes eram o do ‘Seu Rafael’, na esquina com Paranapuã, ‘Seu Cunha’, ‘Seu Euclides/Firmino’, próximo à subida do morro. E vários campos para jogarmos nossas peladas.”
Uma moradora disse ”Andava tudo ali de bicicleta!!! Era muito tranquilo, meus pais nem se importavam. Mais tarde ia muito com meu marido em um bar que tinha sardinha frita e cervejinha gelada! Hoje, até passar de carro dá medo, credo! Da última vez que estive na Ilha, vi o maior tiroteio perto da Igreja!”
”É verdade, a venda dos portugueses Euclides e Firmino, na subida do morro, com bacalhau exposto à porta, é inesquecível. Passava quase todo dia por ali com minha pipa. O Bar do Rafael não era na Domingos Mondim com Paranapuã? Era lá que comprava as balas Ruth por causa das figurinhas. Você se lembra? O muro que se vê à direita poderia ser o da Escola Lavoisier, da dona Hilda Senna de Oliveira, minha primeira e inesquecível professora.”
”E era a Escola Lavoisier, sim. Minha sogra D.Ruth (que também foi professora lá), agradece o seu carinho pela prima Dona Hilda.”
”A primeira Coca Cola que tomei em minha vida foi no primeiro bar do Seu Rafael. Eu deveria estar com uns 5 ou 6 anos. Lembro-me muito bem do Seu João, Ido, Seu Rafael e suas irmãs. Não sei se alguns ainda estão entre nós. Era uma família muito simpática.”
O antigo Jardim Carioca deu origem aos bairros Cocotá, Tauá, Bancários, Praia da Bandeira e o "novo" Jardim Carioca. A região deve ser o principal centro urbano da costa leste da Ilha do Governador. A principal alteração na região foi o aterro do Saco da Olaria, criando o Parque Manuel Bandeira, por volta de 1968. O parque foi reformado nos últimos anos e em 2006 recebeu a nova Estação das Barcas, substituindo a da Ribeira. É visível o Morro do Dendê inteiramente ocupado por favelas.
A Estrada do Dendê, durante muitos anos, foi a única ligação entre os centros comerciais e a região do areal, atual bairro Portuguesa. Com o loteamento da área localizada junto a Praia do Dendê, que ficou conhecido como Moneró, a estrada passou a ter maior importância, principalmente a partir de 1957, quando os ônibus provenientes do bairro Bancários passaram a utilizá-la como trajeto.
Na junção da Estrada do Dendê com a Avenida Paranapuan, existia até início dos anos 80, uma construção, típica de áreas rurais, que foi demolida para que lá se fizesse uma concessionária de automóveis. Na foto de 1981, percebe-se a esquerda, o corpo principal desta construção e o muro de pedras que a cercava.
Eu realmente gostaria de entender porque, até o início dos anos 1980, as favelas na cidade Rio de Janeiro não tinham a proporção absurda que têm hoje. Elas existiram através de várias décadas, nos anos 50/60 eram enormes e ocupavam as principais áreas da zona sul carioca. Foram removidas. O Governador do então Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, é odiado até hoje por isso. Mas teve coragem de cumprir o seu dever de governador eleito. Governar o estado, mantendo a ordem e provendo a população com serviços essenciais. Nenhum homem público do poder executivo que cumpra seu dever, terá 80% de aprovação da população. Isso não existe, pois não há como agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo.
De 1980 para cá, não me lembro de nenhuma remoção de favelas na cidade. E para ficar ainda pior, o poder público, resolveu, e não é de hoje, que favelas (melhor dizendo, “comunidades”) não se removem. Mas eles podem até incentivar seu crescimento através de obras de maquiagem do tipo, deixar que se tenham serviços de luz, água, principais subidas de acesso asfaltadas, um campo de futebol e o resto fica a cargo das milícias, fornecimento de gás, kombis, moto-táxis e toda parafernália que inexistia na cidade e hoje já está se oficializando. Nem estou contando aqui com algo de que já falei antes, mas que é sempre bom repetir, a especulação imobiliária nas favelas. Esse é um tema que vou abordar em breve, embarcando na onda da notícia de que nosso governador “legalizou” mais de 1500 microempresas em morros com UPP. Por hoje é só. No próximo post externarei toda minha indignação com o que tenho visto acontecer a meu redor nesta cidade, que a TV Globo insiste em dizer que é maravilhosa. Entendo. Então, transfere a sede deles para um bairro do subúrbio carioca. Tenho algumas sugestões: na Penha, próximo ao Parque Xangai, ou em Ramos, talvez. Em Ramos seria bem interessante, pois todos poderiam adotar a prática de aplaudir o pôr do sol diretamente do Piscinão. Que tal?
