segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Fundamentalismo no Paternalismo das Esquerdas Brasileiras

O que é paternalismo? Em política, é tendência a dissimular o excesso de autoridade sob a forma de proteção.

O ditador pai dos pobres
A nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho em 1953 desagradou os círculos militares, políticos e empresariais. Para controlar a situação, Getúlio nomeou Zenóbio da Costa para o Ministério da Guerra e demitiu João Goulart.

O aumento de 100% para o salário-mínimo junto com o pedido aos trabalhadores que se organizassem em defesa do governo e o atentado a tiros no Rio de Janeiro ao jornalista Carlos Lacerda, no qual morreu o major-aviador Rubens Vaz, que o acompanhava, precipitaram uma crise política sem precedentes.

No dia 12 de agosto, a Aeronáutica já havia instaurado um IPM - Inquérito Policial Militar - para investigar o crime que resultara na morte de um de seus oficiais. Em manobra do Catete, Lutero Vargas abre mão da imunidade parlamentar e se apresenta, voluntariamente, para depor, negando a participação como mandante do atentado da Rua Toneleros.

A 13 de agosto de 1954, Getúlio Vargas já pôde sentir que estava se afogando em um mar de lama. Fora preso o pistoleiro Alcino José do Nascimento, que confessou o crime da Rua Toneleros. Mas a situação agravou-se ainda mais quando Alcino declarou na Polícia haver agido a mando do filho de Getúlio Vargas, o então Deputado Federal Lutero Vargas.

A trama que foi, aos poucos, sendo desvendada naqueles dias críticos de 1954 revela-se muito complexa para envolver apenas personagens subalternos do Palácio. Logo após a prisão do pistoleiro, o secretário da guarda pessoal de Getúlio Vargas, extinta em 7 de agosto, acabou confessando que havia facilitado a fuga do pistoleiro Alcino e do membro da guarda, Climério, ambos diretamente envolvidos no assassinato. Climério ainda levaria alguns dias para ser encontrado. João Vicente, o secretário, alegou que fizera tudo instruído por Gregório Fortunato, o “anjo negro”, chefe da guarda.

Ou seja, oito dias após a morte do Major Rubens Vaz a polícia e a Aeronáutica já tinham os nomes dos assassinos, de quem os acobertou e de quem os instruiu. Todos pertenciam ao círculo íntimo do Presidente, exceto o pistoleiro contratado.

Essas pessoas ligadas a Getúlio Vargas é que verdadeiramente conspiraram contra a Nação. O impeachment do Presidente era o único caminho legal possível.

O presidente reconheceu que, sem seu conhecimento, corria sob o palácio um mar de lama e os militares exigiam sua renúncia. Getúlio reuniu, então, o ministério e propôs se licenciar até que todas as responsabilidades pelo atentado fossem apuradas. O Exército, porém, não aceitou o afastamento temporário.

A pressão foi demais e o presidente retirou-se da reunião. No mesmo dia, 24 de agosto de 1954, no palácio do Catete, no Rio de Janeiro, suicidou-se com um tiro no coração, deixando uma carta-testamento de natureza fundamentalmente política.

Mar de Lama do Século XXI
Em maio/2005, trechos de pronunciamentos feitos no plenário do Senado diziam coisas do tipo:
Cristovam Buarque (PT-DF): "Ajudar o governo, como é minha obrigação de petista, é não encobrir nada. A melhor maneira é, em bloco, a Bancada inteira, aprovar a assinatura. Lamentavelmente, na reunião da Bancada, não foi aprovado isso. O meu medo, e vou procurar frisar isso, é que estejamos escondendo as cabeças como avestruz. A crise é muito mais séria, profunda e toca muito mais as instituições do que aparentemente estamos percebendo".
Demóstenes Torres (PFL-GO): "Neste ano, estamos implantando no Brasil algo que era reclamado há muito pela sociedade e pelo Poder Judiciário: a súmula com efeito vinculante. O que é a súmula com efeito vinculante? Pela repetição, o Supremo Tribunal Federal acaba editando uma norma e, assim, processos com a mesma característica são indeferidos por aquele Tribunal. Em decorrência disso, parece-me que o Governo Federal criou a Súmula José Dirceu.

