segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Belo Monte outra vez? Não dá pra segurar

Ao ler o Blog do Reinaldo Azevedo, jornalista da revista Veja, deparei-me, em 24/11/2011, com o seguinte título: “Belo Monte e as Magdas e os Magdos da TV Globo. É o maior Festival de Besteiras jamais ditas num vídeo. E olhem que a concorrência é grande!” Não resisti, e deixei um comentário no blog que, agora está aguardando a moderação para ser publicado. Como, para variar, ficou um pouco “grandinho”, faço dele o meu post de hoje. Lá vai:

Reinaldo, leio sempre seu blog e na maioria esmagadora das vezes concordo com sua visão lúcida dos fatos no país. Hoje, entretanto, surpreendi-me ao ler seu texto. Sinceramente, se não estivesse publicado nesse espaço, eu diria que "Reinaldo Azevedo jamais escreveria tal coisa".

Um dos comentários diz: "seu texto está no mesmo nível do video global". Reinaldo, lamento ter de dizer que é a mais pura verdade. Você não precisa fazer menção a sutiãs de quem quer que seja para escrever textos com conteúdo excelente, como estou habituada a ler aqui.

Sou a favor de geração de energia limpa. Isso é consenso entre todos, PTistas ou não, marinistas ou não. Aliás, você anda exagerando nesse apego aos rótulos; o mundo, a vida, não é bem assim. Esse pensar dialético de preto e branco, bem e mal, direita e esquerda, já não cabe nos dias atuais. A meu ver nada melhor que ampliar as dimensões do nosso pensar.

Voltando à energia limpa, ela é a ideal. Mas o que é energia limpa? Que tecnologias representam a energia limpa? Eu tenho minha opinião. Mas não sou especialista em nenhuma das tecnologias em específico. Entretanto, cada uma delas tem seus pontos positivos e negativos, e em todos os sentidos, ambientais, econômicos, políticos etc.

Acredito que as usinas hidrelétricas foram fonte de energia limpa até algumas poucas décadas atrás, mesmo no Brasil, que é pleno em rios em diferentes ecossistemas. Vale lembrar o significado de ecossistema: "Conjunto dos relacionamentos mútuos entre determinado meio ambiente e a flora, a fauna e os microrganismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilíbrio geológico, atmosférico, meteorológico e biológico". A propósito, não é minha esta definição, mas do dicionário Aurélio, com a qual concordo plenamente, considerando-se o ser humano, indígenas ou não, como parte integrante do meio ambiente.


Palafitas que serão retiradas após a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Altamira, Pará. Foto: DIDA SAMPAIO/AE

Atualmente, um país como o Brasil, dono de um pantanal em cujo subsolo está o maior aqüífero do mundo, não pode se dar ao luxo de não sentar seus cientistas (e eles existem, acredite) para discutir com seriedade o futuro da sua matriz energética.

Já é tempo de por a mão na consciência e refletir sobre até quando levaremos esse discurso de mega-usinas hidrelétricas só porque o país tem potencial hídrico abundante. Se a visão é tão simplista assim, em teoria, ninguém poderia dizer que a França é uma vilã por ter 80% de sua matriz energética compostos de usinas nucleares, pois lá não há rios que se prestem a hidrelétricas.

A geração de energia eólica e solar é louvável e precisa ter mais investimentos em pesquisas, não apenas acerca das tecnologias propriamente ditas, mas também suas relações custo x benefício nas variáveis envolvidas. A questão energética não é tão simples assim. Dizer que isso ou aquilo é o melhor, repito, é uma visão simplista.

Eu sou simpática à questão da tecnologia nuclear como geração de energia limpa e barata. Para isso, precisamos nos despir dos preconceitos e das "lavagens cerebrais" sofridos durante décadas por conta de acidentes em usinas mundo afora. Interessante observar que no caso da energia nuclear, ninguém fez vídeo nenhum para caírmos de pau dizendo que ninguém sabe o que diz sobre o assunto. Mas isso deve-se ao simples fato de não ser "politicamente correto" falar sobre este assunto. Então ninguém fala, ninguém discute, não há debate. Isso vale também para a energia eólica, solar, biomassa etc etc.