Durante muitos anos, seus habitantes sofreram ameaças de remoção por parte dos proprietários, o que nunca de fato ocorreu. No início da década de 1960, a resistência foi reforçada pelo líder comunitário conhecido como Antônio Bananeira, fundador, em 1961, da Associação de Moradores local. E daí para frente, o que era um morro verde, legalmente loteado, transformou-se em mais um número, dentre as estatísticas de favelas no Rio de Janeiro. Os donos foram vencidos.
A Estrada do Dendê em 1962 |
Ao falar da conhecida Estrada do Dendê, alguns moradores e ex-moradores dos bons tempos de tranquilidade do bairro, comentam que “No início dos anos 1950, lembro-me bem das obras de alargamento da Estrada do Dendê. Escavadeiras desbastando o morro, um monte de caminhões tirando terra. Eu era muito criança, ficava vendo este trabalho, sempre que ia cortar o cabelo no Seu Marcelino...”
“A estrada do Dendê teve participação ativa em minha vida. Subíamos o morro do Dendê para armar os alçapões para pegar coleiros, canários etc... Os comércios existentes eram o do ‘Seu Rafael’, na esquina com Paranapuã, ‘Seu Cunha’, ‘Seu Euclides/Firmino’, próximo à subida do morro. E vários campos para jogarmos nossas peladas.”
Uma moradora disse ”Andava tudo ali de bicicleta!!! Era muito tranquilo, meus pais nem se importavam. Mais tarde ia muito com meu marido em um bar que tinha sardinha frita e cervejinha gelada! Hoje, até passar de carro dá medo, credo! Da última vez que estive na Ilha, vi o maior tiroteio perto da Igreja!”
”É verdade, a venda dos portugueses Euclides e Firmino, na subida do morro, com bacalhau exposto à porta, é inesquecível. Passava quase todo dia por ali com minha pipa. O Bar do Rafael não era na Domingos Mondim com Paranapuã? Era lá que comprava as balas Ruth por causa das figurinhas. Você se lembra? O muro que se vê à direita poderia ser o da Escola Lavoisier, da dona Hilda Senna de Oliveira, minha primeira e inesquecível professora.”
”E era a Escola Lavoisier, sim. Minha sogra D.Ruth (que também foi professora lá), agradece o seu carinho pela prima Dona Hilda.”
”A primeira Coca Cola que tomei em minha vida foi no primeiro bar do Seu Rafael. Eu deveria estar com uns 5 ou 6 anos. Lembro-me muito bem do Seu João, Ido, Seu Rafael e suas irmãs. Não sei se alguns ainda estão entre nós. Era uma família muito simpática.”
Vista aérea do chamado antigo Jardim Carioca nos anos 1940. Reparem o vazio dos morros. |
O mesmo local numa visão do Google em 2006 |
Esta é a visão que se tem ao chegar no Terminal de Barcas da Ilha do Governador atualmente. |
A Estrada do Dendê, durante muitos anos, foi a única ligação entre os centros comerciais e a região do areal, atual bairro Portuguesa. Com o loteamento da área localizada junto a Praia do Dendê, que ficou conhecido como Moneró, a estrada passou a ter maior importância, principalmente a partir de 1957, quando os ônibus provenientes do bairro Bancários passaram a utilizá-la como trajeto.
Morro do Dendê nos anos 1960. |
Na junção da Estrada do Dendê com a Avenida Paranapuan, existia até início dos anos 80, uma construção, típica de áreas rurais, que foi demolida para que lá se fizesse uma concessionária de automóveis. Na foto de 1981, percebe-se a esquerda, o corpo principal desta construção e o muro de pedras que a cercava.
Estrada do Dendê esquina com Av. Paranapuã em 1981. |
Eu realmente gostaria de entender porque, até o início dos anos 1980, as favelas na cidade Rio de Janeiro não tinham a proporção absurda que têm hoje. Elas existiram através de várias décadas, nos anos 50/60 eram enormes e ocupavam as principais áreas da zona sul carioca. Foram removidas. O Governador do então Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, é odiado até hoje por isso. Mas teve coragem de cumprir o seu dever de governador eleito. Governar o estado, mantendo a ordem e provendo a população com serviços essenciais. Nenhum homem público do poder executivo que cumpra seu dever, terá 80% de aprovação da população. Isso não existe, pois não há como agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo.