Mas... Pois é, mas... Não sobrou pedra sobre pedra. Chegamos à Ação Penal 470. O STF “soltou o braço” nos meliantes. E o julgamento ainda não terminou. Paralelo com isso, o Senador Demóstenes Torres enfrentou a CPI do Cachoeira e fez um baita papelão com direito até a choro. Depois de tantas operações da Polícia Federal: Operação Hurricane, Caixa de Pandora, Sanguessuga, Anaconda, Satiagraha (que investigava crimes financeiros que teriam sido cometidos por um grupo comandado pelo presidente do Banco Opportunity, Daniel Dantas), e outras mais de que não me lembro, ei-nos aqui com o estouro da Operação Porto Seguro.

Hoje me pergunto de quem foi o mar mais lamacento? O de Getúlio ou o de Lula? Como estamos cronologicamente mais próximos do segundo, a população dirá que é dele, sem dúvida, o pior mar de lama. Na verdade, é só uma questão de tempo, ou melhor, do tempo. Do tempo decorrido. O que está distante de nós no tempo tende a distanciar-se também na memória coletiva. Aconteça o que acontecer, dentro de uns cinquenta anos, talvez meus netos leiam nos livros de História do Brasil que Lula foi um segundo pai dos pobres, o pai da bolsa-família, da emergência da classe C e da marola da crise financeira.

Interessante é que nenhum dos dois, cada um a seu tempo, sabia de rigorosamente nada! Será esse o Brasil do futuro? Ou do passado? E do presente também? Mais uma para reflexão.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Dia Nacional da Mulher Não é Hoje


Sobre o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, muito já se sabe. A sua história, por exemplo. Em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e reivindicaram melhores condições de trabalho, redução na carga horária, equiparação de salários com os homens, tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. Porém, foi somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, que foi decidido que o dia 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem às mulheres que morreram na fábrica em 1857. E somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU.

Mas vocês já ouviram falar no Dia Nacional da Mulher? Quanto conhecemos dessa data e daquelas que lutaram para que ela pudesse ser celebrada? Oficialmente, o dia 30 de abril é celebrado por conta da Lei 6.791 de 1980, sancionada pelo então Presidente João Figueiredo. Esse dia foi escolhido em homenagem a uma mineira chamada Jerônima Mesquita, nascida em 30 de abril de 1880, na Fazenda Paraíso, em Leopoldina.


Jerônima Mesquita
E quem foi ela?
De origem abastada e aristocrática, Jerônima era filha de Maria José Vilas Boas de Siqueira Mesquita e de José Jerônimo de Mesquita, nascida numa família de cafeicultores bem sucedidos; por isso teve acesso a educação e cultura. Na Fazenda da família destacava-se a maneira com que os escravos eram bem tratatados. A eles foram permitidas aulas de música e a construção de uma sala de música. A família tinha sua própria orquestra, que tocava durante os jantares. Mesquita foi um dos primeiros fazendeiros de Leopoldina a libertar os escravos, antes mesmo da Lei Áurea. Como reconhecimento, o imperador Pedro II concedeu-lhe o título de Barão. [Interessante a atitude de Dom Pedro II, não? Fez Barão um fazendeiro do café por ter libertado seus escravos, mas ele próprio não fez o mesmo. Cedeu às pressões da aristocracia cafeeira, não libertou os escravos quando talvez ainda pudesse fazê-lo sem perder o trono. Acabou por ter os escravos libertados por sua filha, mas já com o trono comprometido. Esse Dom Pedro II era um grande “perdedor de bondes”.]

Voltando à família Mesquita... Destacava-se, assim, por estes méritos e pela boa educação aos filhos. Como era de costume para a elite da época, viajava entre Brasil e Europa constantemente. Na residência do Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo, recebia ilustres da sociedade e personaldiades mundiais: Chiang Kai-shek e Madame Curie. A pianista Guiomar Novaes, amiga pessoal, costumava também hospedar-se na casa quando vinha ao Rio de Janeiro. Jerônima era a mais velha de cinco irmãos e realizou os estudos secundários na França, onde pôde presenciar a luta das mulheres pela igualdade. Por imposição da família casou-se aos 17 anos com um primo, com quem teve um filho, mas separou-se em seguida, após dois anos do casamento, e nunca mais voltou a casar.

