terça-feira, 19 de julho de 2011

Onde está sua nostalgia?



Alegria no tanque !!!  É mole ?


O peixe morre pela boca, não ?! Pois, então, se nem o sabão em pó Rinso mexeu com seu lado nostálgico, quem sabe uma casquinha de sorvete da Kibon numa lanchonete/sorveteria típica do final dos anos 60 ?! 


E você ? Existe algum produto que tenha marcado sua juventude ou infância ?


domingo, 17 de julho de 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Os fatos além das ideologias políticas

Quem pensa que preocupação com favelas e suas remoções traz no rótulo o nome de Carlos Lacerda estampado, está enganado. Nos anos 40, a administração pública do Rio de Janeiro já se preocupava com a ocupação irregular da então Capital Federal.

Nada melhor que um exemplo. Hoje, no terreno onde se encontra o 23º BPM, no Leblon, havia a favela do Largo da Memória, cuja remoção se deu bem antes da gestão de Lacerda no Estado da Guanabara. A remoção desta favela e mais algumas pequeninas no entorno, deu origem ao Parque Proletário da Gávea, em 1942, numa zona industrial decadente, cortada pelo rio Rainha que desce do topo da Gávea rumo ao canal da Marquês de São Vicente.


A Unidade Proletária da Gávea hoje, com a Lagoa-Barra pasando por debaixo do prédio.

Os parques proletários foram a primeira política habitacional do governo para a população de baixa renda. Mas, na verdade, foi mais do que apenas uma política habitacional, foi uma política de controle de uma parcela da população que estava muito solta e precisava ser neutralizada. A visão “cor-de-rosa” que alguns moradores antigos têm dos parques é totalmente explicável porque a maioria tinha acesso a serviços que hoje ainda não existem em seus bairros. Em compensação, naquela época não havia o clima de liberdade e reivindicação de hoje. Por isso era mais fácil aceitar o clima de controle que existia, afirma o sociólogo Marcelo Bauman Burgos, autor do artigo ‘Dos Parques Proletários ao Favela-Bairro’, publicado no livro “Um século de favela”. Ainda segundo o sociólogo, “essa idéia casava muito bem com a proposta do Getúlio Vargas, presidente da República de 1930/45 e 1951/54 de moldar a população com o ‘ethos’ do trabalho”. 


O arquiteto Reidy e sua companheira vendo o projeto ser construído.

Casa de dois quartos com vista para o verde, vizinhança silenciosa, localização privilegiada e acesso garantido à escola, creche e cursos profissionalizantes. A oferta parecia irrecusável. E realmente era. A família da aposentada Elenice da Silva Cavalcanti, de 65 anos, não pensou duas vezes na hora de aceitar a proposta de trocar a antiga comunidade do Largo da Memória, no Leblon, pelo Parque Proletário da Gávea, também na abastada Zona Sul carioca, construído em 1942 em plena Rua Marquês de São Vicente, na época cercada por chácaras. Uma década depois, esse parque que era formado por barracões, em 1952, já estava totalmente deteriorado e em péssimas condições sanitárias.


Flagrante da precariedade dos Parques Proletários; dez anos de inércia do poder público.
O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como “Conjunto do Pedregulho”, foi projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy a partir de 1947, para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal. Localizado no bairro de São Cristóvão, o Conjunto do Pedregulho compõe a face social da arquitetura de Reidy, ao lado da Unidade Residencial da Gávea (1952).

Unidade Residencial da Gávea já em fase final de construção.
Reidy criou um prédio em forma de “serpente”, tanto para o Conjunto do Pedregulho quanto para Unidade Residencial da Gávea. Além do prédio em si, havia outras edificações, como era bem de seu estilo, como posto de saúde, escola etc.
Vemos aqui a maquete do projeto completo e nunca totalmente executado, a Auto Estrada Lagoa Barra, já planejada naquela época passaria abaixo do nível do urbanismo do conjunto, não interferindo na circulação dos pedestres, e eliminando grande parte do ruído do tráfego.


Maquete da Unidade Proletária da Gávea

Bem daqui para frente, os relatos continuam, com a história sendo contada sob um viés político, ao gosto e à conveniência de cada um que conta. Na minha opinião, esses relatos ideológicos só acabam por distorcer os fatos.

