Não sei se alguém vai se lembrar de um post que fiz em março deste ano. Claro que não. Eu mesma não me lembrava do mês em que o publiquei... Por este motivo, eis o link para o post a que me refiro “O Dono do Parque Lage”, de 07/03/2011, http://www.elianebonotto.com/2011/03/o-dono-do-parque-lage.html.
Naquele post eu falava da história de vida de um empreendedor do início do século XX, Henrique Lage, aquele que um dia morou no que hoje é o Parque Lage, onde aproveitamos para respirar um pouco de ar menos poluído e olhar o verde agradável nos fins de semana. Pois era exatamente ali a sua residência. Modesta, não?!
O que me chamou atenção naquele post foram outras histórias do Rio de Janeiro e do Brasil que se entrelaçam através da figura de Henrique Lage. Ele era meio que o nosso “Onassis” do início do século XX. Era um armador que, depois da morte de seu pai em 1913, passou a conduzir o que era conhecido como o “Império Lage”.
Com a chegada da República, e as naturais nacionalizações de empresas, o empreendedorismo dos Lage, vislumbrou, em 1891, a fundação, junto com o imigrante português, Luiz Augusto Ferreira de Almeida, da Companhia Nacional de Navegação Costeira. A ‘Costeira’, como era conhecida, tinha todos os seus navios batizados com nomes iniciados pelas três letras “ITA”.
Naquele post eu falava da história de vida de um empreendedor do início do século XX, Henrique Lage, aquele que um dia morou no que hoje é o Parque Lage, onde aproveitamos para respirar um pouco de ar menos poluído e olhar o verde agradável nos fins de semana. Pois era exatamente ali a sua residência. Modesta, não?!
O que me chamou atenção naquele post foram outras histórias do Rio de Janeiro e do Brasil que se entrelaçam através da figura de Henrique Lage. Ele era meio que o nosso “Onassis” do início do século XX. Era um armador que, depois da morte de seu pai em 1913, passou a conduzir o que era conhecido como o “Império Lage”.
Com a chegada da República, e as naturais nacionalizações de empresas, o empreendedorismo dos Lage, vislumbrou, em 1891, a fundação, junto com o imigrante português, Luiz Augusto Ferreira de Almeida, da Companhia Nacional de Navegação Costeira. A ‘Costeira’, como era conhecida, tinha todos os seus navios batizados com nomes iniciados pelas três letras “ITA”.
Prédio da Av. Rodrigues Alves 330, RJ, anos 30 |
O mesmo prédio atualmente... Abandonado |
E é aqui que aparecem fatos que misturam-se a outras histórias. Dentre vários navios construídos pela ‘Costeira’, os famosos ‘Itas’, havia os pequenos (paquetes, como eram conhecidos na época) Itatinga, Itaquatiá, Itaimbé, Itaberá, Itapuca, Itagiba, Itapuhy, Itassucé, Itajubá e Itaquara, e os grandes, Itaipé, Itahité e Itapagé, entre outros. Os 'Itas' pequenos tinham cerca de 60 metros de comprimento, os médios chegavam a 90 metros e os grandes em torno de 120 metros. Esses navios ficaram tão conhecidos no Brasil, que inspiraram, em 1945, o lançamento do samba autobiográfico de Dorival Caymmi, "Peguei um Ita no Norte", gravado em disco de 78 rotações pela Odeon. Penso que muita gente nunca viu um disco de 78 rotações em toda a vida.
Peguei um Ita no Norte
Dorival Caymmi
Peguei um Ita no norte
Pra vim pro Rio morar
Adeus meu pai, minha mãe
Adeus Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Vendi meus troços que eu tinha
O resto dei pra "aguardá"
Talvez, eu volte pro ano
Talvez eu fique por lá
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Peguei um Ita no Norte
Dorival Caymmi
Peguei um Ita no norte
Pra vim pro Rio morar
Adeus meu pai, minha mãe
Adeus Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Vendi meus troços que eu tinha
O resto dei pra "aguardá"
Talvez, eu volte pro ano
Talvez eu fique por lá
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
Ai, ai, ai, ai
Adeus Belém do Pará
O apogeu da ‘Costeira’ ocorreu entre os anos 20 e 40, quando chegou a contar com uma frota de mais de 30 embarcações. Em 1922, Henrique Lage instalou a primeira refinaria de sal no Brasil, indústria que teve grande êxito, com a consagrada marca ITA; aquela mesma que você vê até hoje nos supermercados do país. Na década de 40, a refinaria de sal foi transferida para o bairro do Caju, no Rio de Janeiro, onde se encontra até hoje.