De 1980 para cá, não me lembro de nenhuma remoção de favelas na cidade. E para ficar ainda pior, o poder público, resolveu, e não é de hoje, que favelas (melhor dizendo, “comunidades”) não se removem. Mas eles podem até incentivar seu crescimento através de obras de maquiagem do tipo, deixar que se tenham serviços de luz, água, principais subidas de acesso asfaltadas, um campo de futebol e o resto fica a cargo das milícias, fornecimento de gás, kombis, moto-táxis e toda parafernália que inexistia na cidade e hoje já está se oficializando. Nem estou contando aqui com algo de que já falei antes, mas que é sempre bom repetir, a especulação imobiliária nas favelas. Esse é um tema que vou abordar em breve, embarcando na onda da notícia de que nosso governador “legalizou” mais de 1500 microempresas em morros com UPP. Por hoje é só. No próximo post externarei toda minha indignação com o que tenho visto acontecer a meu redor nesta cidade, que a TV Globo insiste em dizer que é maravilhosa. Entendo. Então, transfere a sede deles para um bairro do subúrbio carioca. Tenho algumas sugestões: na Penha, próximo ao Parque Xangai, ou em Ramos, talvez. Em Ramos seria bem interessante, pois todos poderiam adotar a prática de aplaudir o pôr do sol diretamente do Piscinão. Que tal?
A barbearia do Sr. Marcelino era na Freguesia, perto da Igreja. Na Estrada do Dendê, número 315, funcionava a barbearia do meu pai João Pacheco Marinho. A barbearia era no primeiro andar do prédio comercial do Sr. Euclides. Muitos jogadores de futebol frequentavam a barbearia porque o tio do jogador Brito trabalhava lá como barbeiro. Garrincha era freguês do meu pai, trouxe uma navalha de presente para o meu pai da Suécia na ocasião da copa. Maria José Pacheco
ResponderExcluirOlá, Maria José. Que bom que deixou seu depoimento. Muito obrigada pela visita.
ExcluirAbraços,
Eliane Bonotto
Olá, Eliane.Fiquei muito feliz de ver as fotos antigas da Estrada do Dendê. Fiquei relembrando,passei muitos anos da minha vida, desde que nasci, caminhando por essa estrada. Meu pai trabalhou durante muitos anos na barbearia. A barbearia do Sr. Marcelino ficava na Av. Paranapuã - Freguesia.Antes de ter a barbearia na Estrada do Dendê, meu pai, João Pacheco Marinho, trabalhou com o Sr. Marcelino na Freguesia.
ExcluirAbraços,
Maria José Pacheco
Sempre bom saber das histórias de quem as viveu. Legal compartilhar aqui no blog. Obrigada.
ExcluirAbraços,
Eliane Bonotto
Tambem cortava meu cabelo la quando criança... iamos no fusquinha verde de meu pai da praia do Barão ate la para cortar cabelo...
ResponderExcluirTenho muita saudade da Ilha dos meus tempos de criança.
ExcluirGostaria de deixar meu apoio a ideia de um Rio SEM favelas... mas infelizmente somos poucos hoje a lamentar a existencia destas excrescencias na cidade, que a maioria considera um mal necessario e eu poderia dar muitas ideias de como exterminar este mal sem prejudicar as pessoas (des)honestas que la vivem... frisei o (des) pois para mim honesto é quem COMPRA um lote regular e constroi... Abraços de um saudoso insulano que deixou o antigo paraiso, por ter se tornado o inferno.
ResponderExcluirOlá, Flávio.
ExcluirFico feliz de ver que não estou tão sozinha nas minhas ideias. Vou falar pouco senão escreverei uma novela por conta desse assunto (que me tira do sério!). Pena que você não deixou seu email. rsrs
Sua frase "honesto é quem COMPRA um lote regular e constrói", é exatamente o que eu penso. O mais incrível é que não consigo entender porque NINGUÉM mais pensa assim.
Quanto ao "saudoso insulano que deixou o antigo paraíso, por ter se tornado o inferno", é exatamente assim que me sinto, vivendo no inferno. Sou uma das pouquíssimas pessoas que não acham favelas um lugar maravilhoso para se viver. Os cariocas já se apossaram, muitos inconscientemente, do fato de que a favela é o glamour da cidade, a favela é cult, e outros quetais. Só não entendo porque não se mudam para uma delas.
Não sei quanto tempo mais eu vou aguentar morando no inferno.
Obrigada pela visita.
Abraços,
Eliane Bonotto
Postagem repleta de preconceito e racismo social, tanto da sua autora como dos comentaristas da postagem.
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