Conjunto do Pedregulho em construção em São Cristóvão
O que eu não vi em nenhum momento foram comentários sobre o que foi feito do Conjunto do Pedregulho, por debaixo do qual não passa nenhuma super avenida, nada fora da normalidade de um bairro decadente como todos os do subúrbio carioca.


Atual estado de conservação do Conjunto do Pedregulho.


Atual estado de conservação da fachada do Conjunto do Pedregulho.
Lamentável mesmo é ver que nenhum homem público se preocupa com a infraestrutura da cidade que administra. Ocupação ordenada dos espaços e territorialização da cidade a fim de não deixá-la se transformar em megalópole inadministrável, transportes públicos eficientes e não poluentes, água e saneamento básico, energia etc etc etc, enfim, gestão urbana verdadeira. Creiam que isso existe e não precisamos estar na “era de aquarius” para termos acesso a tudo isso. Tudo isso já existe há séculos, no mínimo três.

Fonte: Andre Decourt, Fotolog ‘Foi um Rio que Passou’, 2004


quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Tempo Não Parou no Galeão

Observem esta foto histórica. 

Entrada da Base Aérea do Galeão em 1954


É a entrada da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, durante o inquérito policial militar sobre o assassinato do Major Vaz, que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Naquele ano, após o jornalista Carlos Lacerda ter sofrido um atentado atribuído a Gregório Fortunato, chefe da Guarda Presidencial, que levou à morte do Major Rubens Vaz, da Aeronáutica, instalou-se na Base Aérea do Galeão a chamada “República do Galeão”. Este nome foi dado, à época, pela imprensa para o IPM feito a fim de apurar o atentado e, principalmente, a morte do Major. Há quem diga que houve intenção de, mesmo que indiretamente, atingir o então Presidente da República, Getúlio Vargas. O que, posteriormente, culminou no suicídio de Getúlio Vargas foi uma sucessão de outros fatos.

Se você pensa que estávamos falando de um passado não tão distante como foi o ano de 1954 (e realmente estávamos), observem esta outra foto. Sim, a foto é outra, mas o local é o mesmo. 


Portal principal da Aviação Naval da década de 1930

Este é o Portal da Aviação Naval na década de 1930, fotografado de frente, num endereço que certamente era Praia do Galeão, pois estávamos num tempo em que ainda não havia a estrada do Galeão. Mesmo décadas mais tarde, na de 1960, por exemplo, quando meus pais moravam no Galeão, nosso endereço era Praia do Galeão nº 150. Hoje, este endereço é apenas uma referência histórica, pois algumas quadras foram demolidas para dar lugar à Estrada Vinte de Janeiro (esta data tem um motivo), que dá acesso ao atual Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

Em novembro de 1921 foi criado o Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro. O local escolhido foi a Ponta do Galeão, nos terrenos ocupados pela Escola de Aprendizes de Marinheiros. Após a conclusão das obras em 1924, mediante a construção do Centro de Aviação Naval, de uma pista de concreto e do Centro de Aviação Naval, o complexo já estava em pleno funcionamento.

Já em meados da década de 30, existia a idéia da criação do Ministério do Ar, independente do Ministério da Guerra. Até porque o mundo caminhava neste sentido. Em 1918, a Inglaterra criou a sua RAF – Royal Air Force. Em 1923, a Itália criou a Reggia Aeronáutica. Em 1928, a França criou a Armée de l’Air. Oficiais mais antigos e entusiasmados deram corpo à campanha do Ministério do Ar, liderada pelos Tenentes Coronéis Ivo Borges e Armando de Souza Aragibóia, o Capitão de Corveta Amarílio Vieira Cortez e, ainda, o Capitão Tenente Aviador (naval) Virginius Brito de Lamare, de quem eu sempre ouvi falar como Brigadeiro de Lamare. Finalmente, com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20/01/1941, o Galeão foi “dominado” por jovens apaixonados por aviões, os aviadores (do ar). Os pioneiros.

Getúlio Vargas nomeou um civil para apaziguar os ânimos de rivalidade entre homens da Aviação Militar do Exército, da Aviação Naval, sem contar com a comercial neste bolo. O Sr. Joaquim Pedro Salgado Filho, um gaúcho que o apoiou na Revolução de 30, é claro, deve ter suado a camisa com o desafio de integrar mentalidades e culturas distintas como o primeiro ministro da aeronáutica.

