domingo, 15 de maio de 2011

O Epítome da Igreja

Não sou praticante de nenhuma religião em específico e, ao mesmo tempo, sinto-me parte viva e ativa da natureza, no mais amplo sentido da palavra.

Há críticos vorazes da Igreja Católica. Não me considero uma crítica voraz, mas tenho de admitir que a instituição Igreja, aliás as religiões como um todo, não me agradam. Como sou uma pessoa extremamente curiosa em relação a tudo, e também como gosto da história das civilizações, costumo procurar saber o porquê de tudo, principalmente quando posso buscar analogias na história.

Os seres humanos têm um lado racional que nos leva a pensar e a questionar as idéias. Contudo, o que ainda não consigo entender totalmente é porque todo homem, desde o mais humilde até o mais poderoso, quando está próximo de algo horrível, uma dor, doença incurável, ou próximo daquela senhora que tanto tememos, a morte, torna-se o maior e mais fervoroso crente em algo superior, que ainda não sabemos o que é, mas todo e qualquer ser dessa raça que chamamos de humana, clama pelo mesmo nome, Deus. Tenho cá minhas ideias, mas disso eu falo em outro post.

Li no Jornal O Globo Online de 11/05, uma entrevista com o escritor britânico, David Yallop, que não por acaso, está lançando seu livro ‘Poder e Glória’, sobre o lado obscuro do papado do recém-beatificado Karol Wojtyla. David Yallop se diz um católico pensante. Gosto de saber que há pessoas que pensam e questionam as coisas, religiões, governos, sociedade, tudo. Sem os questionadores, não haveria evolução humana no planeta. Ao ler a entrevista, identifiquei-me em vários aspectos com a opinião do escritor. Para ser bem sincera, penso que a Igreja, sobrevive exatamente de manipulação, corrupção e tudo de ruim inerente a um Estado teocrático. O Papa, qualquer que seja ele, precisa ser político, de preferência um Estadista, até porque o Vaticano é o menor Estado soberano do mundo.

Pois é, eu concordo com o Sr. Yallop que a Igreja Católica Apostólica Romana, a do Vaticano, nunca teve autoridade moral ou dignidade, desde sua prisca criação, como guardiã do ideário de Cristo. Contudo, o Vaticano não é o único Estado teocrático do mundo. O Estado teocrático ocorre quando há uma mistura de Direito com Religião, em que o Líder do Estado é ao mesmo tempo um líder religioso. O Estado, então, adota uma religião oficial e todos são obrigados a segui-la. Um exemplo típico é o Irã, regido pelos Aiatolás.

O retorno de Komeini ao Irã nas asas da Air France.
Sobre a beatificação-relâmpago do Papa João Paulo II, a pressa é um dos motivos que mais desperta a atenção dos olhos da mídia, todos voltados para o Vaticano. David Yallop diz que Karol Wojtyla se tornou Papa, tudo o que se diz sobre ele são grandes mentiras. Bem... Quanto a isso, nada posso dizer, pois teria de pesquisar em fontes fidedignas para afirmar qualquer coisa. E esse texto é apenas um post de um blog. Há aqueles que afirmam que Karol Wojtyla era um homem de caráter impoluto desde menino, passando pelos horrores da II Grande Guerra, até chegar ao Papado. Já David Yallop diz que a imagem que fizeram dele, por exemplo, “se comportando de forma corajosa durante a II Guerra Mundial e que salvou as vidas de muitos judeus, não é verdade”. Outro exemplo, “sofrendo muito durante a guerra, trabalhando em condições de escravo, também não é verdade; ele tinha um trabalho assalariado, pago pelo Reich”. Portanto, neste ponto, prefiro manter-me neutra como uma suíça.

Padre fazendo a saudação à Hitler num rally da juventude católica no Estádio Berlin-Neukolln em Agosto/1933, foto de Daniel Jonah Goldhagen

Há, entretanto, um fato do qual eu nunca ouvira falar até então. Esta é a primeira beatificação, desde que João Paulo II morreu, que ocorre sem a presença do que o Vaticano costumava chamar de "advogado do diabo", ou seja, um clérigo sênior que era nomeado para tomar uma posição bem crítica em relação a todas as provas que fossem reunidas para que qualquer pessoa fosse considerada para o processo de beatificação. Porém, essa posição foi abolida, ironicamente por João Paulo II. Então, ele se beneficiou de sua própria decisão. Achei este fato oportunamente sutil.

