segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Filosofar, pensar ou matutar?

A idéia atual da felicidade é um legado do Cristianismo. Essa religião prometeu a todos a ressurreição e o paraíso condicionados ao sofrimento na Terra e ao trabalho para a salvação de nossas almas. Essa mensagem, que durou até os anos 1950/60 foi assumida e perpetuada por todas as ideologias laicas: o marxismo, o socialismo e até mesmo o liberalismo. Portanto, essa euforia, que promete vida após a morte, tornou-se disponível e, aqui embaixo, o mundo dos mortais deixaria de ser um vale de lágrimas. Mas o fato é que esse direito divino à felicidade tornou-se, com o triunfo do individualismo, uma obrigação: já que não há mais uma ordem social, moral ou religiosa que impessa as pessoas de serem felizes. Mas eu não acho que podemos reduzir a situação atual como sendo unicamente uma herança cristã, com essa concepção de felicidade terrena, segundo os dogmas da igreja, sem os quais viveremos em pecado e culpa ad eternum. Tirar um sarro da felicidade, então? Sem dúvida, é a condição de uma vida feliz. E perceber que o ideal de vida sem tempo de inatividade ou obstáculo, o ócio mesmo, para usar esse antigo clichê, seria um ideal de propaganda, ou industrial, ou pior, de consumismo? Definitivamente, isso não é um ideal humano. O “cada vez mais”, traz nele mesmo a insatisfação que ele alega curar. Na verdade, existem duas concepções de felicidade: a felicidade na expansão da vida, aquela em que se quer pretende seja mais vasta, vislumbrando mais horizontes a alcançar. E a felicidade na contração, que me parece defender os ambientalistas, ou seja, produzir menos, gastar menos, descobrir as virtudes da economia, reduzir emissões de carbono etc. Interessante é que eles colocam a mesma energia para se reduzir que alguns capitães de indústria para se expandir. É através destes movimentos de decrescência, representantes do velho ascetismo atual de algumas religiões, que acabam por reaparecer! Então, por que ainda há falhas nessa imensa máquina de progresso ou de evolução? Porque a felicidade se tornou para nós o horizonte inatingível... Mas, felizmente, os conselheiros de sorriso simpático e amigável estão aí para me ajudar... Que felicidade! Uma observação, quando falo de “conselheiros de sorriso simpático e amigável”, falo dos terapeutas, coaches, mentorings blá, blá, blá, que nos dizem sempre como fazer o melhor para o nosso desenvolvimento pessoal.


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