Hoje, as duas águias e os portões tombados pelo patrimônio histórico já não funcionam formalmente.



sábado, 9 de julho de 2011

Uma Nota de Passagem


Para os leitores que tanto me pedem para escrever pequenas notas, em vez de posts novelísticos, eis a minha "modesta" indignação de hoje.

José Genoíno, genuinamente um cara de pau, atualmente é assessor do Ministério da Defesa. A procuradoria-geral da República pediu um mandado de prisão contra ele por crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa. Segundo Fernando Pacheco, advogado do petista, o ex-deputado "era o interlocutor político. Isso não é crime”.

O grifo em negrito é meu. O resto da história vocês todos já conhecem, pois a jornalista não sou eu.



Chopin e Sand, Romance Sem Palavras

Caros leitores, há algumas horas, uma grande amiga, de gosto refinadíssimo para as artes, me deixou uma dica sobre um espetáculo incrível do qual ela acabara de voltar. E porque amanhã é sábado, nada mais pertinente do que a dica de cultura da Profª Marilda Teixeira.

“Gente, quero partilhar com vocês um momento excelente. Acabo de chegar do Centro Cultural da Justiça Federal (Cinelândia), onde assisti ‘Chopin e Sand, Romance Sem Palavras’. Quem vier ao, ou estiver no Rio de Janeiro, eu recomendo!

Além de ter tudo a ver com a inebriante Paris nos áureos tempos do romantismo - o século XIX, neste caso do romance de Chopin e Sand, mais precisamente, as décadas de 1830 e 1840, a peça é de uma delicadeza ímpar, como não podia deixar de ser quando se fala de Chopin.

São os encontros e desencontros de um grande amor, entremeados pelas mais belas músicas já compostas para piano (as de Chopin, é claro), executadas em ‘off’ pela pianista Linda Bustani e, às vezes, pelo próprio ator, Marcelo Nogueira, tendo ainda algumas rápidas e leves pitadas de humor. O grande amor (algo a se pensar...) de Chopin, a escritora francesa Amantine-Aurore Lucile Dupin, mais conhecida por seu pseudônimo masculino ‘George Sand’, interpretada por Françoise Forton.

Quem tiver oportunidade, vale a pena assistir, num tom intimista, as histórias dessa História de Amor, esse turbulento romance, que já foi retratado em tantos filmes, inclusive ‘A Song to Remember’, produzido em 1945.”

Em cartaz no CCJF – Centro Cultural da Justiça Federal, na Av. Rio Branco, 241 - Centro
De sexta a domingo às 19h. Até o dia 17 de julho. Ingressos a R$ 30,00.
A Ficha Técnica:
Direção - Jacqueline Laurence
Elenco - Marcelo Nogueira e Françoise Forton

Este vocês não podem perder. Eu assino embaixo. Vou tentar assistir este fim de semana.




sexta-feira, 8 de julho de 2011

Exposição de Automobilística Rio 1925


Caros leitores, viajei, voltei e, em breve, viajarei de novo. Dessa vez por um período mais longo. Com toda essa efervescência na vida, confesso que estou sem (não sei se posso falar assim) “inspiração”, mesmo para escrever um post cheio de opiniões próprias, como gosto de fazer, e com energia suficiente para explicar detalhadamente minha opinião a fim de não criar nenhum conflito por conta de mal-entendidos.

Pensei em falar sobre a inauguração do famigerado “teleférico da nossa Baviera sem neve”, mas, com sinceridade, são tantos e tantos a achar que essa geringonça é a salvação da lavoura para o Complexo do Alemão, que prefiro ddeixar para outro dia.

Como sempre, vale à pena sabermos de acontecimentos históricos não tão distantes no tempo e que são interessantes e mesmo agradáveis de ver. Então hoje vou falar sobre uma Exposição ocorrida no Rio de Janeiro em 1925 e que, talvez pouca gente já tenha ouvido falar.