Em 1914, quando eclodiu a I Guerra Mundial, Jerônima Mesquista ingressou como voluntária da Cruz Vermelha de Paris e depois serviu à Cruz Vermelha Suíça. Em 1919, Jerônima fundou o Movimento Bandeirante, que abriu caminho para a participação das mulheres na sociedade. As Bandeirantes tinham como atividades aulas de primeiros socorros, enfermagem e puericultura. Elas usavam uniformes decorrentes da influência militar, o que lhes conferia uma aparência masculinizada. Devido a sua dedicação por muitos anos ao bandeirantismo, foi condecorada com muitas honrarias. Entre elas estão o título de Oficial da Ordem Nacional do Mérito (Medalhas das Rosas), conferido pelo presidente da república; a primeira “Estrela de Honra no Brasil”, a maior condecoração bandeirante; e o Tapir de Prata, o maior distintivo escoteiro.

Associação de escoteiros em Leopoldina no início dos anos 1920

Em companhia das amigas Stela Duval e Bertha Lutz, Jerônima tornou-se uma ativista na luta dos direitos da mulher e foi uma das fundadoras, em 1922, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino - FBPF. Pioneira na luta pelo direito ao voto feminino, Jerônima atuou no movimento sufragista de 1932. Em 1931, Getúlio Vargas concedeu voto limitado às mulheres, ou seja, somente solteiras, viúvas com renda própria ou casadas com a autorização do marido poderiam votar. Grupos feministas continuaram manifestando-se, alegando igualdade de voto entre homens e mulheres. Getúlio assinou, então, o decreto n.º 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que determinava ser eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma do código.

Enfim a conquista do direito ao voto feminino
Com Bertha Lutz e Maria Eugênia, em 14 de agosto de 1934, lançou um manifesto à nação, chamado de Manifesto Feminista.

O Manifesto Feminista
As mulheres, assim como os homens, nascem membros livres e independentes da espécie humana, dotados de faculdades equivalentes e igualmente chamados a exercer, sem peias, os seus direitos e deveres individuais, os sexos são interdependentes e devem, um ao outro, a sua cooperação. A supressão dos direitos de um acarretará, inevitavelmente, prejuízos pra o outro, e, conseqüentemente, pra a Nação. Em todos os países e tempos, as leis, preconceitos e costumes tendentes a restringir a mulher, a limitar a sua instrução, a entravar o desenvolvimento das suas aptidões naturais, a subordinar sua individualidade ao juízo de uma personalidade alheia, foram baseados em teorias falsas, produzindo, na vida moderna, intenso desequilíbrio social; a autonomia constitui o direito fundamental de todo individuo adulto; a recusa desse direito à mulher é uma injustiça social, legal e econômica que repercute desfavoravelmente na vida da coletividade, retardando o progresso geral; as noções que obrigam ao pagamento de impostos e à obediência à lei os cidadãos do sexo feminino sem lhes conceder, como aos do sexo masculino, o direito de intervir na elaboração dessas leis e votação desses impostos, exercem uma tirania incompatível com os governos baseados na justiça; sendo o voto o único meio legítimo de defender aqueles direitos, a vida e a liberdade proclamados inalienáveis pela Declaração da Independência das Democracias Americanas e hoje reconhecidas por todas as nações civilizadas da Terra, à mulher assiste o direito ao título de eleitor.

Achei sensacional a parte do Manifesto que fala sobre a injustiça econômica entre homens e mulheres. Pagar impostos era dever igualitário, mas votar naqueles que decidiam sobre esses mesmos impostos não se aplicava ao sexo feminino. Tá bem... Durma-se com um barulho desses.

Em 1947, junto com um grupo de companheiras, fundou, no Rio de Janeiro, o CNMB - Conselho Nacional da Mulher do Brasil, uma organização cultural, não governamental, cujo objetivo é a defesa da condição da mulher. Dentre as principais conquistas estão: o direito ao voto, a fundação da Pró-Mater - hospital beneficente para acolher gestantes pobres -, a fundação da Associação Cruz Verde, que lutou contra a fome, a febre amarela e a varíola no início do século XX.

