sábado, 4 de junho de 2011

O Rio de Janeiro continua lindo... Aquele Abraço!

Caros leitores, não sei se é só comigo, mas há uns três anos tomei um horror da cidade do Rio de Janeiro que já me policio para não falar tão mal da ex-cidade maravilhosa. Contem-me, por favor, urgentemente, onde está esta tal “cidade maravilhosa” que vocês ainda estão vendo, porque eu, definitivamente, não a encontro mais em lugar algum. De norte a sul, de leste a oeste, só vejo desrespeito, desmando, insensatez, corrupção, e uma das maiores causas disso tudo, a total inversão de valores pela qual, não só o Brasil, mas o mundo está passando. Nesse quesito não somos privilegiados.

O que me dói é que eu mesma, em plenos anos 70 (antes do início das obras do metrô) flanava tranquilamente pelas calçadas da Tijuca, um bairro delicioso, que tinha de tudo e não fica na zona sul da cidade. Andava pelas ruas Santo Afonso e Antonio Basílio, cheias de vitrines de rua (isso foi antes de o Shopping Rio Sul aparecer em 1981), e subia a rua José Higino até chegar na Aliança Francesa na rua Andrade Neves. Fazia isso três vezes por semana. E era agradável ver as calçadas limpas. Obviamente não era o paraíso, mas nem de longe era o que é hoje. Eu via as pessoas bonitas caminhando, algumas mais jovens, apressadas indo para a escola, cursos; outras, um pouco mais velhas, fazendo compras, numa época em que ainda tínhamos a Casa Sloper na Praça Sáenz Peña, os cinemas de rua em seus prédios art-déco, o Carioca, o América, o Metro. A Tijuca nos anos 70 era uma "Ipanema" na zona norte. E não ficava nada a dever, viu?! Em 76, foram iniciadas as obras do Metrô na Praça desfigurando-a completamente. Após as obras, a Praça até foi restaurada, mas já não era mais a mesma praça, faltava toda a atmosfera de antes. Assim como a Tijuca, a minha Ilha do Governador, bairros considerados verdadeiros “oásis” na zona norte, foram “esgotados, consumidos”. Os moradores, assustados, mudaram-se quase todos para a Barra da Tijuca pensando que viveriam no paraíso. Vã ilusão. Hoje, até a Barra e o Recreio já estão se degradando.

Em pleno século XXI, tenho de escrever assim para me conscientizar de que os anos 19XX já passaram e eles pertencem a um outro século. Há dez anos neste tão aclamado século XXI, há horas, dias, semanas até, durante os quais não quero saber o que foi ou será noticiado pela imprensa brasileira, que cai no nosso mesmo problema crônico, manipulação da população, o que não deixa de ser um enorme derespeito, e por aí vai. São tantas coisas acontecendo simultaneamente na cidade e no país, que a minha mente não consegue digerir. Chega. Às vezes, dou um basta e não ligo a TV, não leio os jornais, nada. E para quê? As notícias são as mesmas. Podem até ter outro nome, mas são, na sua essência, exatamente a mesma coisa daquilo que sempre foi, e não é de hoje; esse problema é historicamente crônico.

Não agüento esse “mais do mesmo” em tom de sensacionalismo barato. A cada semana a imprensa nos lava os cérebros em espasmos. Uma semana é dedicada à matança da escola em Realengo. O que aconteceu às primeiras horas da manhã, à tarde já está com “especialistas” nos estúdios de TV para “explicar” o que aconteceu. Como meros cidadãos, eles também são pegos de surpresa. Mesmo assim, há uma necessidade ansiosamente importante de se arrancar do âmago do assunto uma “explicação”.

Aqui faço um parêntese. É exatamente nessa hora do súbito, do inesperado, que a imprensa chancela profissionais de várias áreas como “especialistas”. E dali para esses “especialistas” serem convidados para fazer palestras em universidades e todo tipo de eventos é apenas um pulo. Isso é uma “indústria” que me assombra. Como existe gente que vive disso!

Voltando ao rodízio semanal de notícias espetaculosas, quando você pensa que o poder público está trabalhando para prevenir outros eventos daquele tipo e que a vida voltou ao normal, começa uma nova semana. Mas é claro, nós não vivemos uma semana após a outra? Pois a imprensa também.

O show não pode parar. Temos a “novela” Palocci, a qual recuso-me a assistir. Enquanto a imprensa debate se o Palocci deve ou não se explicar, a população está fazendo seu dever de casa direitinho, conforme o “professor” mandou. “Isso é só uma marolinha. Se o povo parar de consumir, as empresas não terão o que fabricar, já que não haverá ninguém para comprar e, então, haverá desemprego.” Certamente, caro metafórico “professor”. Todos às compras! Principalmente a classe emergente. Só que esse assunto foi mostrado pela imprensa há algumas aulas. Não podemos perder tempo com aulas de recuperação. Todo o conteúdo programático deverá ser exposto durante os quatro anos letivos da “professora” interina.

Então, segue a pauta. O real está anabolizadíssimo, mas como explicitar esse item para os alunos? Por enquanto, não se explicita nada. Pára tudo porque há que se revisar os livros que o Ministério da Educação comprou. Ahhh... Sim, estamos na nova semana. O assunto agora é o livro "Por uma vida melhor" de uma das controversas autoras, a “professora” Heloisa Ramos. “Mas eu posso falar ‘os livro?'. Claro que pode", diz um trecho do livro, que, no entanto, alerta que, caso os alunos deixem de lado a norma culta, podem sofrer ‘preconceito linguístico’". Como o país quase não tem problemas sérios para resolver, damo-nos ao luxo de ocupar o tempo da Defensoria Pública da União no Distrito Federal para tratar de mais essa pérola. É... Depois que nos tornamos país emergente, ficou tudo tão chique, não?! Mas se vocês pensam que não houve a fase dos “especialistas” nas TVs, rádios e internet, enganaram-se. Eles estavam lá, sim. Afinal de contas, país emergente que preze tem seus processos funcionando perfeitamente bem.