A Exposição de Automobilismo no Rio de Janeiro em 1925
Vivia-se em 1925 uma euforia automobilística nas regiões civilizadas do país. No espaço de um ano, as importações de automóveis haviam saltado de 2.772 para 12.995 unidades. Ao mesmo tempo, as estradas de rodagem simplesmente não existiam... A construção da Rio-Petrópolis, por exemplo, vinha sendo retardada.
No discurso de abertura da exposição, Francisco Sá, o ministro da Viação, se referiu ao “nosso país, tão longe de qualquer produção industrial de automóveis”. Mas era preciso estimular importadores e obras viárias – por isso o Automóvel Club ter promovido a mostra.
Os estandes da exposição ocuparam prédios que estavam ociosos desde e Exposição de 1922, grandiosa mostra internacional que marcara o centenário da Indeppendência do Brasil. A Exposição de Automobilismo utilizou os antigos pavilhões de Portugal e da Itália, forrados com azulejos e vitrais. Ficavam onde hoje é a esquina das avenidas Presidente Wilson e Presidente Antonio Carlos.
Além de Ford, General Motors e Chrysler, vieram marcas hoje pouco lembradas, como Gray, Packard e Hudsonn-Essex. As eurropeias estavam representadas pelas italianas Itala e Lancia, bem como pela francesa Voisin. O navio que traria os aristocráticos Hispano-Suiza atrasou.
Havia uma área externa com tratores e caminhões. A Ford fez uma linha de produção, especialmente para o evento, e montou dezenas de Modelos T ante olhares de moças de sombrinha. Mas as maiores atrações para o “Rio elegante” eram as corridas diárias numa pistaa de terra à beira mar. Cavalheiros formavam uma compacta massa para apreciar as provas. A Bugatti de Julio de Moraes fez AA média de 108 Km/h !

Os pavilhões principais da mostra foram aproveitados da Exposição de 1922. Na foto o de Portugal que saiu do Rio e hoje está em Lisboa.


O pavilhão da Itália, construído para a Exposição Internacional de 1922, foi aproveitado na mostra automobilística de 1925.


A marca francesa Avions Voisin mostrou seus sofisticados modelos o carro dos reis, o rei dos carros.


A marca suiça de caminhões Saurer tinha grande presença no Brasil, representada por Carlos Schlosser.


O estande da Lancia tinha até caminhões e bicicletas, além do revolucionário automóvel Lambda à direita.


Nos Hudson e Essex, bandejas para evitar pingos de óleo no chão.


Havia espaço até para os encarroçadores de ambulâncias.


O estande da Packard manteve o luxo dos vitrais do antigo pavilhão da Itália.


Um Buick cercado por azulejos no interior do antigo pavilhão de Portugal. O prédio existe até hoje… em Lisboa!


O Itala foi campeão no rali de regularidade e economia, promovido na Gávela como parte da exposição.


Corrida após o desmonte do castelo.


A Ford fez uma linha de montagem do Modelo T no centro do Rio, durante os dias de exposição.



O estande da Ford com diversos Lincoln. Um luxo só, e sem as mulheres-samambaia dos salões de hoje.


O primeiro Ford Modelo T construído na linha de montagem da exposição.


Por 16 dias, a Ford fez a façanha de montar carros numa linha improvisada, aos olhos do público.


Os caminhões foram expostos e, carregados, participaram de uma prova de ida e volta ao Alto da Boa Vista.


Uma fila de caminhões Ford produzidos na linha de montagem temporária.


Tratores Fordson em uma foto que dá a ideia de onde foi a exposição perto da atual Academia Brasileira de Letras.


Um caminhão GMC carregado fazia demonstrações diárias de força. No chão, a sombra do fotógrafo.


domingo, 3 de julho de 2011

Renoir e sua "Joie de Vivre"

Pierre Auguste Renoir nasceu em Limoges, em 25 de fevereiro de 1841. Quando ele tinha quatro anos a família mudou-se para Paris. Sua família tentou fomentar nele o gosto pela pintura, por pensar que seria essa a maneira mais fácil de ganhar a vida. Deste modo, aos treze anos entrou como aprendiz para a loja dos irmãos Levy, decoradores de porcelana.