Jerônima Mesquita faleceu aos 92 anos, numa segunda-feira, dia 11 de dezembro de 1972, na Rua Almirante Tamandaré, 10, apto. 901, Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, então Estado da Guanabara. Foi sepultada no dia seguinte nesta mesma cidade, no Cemitério da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Paula, no Catumbi. Faleceu vitimada por acidente vascular cerebral e cardiopatia hipertensiva, conforme laudo do médico, doutor Nélson Siqueira.



sábado, 10 de novembro de 2012

Mídia - Ela é o Quarto Poder

Não pude me conter ao ler um artigo excelente no blog de um amigo, Periscópio Cidadão. Reproduzo-o aqui deixando o respectivo link para quem aprecia um blog de qualidade em seu conteúdo.

A informação que vende
Por Valério Cruz Brittos e Éderson Silva em 04/10/2011

Desde que a informação, a matéria-prima do jornalismo, passou a ser concebida como um produto e como tal priorizada para venda, o ato de informar seguiu um caminho perigoso e conflitante. A fidelidade aos fatos e à ética foi distorcida em nome de uma matéria espetacular para a apreciação e o consumo do maior número de receptores possível. Inseridas no contexto capitalista, as empresas de comunicação têm uma visão mercantilista da informação, que deve agregar a maior parte do público a que se destina para obter os melhores preços na vendagem do produto em si ou de sua publicidade.

O sensacionalismo é utilizado cada vez mais como recurso estratégico nesta Fase da Multiplicidade da Oferta em que os agentes comunicacionais têm que captar a atenção do público rapidamente, ante o acirramento da concorrência. Esta capacidade de agregar públicos faz com que o sensacionalismo seja utilizado, inclusive, como ação de programação para conquistar público localmente, como, no mercado televisivo, fazem Band e Record com a edição regional do Brasil Urgente e o Balanço Geral, respectivamente, ou como procedem organizações jornalísticas de vários estados brasileiros, com jornais para públicos C, D e E.

Nos projetos sensacionalistas, a notícia deve ser conduzida a um extremo, ocorrendo a exacerbação dos fatos incessantemente com detalhes minuciosos a fim de chocar ou emocionar o público. Estes casos ocorrem principalmente em sequestros, estupros, crimes hediondos, assaltos e outros acontecimentos fortes, em que há uma máscara de jornalismo popular, com seus protagonistas sendo proclamados representantes do povo. São mostrados como figuras paternalistas, defensoras dos mais fracos, mas se enriquecem da desgraça e do sofrimento alheio, vendendo uma imagem ilusória de salvação para os problemas sociais.

Questão ética, ponto crucial
Diariamente, grande parte da mídia utiliza-se do sensacionalismo para esquentar a notícia, permitindo sérios questionamentos éticos. Assim, o sensacional é mostrado de forma chocante e cruel ao telespectador e ao leitor. Os programas policiais utilizam-se muito desta forma de violência gratuita para noticiar os acontecimentos diários, quando são violados os direitos do cidadão. Forma-se um verdadeiro “circo midiático” em torno de um dado acontecimento, que toma proporções gigantescas, não raro desenrolando-se em vários capítulos, como uma novela, pronta para a venda em larga escala. Este tipo de jornalismo não distingue o que é informação relevante da que não é, e sim, a que vende e a que não vende.

O Código de Ética dos jornalistas brasileiros menciona que o profissional da área deve combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação. Deve haver respeito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão, o que não ocorre quando se trata de explorar a notícia pelo seu ângulo sensacional. Paradoxalmente, quanto mais o sensacionalismo é utilizado, mais é lançado o argumento de que o jornalismo não deve ser regulado porque, por si próprio, teria um caráter de serviço público, mesmo quando exercido no âmbito de instituições mercadológicas.

A atividade jornalística visa à pluralidade, na sua gênese estando ligada a interesses mais amplos, já a exploração de imagens com o objetivo de chocar as pessoas remete a objetivos privados, relacionados ao lucro, preferencialmente. No código da profissão está claro, em seu artigo 11, dentre outros pontos, que o jornalista não pode divulgar informações visando ao interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; nem que contenham caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes. Questiona-se até que ponto grande parte dos conteúdos jornalísticos atuais passa por este confronto nas diversas mídias que atravessam a sociabilidade contemporânea.


Valério Cruz Brittos e Éderson Silva são, respectivamente, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição
Fonte: Site Observatório da Imprensa em 04.10.2011


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Perdão, Irineo Evangelista


Li uma matéria na Revista de História na internet com o título de "Fora dos Trilhos". Como amante declarada dos trilhos, indignei-me o suficiente para escrever rapidamente este texto. Vejam o absurdo que estão fazendo.