O vídeo dos Globais é patético? Sem dúvida. Mas não é por conta dele que sou contra a construção de Belo Monte. Discordo de você quando diz que “haverá, sim, populações ribeirinhas que terão de sair de algumas localidades. Desde que sejam reassentadas com dignidade, a chance de que a vida delas melhore, já que vivem no abandono, é gigantesca”. Se formos por este raciocínio, o fato de não se colocar água no sertão nordestino justifica a migração de milhares de nordestinos para inchar as cidades do sudeste com o pretexto de que aqui serão reassentadas com dignidade. Não é bem assim, você sabe, pois é um homem inteligente, articulado. De novo concordo com o comentário feminino feito dizendo que “reassentar população ribeirinha em periferias das grandes cidades é um discurso urbanóide”. A diversidade de estilos de vida precisa ser conservada, sim.


Sinceramente, surpreendi-me com sua frase “Sem contar que a Constituição e as leis democráticas consagram o direito que a sociedade tem, por meio de seus órgãos de representação, de fazer desapropriações”. Interessante que, por algumas vezes, disse em meu blog que defendo que as favelas são uma ilegalidade e, só este já seria um motivo para serem removidas, quase apanhei nas ruas. E é o mesmo raciocínio da sua frase. A diferença é que a população ribeirinha na Amazônia nasceu lá, já as favelas nas diversas cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro, pois permeia toda a cidade, e não dá nenhuma dignidade aos seus moradores, são fruto de migrações desordenadas por total falta de planejamento em infraestrutura no país por séculos. Exatamente esse planejamento do qual falamos ao nos referir ao reassentamento das populações ribeirinhas das áreas atingidas por Belo Monte.

Por fim, quero deixar aqui o texto do Professor de geografia e especialista em Geomorfologia e Análise Ambiental, Rodolfo Oliveira, que nos faz, no mínimo, refletir: “Ainda acho que o Brasil dispõe de muito pouco conhecimento científico para a escala de intervenções que se faz na Amazônia. Não se tem, ainda, um inventário mínimo de fauna e flora da região. Não se sabe o valor potencial dos produtos a serem encontrados ali. Acho que construir mais de 50 usinas hidrelétricas na Amazônia é simplesmente trocar ouro por abacaxi. A floresta é muito valiosa para ser destruída desta forma. Apenas o INPA e o museu Emílio Goeldi pesquisam a floresta de forma mais detalhada. As universidades federais da região são inúteis.... Sabe-se atualmente, por exemplo, que ela é responsável pela maior parte da chuva que cai no Brasil com a formação de canais de umidade ao longo da primavera-verão. As frentes frias, por si só, provocam pouca chuva. Basta observar atuação delas no outono-inverno, quando os canais de umidade amazônicos não se formam e elas geram quase chuva nenhuma. Esses canais também se formam no hemisfério Norte a partir da floresta. Das chuvas que caem sobre ela, 50% é reciclagem dela mesma. Para se ter uma ideia, uma castanheira transpira por dia aproximadamente 10.000 litros de água. Imagine a floresta inteira! Acho que o vídeo é um alerta para a sociedade, sim. Precisamos fazer diferente com a Amazônia. Não devemos fazer com ela o que já fizemos com a Mata Atlântica ou Mata de Araucária, para citarmos apenas duas. Afinal foram duas imensas florestas destruídas a troco de quê? Acho que a propaganda do "Brasil Grande" tem que ser deixada para o passado e sem saudade...."

Por favor, volte a escrever seus bons textos, aqueles que deixam gostinho de “quero mais”. Esse foi desastroso, Reinaldo. O que deu em você?





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