Em 1862, para evoluir na pintura, além da instrução formal que possuía, entrou para a Escola de Belas Artes, além de entrar para o ateliê de Charles Gleyre, pintor suíço dono de uma loja de artes. Foi ali que conheceu Claude Monet. Nesse período, havia o que ele e seus “amigos de Escola” chamavam de "sessões" de pintura ao ar livre, “peinture en plein air”. Os parques e bosques próximos à Paris eram excelentes para o intento. Foi neste período o início das discussões a respeito de uma nova maneira de pintar, numa tentativa de captar nas telas momentos tão passageiros quanto a luz do sol e as sombras. Os amigos de Renoir da Escola de Belas Artes de Paris chamavam-se Monet, Sisley, Bazille, Degas, Manet etc. Formava-se, assim, o grupo que criaria o movimento que ficou conhecido como Impressionismo.

De início, os trabalhos dos jovens pintores, não foram bem recebidos, sendo até mesmo ridicularizados pelas instituições artísticas, tendo suas obras recusadas para as exposições do Salão Oficial de Paris. No caso de Renoir, que até gostava de pintar paisagens, mas tinha clara preferência por retratar pessoas, quaisquer que fossem elas, o mundo era composto por ruas reluzentes, muita luz e vida cotidiana. Estes eram os temas preferidos em sua obra. Aí estava a sua famosa ”joie de vivre”.

Renoir continuou integrando o grupo dos impressionistas, mas nunca deixou de fazer os retratos convencionais para sobreviver, além de expôr suas obras rejeitadas pelo Salão Oficial no Salão dos Recusados. Em 1868 começou a trabalhar junto com Monet, um dos velhos amigos da loja de Gleyre. Passaram a pintar juntos, em Argenteuil, onde Monet tinha uma casa que se tornou ponto de encontro daqueles novos pintores. Só depois que sua mulher Camille Doncieux morreu de câncer aos 32 anos de idade, Claude Monet mudou-se para Giverny, em 1883.

Em 1871, após uma viagem à Itália, Renoir voltou à França com novo fôlego e decidiu deixar um pouco de lado a maneira rápida, "inacabada" e impressionista de pintar. Na Itália, Renoir apreciou e se inspirou nos renascentistas e, em especial, Rafael. Ele ficou tão impressionado com o trabalho dos renascentistas italianos que chegou à conclusão de que nada sabia de desenho, e muito pouco de pintura. Ao voltar à Paris, queria retratar personagens mais delineados e severos, como o que fez numa série de obras como "As Banhistas" (1884/87), com clara influência de mestres do Renascimento. Essa fase foi a que ficou conhecida por alguns críticos como "Período Ingres".

Pode-se dizer que Renoir atingiu sua maturidade como pintor nos anos 1860/70, desde os tempos da Grenouillière. Sua habilidade em pintar a luz que passa por entre folhagens e atinge o solo e as pessoas em pequenos pontos de claridade e sombras era excepcional. A atmosfera alegre e descompromissada de trabalhos como "Le Bal au Moulin de la Galette", em 1876, rendeu a Renoir a crítica de ser um "hedonista burguês" por retratar tantas cenas de pessoas se divertindo, comendo e bebendo. Ou mesmo por realizar tantos retratos de amigos e personalidades da dita "alta sociedade". O fato é que Renoir só conseguiu viver confortavelmente depois dos 40 anos, e era o tipo de artista que só trabalhava quando estava feliz. Foi, também, um pintor que não teve medo de mudar seu estilo quando sentiu essa necessidade: durante alguns anos, após voltar da Itália, dedicou-se a temas mais clássicos e formalistas.

Algum tempo depois, entretanto, o artista voltaria ao seu estilo mais característico, mesclando conhecimentos clássicos a cores mais quentes, cenas do dia-a-dia e pinceladas mais livres. Neste momento, Renoir passa a criar as suas próprias técnicas.

O quadro "Guarda-chuvas", iniciado em 1880 e terminado em 1886 é uma composição cheia de planos de cores. Em sua criatividade, Renoir descobriu que traço firme e riqueza de colorido eram coisas incompatíveis. Passou então a combinar o que havia aprendido sobre cor, durante seu período impressionista, com métodos tradicionais de aplicação de tinta. O resultado foi uma série de obras-primas. O reconhecimento oficial veio em 1892 quando o governo francês comprou "Au Piano".