O prédio que abriga a Estação Barão de Mauá, conhecida como Leopoldina foi inaugurado em 1926. Desde 2001, há onze anos, portanto, a estação ferroviária está vazia, com trens apodrecendo nos fundos e, ironicamente, hoje só serve para abrigar uma unidade da Polícia Ferroviária Federal.

A administradora da estação, a SuperVia, está elaborando um projeto de restauração para a Leopoldina. Segundo Carlos Henrique Sant’Anna, diretor de Novos Negócios da SuperVia, depois de autorizadas pelo Iphan, as obras da Leopoldina deverão durar um ano. O projeto na Estação Barão de Mauá, a Leopoldina, inclui o restauro e a limpeza das fachadas, nova iluminação e sistema de detecção de incêndio. Só.

A Estação Leopoldina e o Canal do Mangue na Av. Francisco Bicalho em 1927.

 Apesar disso, nada mudará no prédio da Leopoldina, já que as reformas vão apenas recuperar a estrutura do edifício. Não há um único projeto que contemple a utilização do espaço da estação na combalida edificação. Enquanto isso, o Museu do Trem, que ocupa um espaço no bairro de Engenho de Dentro, está fechado há cerca de três anos.

Se eu entendi bem a reportagem da Revista de História, publicada em 01/09/2012, se não estivéssemos para receber a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas em 2016, o prédio da estação da Leopoldina poderia cair de podre que não incomodaria a ninguém. Até porque é um prédio que fica numa zona sem importância nenhuma, entre a Cidade Nova e a Zona Portuária, de frente para um canal poluído e fétido, que traz os dejetos de boa parte da cidade do Rio de Janeiro para desaguar na Baía da Guanabara. Trata-se de um prédio que nem fica na zona sul da cidade! Quantos turistas passam por ali, pela Avenida Francisco Bicalho? Nenhum, talvez!

Mas, na verdade, eu gostaria de entender o porquê de o prédio ter de ficar inoperante. Ou seja, não há demanda para trens urbanos no Rio de Janeiro? Quem decidiu que a Leopoldina não é uma das soluções para o trânsito caótico da cidade? Ahh, sim... Lembrei-me. A salvação para nosso trânsito caótico são os BRTs, não é mesmo? Nada de VLT, metrô, trens urbanos, ou qualquer coisa que ande sobre trilhos.


Quem sabe seria esse o tipo de transporte que desejam para o Rio de Janeiro?

Enquanto qualquer cidade brasileira, não só o Rio de Janeiro, não voltar sua prioridade de transporte urbano de massa para o ferroviário, elas continuarão a ter cada vez mais problemas de trânsito (incluindo aqueles advindos dele), e ainda, os homens e mulheres responsáveis pelos transportes urbanos no Brasil continuarão a enriquecer os donos de empresas de ônibus e empreiteiros, país afora.

É esse o tipo de trânsito que desejam para o Rio de Janeiro, não?!


domingo, 9 de setembro de 2012

Tudo começou com esse texto em agosto/2010


Joaquim Barbosa nasceu em Paracatu, noroeste de Minas Gerais. É o primogênito de oito filhos. Pai pedreiro e mãe dona de casa. Passou a ser arrimo de família quando estes se separaram. Aos 16 anos foi sozinho para Brasília, arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense e terminou o segundo grau, sempre estudando em colégio público. Obteve seu bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, obteve seu mestrado em Direito do Estado.

Foi Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki, Finlândia e, depois, foi Advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados - SERPRO (1979-84).

Prestou concurso público para procurador da República, e foi aprovado. Licenciou-se do cargo e foi estudar na França, por quatro anos, tendo obtido seu mestrado em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) em 1990 e seu doutorado em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) em 1993. Retornou ao cargo de procurador no Rio de Janeiro e professor concursado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi visiting scholar no Human Rights Institute da faculdade de direito da Universidade Columbia em Nova York (1999 a 2000) e na Universidade da Califórnia Los Angeles School of Law (2002 a 2003). Fez estudos complementares de idiomas estrangeiros no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. É fluente em francês, inglês, alemão e espanhol. Toca piano e violino desde os 16 anos de idade.