A incorporação da CNNC ao patrimônio nacional ocorreu em 1942 devido ao falecimento de Henrique Lage. Ele não teve filhos do seu casamento com a cantora lírica italiana, Gabriela Besanzoni. Sem filhos e com a esposa italiana, todo o império Lage foi incorporado pelo governo.
A companhia de navegação dos irmãos Lage operava a frota de maneira exemplar, com horários rigidamente cumpridos, boa alimentação, ordem e limpeza impecável a bordo. Até 1920, os comandantes eram britânicos e mantinham os cascos pretos e as superestruturas brancas, chaminés em preto fosco. A cruz de Malta, emblema da armadora, estava sempre bem apresentada. Na verdade, também na CNNC, era a Cruz Pátea e não a de Malta, a apresentada nas chaminés dos navios. Estou começando a achar que essa história da Cruz Pátea ser confundida com a de Malta deve vir de mais tempo do que imaginamos.
Entre os numerosos episódios envolvendo a frota da ‘Costeira’, pode-se destacar o Itagiba, construído em 1913 e afundado em 17 de agosto de 1942, pelo U-507 (Harro Schacht), um submarino nazista. O Itapema, incorporado em 1908, vendido para a Marinha do Brasil em 1932, passou a ser o navio hidrográfico José Bonifácio e navegou até 1917. O ex-presidente Itamar Augusto Cautiero Franco nasceu em 28 de junho de 1930 a bordo do navio Itagiba. A delegação brasileira dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1932 foi levada pelo navio Itapagé.
No início dos anos 60 chegaram os famosos Cisnes Brancos, os navios veleiros da Marinha do Brasil: Rosa da Fonseca, Anna Nery, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina. Em novembro de 1966, por meio de decreto federal, a frota foi incorporada pela Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, encerrando de vez as atividades da CNNC.
Será que você sabia que o “ITA” que Dorival Caymmi pegou no Norte era um dos navios da ‘Costeira’?
Fonte: Jornal A Tribuna, Santos, em 26/11/1998
A incorporação da CNNC ao patrimônio nacional ocorreu em 1942 devido ao falecimento de Henrique Lage. Ele não teve filhos do seu casamento com a cantora lírica italiana, Gabriela Besanzoni. Sem filhos e com a esposa italiana, todo o império Lage foi incorporado pelo governo.
A companhia de navegação dos irmãos Lage operava a frota de maneira exemplar, com horários rigidamente cumpridos, boa alimentação, ordem e limpeza impecável a bordo. Até 1920, os comandantes eram britânicos e mantinham os cascos pretos e as superestruturas brancas, chaminés em preto fosco. A cruz de Malta, emblema da armadora, estava sempre bem apresentada. Na verdade, também na CNNC, era a Cruz Pátea e não a de Malta, a apresentada nas chaminés dos navios. Estou começando a achar que essa história da Cruz Pátea ser confundida com a de Malta deve vir de mais tempo do que imaginamos.
Navio Itaipu e sua 'Cruz Pátea' na chaminé |
Navio Itagiba no qual nasceu o ex-presidente Itamar Franco |
No início dos anos 60 chegaram os famosos Cisnes Brancos, os navios veleiros da Marinha do Brasil: Rosa da Fonseca, Anna Nery, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina. Em novembro de 1966, por meio de decreto federal, a frota foi incorporada pela Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, encerrando de vez as atividades da CNNC.
Será que você sabia que o “ITA” que Dorival Caymmi pegou no Norte era um dos navios da ‘Costeira’?
Fonte: Jornal A Tribuna, Santos, em 26/11/1998
Meu pai trabalhou na Costeira. O prédio fica perto do Moinho e da Praça Mauá.
ResponderExcluirEu frequentei esse prédio até os meus 9 anos.
Me lembro da Festa De natal, do elevador de estilo antigo, como os de Paris.
Da visita inesquecível ao navio Princesa Isabel.
Da tristeza do meu pai ao fim da Costeira que ele tanto amou.
Olá, imagino como suas lembranças devem tê-lo feito viajar no tempo. Olho para a atual foto do prédio da Costeira e me pergunto se o antigo elevador ainda está lá... No Brasil, infelizmente, as pessoas acham meio "normal" não darem importância aos acontecimentos e marcos históricos. Pensam tratar-se de "coisa velha".
ResponderExcluirSe há uma frase que detesto é "quem gosta de coisa velha é museu". E ela é tão repetida, não?!
Bem, vou deixar aqui o link para o blog Portogente, sobre as coisas do mar. Há um belo post com várias fotos dos cisnes brancos da Costeira e o fim que levou cada um.
http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=17065
Obrigada pela visita.
Abraços,
Eliane Bonotto