David Yallop é ainda defensor da tese de que João Paulo I foi assassinado porque queria acabar com a lavagem de dinheiro feita por meio do Banco do Vaticano, que investigou para seu livro. O Banco do Vaticano era o principal parceiro do Banco Ambrosiano. O Banco Ambrosiano, posteriormente renomeado de Banco Ambrosiano Veneto, após a fusão com o Banco Católico do Veneto, foi um dos principais bancos privados católicos italianos. Com a súbita morte do Papa João Paulo I em 1978, surgiram rumores de que haveria ligações com as operações ilegais daquela instituição. Quem viu o Poderoso Chefão III, sabe que o retrato da Máfia ficaria incompleto se não fosse mostrado seu avanço até o Vaticano. No filme, a ”teoria” é de que o Papa João Paulo I foi “assassinado” e que o crime estaria vinculado ao escândalo do Banco Ambrosiano, ligado à Santa Sé. O Banco do Vaticano foi também acusado de trabalhar com fundos ilegais do Sindicato Solidariedade. Estamos aqui no campo da teoria, mas que essa é uma teoria muito próxima da realidade, não há como negar. Um Papa ser eleito, o povo ver a fumaça branca sair da chaminé. Habemus Papam... E o seu papado durar 33 dias!!! Ahh, meus amigos, sem querer fazer trocadilho, onde há fumaça, há fogo. Na minha opinião pessoal, foi exatamente isso que aconteceu. Notem que escrevi “na minha opinião pessoal”.

David Yallop acredita que Karol Wojtyla, o seu sucessor no comando da Santa Sé, era corrupto, leniente com a pedofilia e extremamente político. O extremamente político, faz parte da vida contemporânea. Talvez seja um engano de tradução. O fato é que em seu livro ‘Poder e Glória’, Yallop denuncia a corrupção no Vaticano. E explica, “João Paulo I, Albino Luciani, deixou uma série de ações que ele começaria a implementar, ele ia tirar pessoas do Banco do Vaticano, tirar alguns padres e cardeais corruptos. E ele disse ao seu Secretário de Estado, o Cardeal Jean Villot, o que ele pretendia fazer. O cardeal ficou muito chateado com isso e João Paulo I disse que era o Papa e podia fazer o que quisesse. Foi para a cama e morreu”. Aliás, é assim mesmo que se passa o ocorrido no filme de Francis Ford Coppola, The Godfather: Part III (O Poderoso Chefão III).

A acusação de corrupção por parte de Yallop se baseia no fato de que Wojtyla ocupou o lugar de João Paulo I, um mês depois de sua morte e que os planos de Albino Luciani foram detalhadamente passados a ele. Karol Wojtyla, entretanto, não queria prosseguir por aquele caminho. Baseado nisso, o escritor acusa o Papa João Paulo II de corrupto, já que sua reação perante a notícia de corrupção no Banco do Vaticano foi ignorada.

Concordo, que o correto teria sido o novo Papa tomar providências quanto à corrupção. Mas se o João Paulo I, tinha acabado de ser assassinado por conta disso, o João Paulo II iria mexer nessa casa de marimbondos para um mês depois morrer também? Qualquer um no lugar dele teria feito o mesmo.

Contudo, o Papa João Paulo II foi peça fundamental no sopro que faltava ser dado para a cortina de ferro ruir, levando com ela o muro de Berlim e, consequentemente, uma nova ordem mundial. Não estou discutindo se ela é melhor ou pior que a antiga. Estou apenas dizendo que houve uma mudança. Apenas isso.