Embora se diga que ele é o primeiro negro a ser ministro do STF, ele foi, na verdade, o terceiro, sendo precedido por Hermenegildo de Barros (de 1919 a 1937) e Pedro Lessa (de 1907 a 1921).

Em 22 de abril de 2009 o ministro Gilmar Mendes e o ministro Joaquim Barbosa discutiram na sessão plenária do tribunal. Barbosa, vocalizando a posição de considerável parte da opinião pública, acusou o presidente da Corte de estar "destruindo a credibilidade da Justiça brasileira" durante o julgamento de duas ações - referentes ao pagamento de previdência a servidores do Paraná e à prerrogativa de foro privilegiado. Barbosa foi categórico ao afirmar: "Vossa excelência não está na rua, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro". Disse ainda: "Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso". Mendes se apressou em encerrar a sessão sem refutar nenhuma das acusações.

Dois dias depois, Barbosa foi saudado e fotografado por dezenas de pessoas durante e após almoço com três amigos no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca, no centro do Rio de Janeiro. Um colega da Procuradoria da República garantiu que Barbosa "está bem, feliz e sem nenhum arrependimento".

O “bate-boca” entre o presidente do STF, Gilmar Mendes (dono de uma biografia repleta de denúncias de corrupção) e o ministro Joaquim Barbosa (dono de uma biografia invejável) traz a necessidade de esclarecer quem é quem no Judiciário brasileiro.

Precisamos, urgentemente, de mais “Joaquins Boarbosas” no Brasil e no mundo, tamanha a inversão de valores que nos assola.


sábado, 25 de agosto de 2012

Mensalão, agora o Ministro virou herói

Antes de qualquer elogio sentimentalóide ao Ministro Joaquim Barbosa, deixo aqui o link para reportagem do jornal Estadão, postada na internet em 09/08/2010, na qual deixei em 10/08, dois comentários em favor do Ministro.
http://blogs.estadao.com.br/joao-bosco/barbosa-erra-ao-cobrar-privacidade-em-ambiente-publico-de-lazer-durante-licenca-medica/comment-page-1/#comment-13782

No mesmo dia 10/08, publiquei em meu blog pessoal o seguinte post:
http://www.elianebonotto.com/2010/08/estadao-e-ministro-do-stf-joaquim.html

Hoje, diante de tantas manifestações de endeusamento do Ministro, resolvi deixar o comentário abaixo no mesmo fórum, no qual há dois anos, defendi quase que sozinha o mesmo "Ministro-herói" dos últimos dias nas redes sociais.

O meu comentário ainda está na aprovação da moderação do blog, creio eu. Ei-lo.
"Bem... Depois de passados mais de dois anos dessa infeliz reportagem do Estadão, e de todos os comentários dela advindos, inclusive os meus, gostaria de saber se os personagens afoitos e ansiosos por "atirar pedras na Geny" ainda têm o mesmo pensamento exposto através de suas apreciações.
Agora que o Ministro Joaquim Barbosa tornou-se o "herói" da hora nas redes de relacionamento, como eu gostaria de saber o que pensam os comentaristas que, em agosto/2010, esfolaram o Ministro sem pestanejar!
Não postei uma única linha sobre o trabalho do ministro relator do "mensalão" em nenhuma rede social, pois já o fizera aqui e, mesmo antes disso (no início de agosto/2010), no meu blog pessoal, em forma de elogio a um dos vários brasileiros a quem devemos reverência. Tenho acompanhado o julgamento em questão e lembrei-me das opiniões desencontradas e sem fundamento neste fórum, quase todas fruto de quem mal sabe expressar uma ideia. Eliane Bonotto”


Para os poucos que terão paciência de ler os textos dos links publicados aqui, fica o senso de prudência ao tratarmos os demais ministros do STF, já que não desejamos a perpretação da impunidade no país. É fato que as defesas apresentadas durante o julgamento foram grotescas, risíveis até. Contudo, agir passionalmente não necessariamente significa fazer justiça. E mais do que dividir a Suprema Corte do país em “bandidos e mocinhos”, queremos que os ministros pratiquem a Justiça, se é que isso é possível diante de tantos conflitos de interesses. Que tal refletirmos?!