Em 1885 nasce Pierre, filho de Renoir e Aline Charigot Renoir, que há muito tempo era sua amante e modelo. Passava longos períodos no sul com Aline, com quem se casara. O segundo filho, Jean, nasce em 1894. Mais tarde ele se tornaria um dos maiores diretores de cinema na França.


Aline Charigot Renoir, sua musa e modelo, depois sua esposa.

O terceiro filho, Claude nasceu em 1901. Sua casa em Cagnes, Les Colletes, que Renoir construiu em 1907, tornou-se um importante refúgio para o trabalho e a vida doméstica. Renoir sentia cada vez mais dificuldades para segurar os pincéis, em virtude da artrite. Tinha de amarrá-los às mãos. Ainda assim, Renoir continuou trabalhando até o último dia de sua vida. Aline Charigot Renoir morreu em 1915.


Madame Georges Charpentier e suas filhas de 1878, exposto no Louvre.

Em agosto de 1919, Renoir é levado por amigos ao Museu do Louvre para ver lá, pela primeira vez, seu trabalho exposto: "Sra. Charpentiere as suas filhas". No Louvre está também a obra terminada em 1918: "As Banhistas". Renoir morreu em Cagnes, no dia 3 de dezembro de 1919, aos 78 anos.


Pierre-Auguste Renoir em fotografia de 18/10/1904

No final da página deste blog, no "Para Olhar com Olhos de Ver", a vez agora é de Renoir. Procurei incluir no slideshow as mais conhecidas e as mais belas pinturas deste gênio. Entretanto, para um artista que produziu mais de 1500 obras, não consegui incluir menos de 120.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Brasil não é isso

Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, Ruy Barbosa foi um dos organizadores da República e coautor da Constituição da República juntamente com Prudente de Morais. Foi deputado, senador e o 1º Ministro da Fazenda da república brasileira. Em duas ocasiões, foi candidato à Presidência da República. Dono de oratória brilhante, grande estudioso da língua portuguesa, foi nomeado presidente da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Machado de Assis. Em 1907, como delegado do Brasil na II Conferência da Paz, em Haia, na Holanda, notabilizou-se pela defesa do princípio da igualdade dos Estados. Sua atuação nessa conferência lhe rendeu o apelido de "A Águia de Haia". Teve papel decisivo na entrada do Brasil na I Guerra Mundial. Já no final de sua vida, foi indicado para ser juiz da Corte Internacional de Haia, um cargo de enorme prestígio, mas que ele recusou por ter sido reeleito senador pela Bahia, dizendo “É um ato de obediência, em que abdico da minha liberdade, para me submeter às exigências do meu Estado natal".

A Nossa Águia de Haia

Como a unânimidade é algo a ser meditado, pensado maduramente, eu, apesar de admirar calorosamente o valor deste brasileiro, não o adoro ou venero, pois muito temos de considerar demoradamente sobre sua política de Encilhamento, mesmo não nos esquecendo de suas boas intenções. Não entrando em subjetivismo pessoal, não por agora, compartilho com vocês trecho de um discurso proferido no Rio de Janeiro em 1919.

“O Brasil não é isso. É isto. O Brasil, senhores, sois vós. O Brasil é esta assembléia. O Brasil é este comício imenso de almas livres. Não são os comensais do erário. Não são as ratazanas do Tesoiro. Não são os mercadores do Parlamento. Não são as sanguessugas da riqueza pública. Não são os falsificadores de eleições. Não são os compradores de jornais.
Não são os corruptores do sistema republicano.
Não são os oligarcas estaduais. Não são os ministros de tarraxa.
Não são os presidentes de palha. Não são os publicistas de aluguer.
Não são os estadistas de impostura.
Não são os diplomatas de marca estrangeira.
São as células ativas da vida nacional. É a multidão que não adula, não teme, não corre, não recua, não deserta, não se vende. Não é a massa inconsciente, que oscila da servidão à desordem, mas a coesão orgânica das unidades pensantes, o oceano das consciências, a mole das vagas humanas, onde a Providência acumula reservas inesgotáveis de calor, de força e de luz para a renovação das nossas energias. É o povo, em um desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade.”
Ruy Barbosa de Oliveira, em discurso no Teatro Lyrico, Rio de Janeiro - 20 de março de 1919.

Nunca é demais todo cidadão ler estas palavras, de quando em vez, para mantê-las sempre vivas na memória.