sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Brasil não é isso

Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, Ruy Barbosa foi um dos organizadores da República e coautor da Constituição da República juntamente com Prudente de Morais. Foi deputado, senador e o 1º Ministro da Fazenda da república brasileira. Em duas ocasiões, foi candidato à Presidência da República. Dono de oratória brilhante, grande estudioso da língua portuguesa, foi nomeado presidente da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Machado de Assis. Em 1907, como delegado do Brasil na II Conferência da Paz, em Haia, na Holanda, notabilizou-se pela defesa do princípio da igualdade dos Estados. Sua atuação nessa conferência lhe rendeu o apelido de "A Águia de Haia". Teve papel decisivo na entrada do Brasil na I Guerra Mundial. Já no final de sua vida, foi indicado para ser juiz da Corte Internacional de Haia, um cargo de enorme prestígio, mas que ele recusou por ter sido reeleito senador pela Bahia, dizendo “É um ato de obediência, em que abdico da minha liberdade, para me submeter às exigências do meu Estado natal".

A Nossa Águia de Haia

Como a unânimidade é algo a ser meditado, pensado maduramente, eu, apesar de admirar calorosamente o valor deste brasileiro, não o adoro ou venero, pois muito temos de considerar demoradamente sobre sua política de Encilhamento, mesmo não nos esquecendo de suas boas intenções. Não entrando em subjetivismo pessoal, não por agora, compartilho com vocês trecho de um discurso proferido no Rio de Janeiro em 1919.

“O Brasil não é isso. É isto. O Brasil, senhores, sois vós. O Brasil é esta assembléia. O Brasil é este comício imenso de almas livres. Não são os comensais do erário. Não são as ratazanas do Tesoiro. Não são os mercadores do Parlamento. Não são as sanguessugas da riqueza pública. Não são os falsificadores de eleições. Não são os compradores de jornais.
Não são os corruptores do sistema republicano.
Não são os oligarcas estaduais. Não são os ministros de tarraxa.
Não são os presidentes de palha. Não são os publicistas de aluguer.
Não são os estadistas de impostura.
Não são os diplomatas de marca estrangeira.
São as células ativas da vida nacional. É a multidão que não adula, não teme, não corre, não recua, não deserta, não se vende. Não é a massa inconsciente, que oscila da servidão à desordem, mas a coesão orgânica das unidades pensantes, o oceano das consciências, a mole das vagas humanas, onde a Providência acumula reservas inesgotáveis de calor, de força e de luz para a renovação das nossas energias. É o povo, em um desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade.”
Ruy Barbosa de Oliveira, em discurso no Teatro Lyrico, Rio de Janeiro - 20 de março de 1919.

Nunca é demais todo cidadão ler estas palavras, de quando em vez, para mantê-las sempre vivas na memória.


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