Vamos dar só uma olhadinha muito rápida no dever de casa da população. Ahh... Gente, sem problemas. Estão mais obedientes do que nunca. O consumo está indo de vento em popa. Prova disso, é que os brasileiros estão até viajando para o exterior em números consideráveis, mesmo com os 6.5% de IOF no cartão de crédito. Já dei até uma conferida básica no bíceps do Real e ele está mais anabolizado do que nunca. Está tudo como Deus quer e o diabo gosta.

Já podemos começar outra semana, não é mesmo? Lógico! ”Milhares de manifestantes invadiram o quartel no Rio de Janeiro e 439 foram detidos”. Só que dessa vez os manifestantes são os integrantes da mais nobre e honrada corporação brasileira, no auge dos seus 155 anos de existência. Corporação cuja principal missão consiste na execução de atividades de defesa civil, prevenção e combate a incêndios, buscas, salvamentos e socorros públicos. O Corpo de Bombeiros é Força Auxiliar e reserva do Exército Brasileiro, e integra o Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil. Quando alguém está se afogando no mar, são eles que fazem qualquer coisa para salvar a pessoa. Quando há um incêndio ou um desabamento, eles estão lá, ativos e incansáveis, para salvar vidas. Toda e qualquer vida, sem privilégios, todas as vidas são igualmente importantes e valiosas. Vocês já ficaram presos em algum elevador antigo? Já? Qual foi a primeira “pessoa” que vocês pensaram em chamar, além de Deus? Pois é. São esses ”vândalos”, que tão dignamente zelam por nossas vidas e, quando necessário, salvam-nas laboriosamente. Ou não foi assim nas várias tragédias acontecidas no Rio de Janeiro, geralmente causadas por descaso do poder público que não cumpriu o seu dever?

Vamos nos lembras de umas poucas mas de grandes proporções? As chuvas na região serrana fluminense neste verão. O Morro do Bumba em Niterói. Agora deem um salto para o passado e cheguem até 1971, quando o elevado Paulo de Frontin desabou. Lembraram-se das cenas? Pois são estes os homens que recebem um salário aviltante e que recuso-me a citar aqui. A reivindicação dos bombeiros é por um salário de R$ 2.000,00. O governador só pode estar brincando quando diz que fará o salário dos “vândalos” chegar a R$ 2.000,00 em cinco anos. Isso porque, se vocês pararem para pensar, esse valor ainda é humilhante para os “vândalos”. 

Penso também que o governador precisa de alguém para refrescar-lhe a memória, pois antes do derradeiro acontecimento, há quatro anos que estes mesmos “vândalos” vêm reivindicando natural e formalmente um salário decente. Como foi a resposta do poder público a essa situação? ”Bombeiros podem pegar 12 anos de prisão, diz coronel.” ”Governo do Rio de Janeiro troca comando dos bombeiros”. Ei, população, nada de parar de fazer o dever de casa, não! O “professor” está esperando pelo dever prontinho. Temos de nos “destrair” com as notícias, não nos preocuparmos com elas a ponto de pensar em fazer alguma coisa. Não é esse o enuciado do dever. Prestem atenção.

Outra pergunta é “aonde esteve a população do Rio de Janeiro durante esses quatro anos?” Ora, a população nem sabia que os bombeiros ganham o mesmo que os professores, não é? A população não sabe que um bombeiro sequer pode trabalhar em três quartéis para triplicar o salário. Não são apenas os professores que precisam ser respeitados. Há outros profissionais que também precisam de respeito, mas muitos segmentos da sociedade não têm representantes no congresso brasileiro.

O dia quando a população despertar desse sono letárgico de estagnação do pensar, contra essa pasmaceira que se nos apresenta, desse desinteresse, dessa indiferença, dessa apatia, certamente, não seremos a 1ª economia do mundo. E nem é necessário. Mas seremos um país no qual não teremos mais tantos estranhos no ninho, dando murro em ponta de faca. Porque é apenas e exatamente isso que quem está no poder deseja da população, desde os tempos do Império. Não importa o regime de governo, desde que a população consiga ceifar aqueles que ditam o que os governos devem ou não devem fazer para ambos lucrarem, desde os escravocratas e ruralistas até os lobistas de hoje, que são as grandes empresas privadas que vivem num eterno "parasitismo e simbiose" com os governos.

Uma dúvida. Para que servem mesmo os recursos do PAC? Ahh, sim, que cabeça a minha! São os recursos dos teleféricos, das “bolsas-tudo” e da enorme maquiagem que será feita nas favelas até 2016. E por que eu falei tudo isso? Foi porque eu assisti a um clip no Youtube que fez ferver meu sangue italiano. Vejam o exemplo máximo do que se pode chamar de “falar sem dizer nada”. Ahh, sim... E a pessoa que fala não ganha o salário de um bombeiro. Pensem nisso. Reflitam.





2 comentários:

  1. Eliane,

    Excelentes ponderações. Parabéns pelo texto!

    Vieira

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  2. Francisco, este comentário vindo de você, tem peso. Até inflou um pouquinho meu ego. rsrsrsrs

    Abraços,
    Eliane Bonotto

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Tô só de olho em você...
Já ia sair de fininho sem deixar um comentário, né?!
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Não tem de ser só elogio... Quero sua opinião de verdade!