Sobre a leniência com a pedofilia, sabe-se que ela custou ao Vaticano US$ 10 bilhões em indenizações às vítimas. E se tentássemos “comparar” a corrupção no Banco do Vaticano com a pedofilia? O que seria mais fácil de combater? Eu diria, a pedofilia. Mas... Em que alas da Igreja o Papa teria que esbarrar? Essas alas seriam menos radicais do que as corruptas? E se um dos Papas João Paulo, o I ou o II, tivesse erradicado a corrupção e a pedofilia da Santa Igreja, haveria paz no oriente médio? Os Aiatolás devem estar atolados até o pescoço num mar de lama semelhante. Numa mistura de lucro com as guerras “santas”, corrupção e ”tutti quanti”. Do mesmo modo estão os déspotas no continente africano. Vivendo como reis (um louco desses chegou ao ponto de se auto-coroar rei, com direito a coroa, manto vermelho, cetro e tudo mais) enquanto a população vive em guerra civil ad infinitum. Até porque, se não houver mais guerras no mundo, para quem os EUA venderão parte do seu PIB em armas?

Ele fez de tudo para os aiatolás voltarem ao poder no Irã
Depois de termos todos os mortais de todos os continentes massacrados, e até já resignados, basta colocarem umas moedinhas em ONGs espalhadas pelo mundo e ainda sair da confusão como o mocinho da história toda. Sobre as ONGs já falei há algum tempo.

Só não posso terminar sem dizer uma última coisa, falar a vocês de um dos negócios mais rentáveis atualmente, e totalmente dentro das leis vigentes no país. Abrir uma igreja. A Católica Apostólica Romana, já tem “dono”, o Vaticano. Entretanto, apesar de já existirem há tempos, as igrejas criadas por Lutero, Henrique VIII, chegando até o Bispo Macedo no século XX, podem-se criar tantas igrejas quantas forem necessárias segundo as convicções das sociedades mundo afora. Aqui falei de igrejas, não necessariamente de religiões.

Agora me digam, desde a Santa Inquisição não mudou alguma coisa?


É mais fácil abrir uma igreja do que um boteco no Brasil...


Um comentário:

  1. Eliane, seu blog continua incrivelmente bom de ser lido, mesmo quando temos opiniões diferentes a respeito de algum tema.

    Nesse caso ela difere apenas no quesito conceitual de "seguir a Deus", pois em relação ao papel de muitas igrejas diante da sociedade, "Deus" é apenas um pretexto para se manipular pessoas através de sua fé, e concordo com cada palavra sua a respeito da igreja católica. E amplio esse tema para diversas igrejas ditas "evangélicas", que mesmo não santificando seres humanos para serem adorados depois de mortos, exercem sua influência para cumprir um papel muito mais comercial do que espiritual na vida das pessoas.

    Conheço uma igreja que não faz propaganda em rádio ou TV, não reúne fiéis em praça pública, não produz panfletos para distribuição, não realiza arrastões para evangelização gratuíta porta a porta, não realiza cultos específicos para busca de curas ou milagres, não utiliza livros de série para estudos (utilizam apenas e simplesmente a Bíblia), não envolve-se com a política, não pede e nem exige o dízimo, e que principalmente e por mais atípico que isso pode parecer, ninguém que "trabalhe" lá seja remunerado pela igreja ou pelos fiéis. Todos têm seu próprio emprego e exercem seu ministério sem receber um único centavo da igreja.

    Lá prega-se a salvação da alma a quem servir a Deus (e não à igreja). Lá você vai para adorar a Deus, e não para pedir-lhe conforto e favores como se Deus fosse uma espécie de gênio da lâmpada distribuindo cura, dinheiro e emprego, mesmo sabendo que Ele pode e faz tudo isso segundo Seu próprio propósito. E sabe o que é mais impressionante: essa igreja não pára de crescer em número de templos e de pessoas convertidas. Seu nome é Congregação Cristã no Brasil. Eu poderia falar muito sobre ela a você, mas não tenho esse objetivo (não quero ser invasivo) a não ser que você me faça alguma pergunta e eu responderei. A melhor forma de conhecer como é a relação desse povo que a frequenta com Deus é indo lá e assistindo um ou dois cultos. Eu te faço esse convite para que você, caso ainda não a conheça, veja como são as coisas por lá. Vá a qualquer um dos templos às 19h30 e assista ao culto com o propósito de saber se Deus realmente está ou não na vida dessas pessoas, e porque tanta gente O adora ali.

    Grande abraço!
    Adriano

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