Imagem de gosto duvidoso que circula pelas redes sociais nos últimos dias


domingo, 12 de agosto de 2012

O Mensalão e a Carminha

Estou achando incrível a "saia justa" do poder público de Brasília. Armaram toda uma estratégia para o julgamento do mensalão e... Nada.

Conforme noticiado na GloboNews hoje, a polícia militar esperava caravanas de manifestantes. Foram armados cercadinhos para separar os manifestantes pró e contra, estariam disponíveis 500 homens por dia, bloqueariam todas as vias que cercam o STF etc.

Conclusão:
- As caravanas NÃO apareceram, bem como os manifestantes.
- 40 policiais militares estão sendo o suficiente para manter a ordem no entorno do prédio do STF.
- Foi fechada apenas uma pequena rua de acesso ao prédio do tribunal.

Infelizmente, essa não é uma notícia alvissareira. Os brasileiros continuam a não se importar com uma das mais nefastas pragas nesta terra, a corrupção (mãe do jeitinho brasileiro).

Cá entre nós, depois da "mequetrefe", do tesoureiro (Jacinto Lamas... Ó nome hein!) que é um "zero à esquerda" e outros quetais, que cidadão não sentiria sua inteligência ser profundamente subestimada?

Por isso mesmo, gostaria muito que todos nós saíssemos dessa posição confortável e deixássemos de ser meros títeres nas mãos dessa gente (se é que se pode chamá-los assim).

Estou ansiosa para conhecer os votos de cada Ministro da mais alta Corte do país, mesmo já sabendo que não haverá nada de estrondoso. Pena que tão poucos se indignam com o assunto. Sequer sabem o que acontece pelas bandas do planalto central.

Mas pior, muito pior do que tudo isso (e minha maior tristeza), é saber que a pessoa mais importante, prestigiosa, influente e poderosa do Brasil, atualmente, é a Carminha.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Será mesmo?




Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.


Johann Wolfgang von Goethe
1749-1832


terça-feira, 3 de julho de 2012

Rio, Paisagem Cultural Urbana? Tá brincando!

Minha amiga e colaboradora aqui no blog, Marilda Teixeira, fez algumas considerações, pra lá de pertinentes, em relação a esse assunto estapafúrdio de Patrimônio da Unesco. Eis o texto dela.
Pois é... O lobby deve ter sido forte e o título vem complementar o status de sede da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas. Eu continuo achando que precisávamos de "mais" para sermos Patrimônio Cultural. Pois um título desses - "Paisagem Cultural Urbana" - no meu humilde entender, deveria envolver alguns outros critérios como educação, qualidade de vida, envolvimento da população com seus bens materiais públicos, coisa que não acontece com a frequência desejada.

Ontem, 01/07/2012, o Rio de Janeiro ganhou da Unesco, o título de Patrimônio Mundial na categoria "Paisagem Cultural Urbana". Mas... Sem querer ser chata (e já sendo), me respondam: uma cidade que macula seu centro histórico, colocando em meio a prédios tão lindos e tão importantes para a História e a Cultura da cidade, essas monstruosidades modernosas, merece esse título?

Na foto tirada por mim em novembro passado, vemos à direita o telhado do Teatro Municipal; ao centro a Av. Rio Branco, o Monumento aos Pracinhas adiante e o Morro da Urca ao fundo; à esquerda a Biblioteca Nacional e o CCJF (Centro Cultural da Justiça Federal, antigo Supremo Tribunal Federal) ao lado. Dos “caixotões” nem vou falar, até porque não são importantes mesmo...
Imaginem a beleza que seria essa paisagem urbana se o gabarito antigo fosse preservado e os prédios fossem mais ou menos na altura das cúpulas do CCJF: poderíamos ver a baía de Guanabara e o Pão-de-Açúcar que quase pode ser visto à esquerda, não fosse a altura dos prédios.

Alguém sabe dizer na gestão de que prefeito foi permitida a construção dessas três coisas horrendas? Sim, porque existia um gabarito (que já tinha sido aumentado anos depois da inauguração da avenida) e que foi novamente modificado, claro, para atender a interesses econômicos e provavelmente a custa de muita propina, como é de costume. Eu nunca vou me conformar com essa aberração urbana!!!

O Rio é a primeira cidade a candidatar-se inteira a Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana. Segundo o presidente do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o grande diferencial na cidade é “a utilização intencional da natureza, que, atendendo aos interesses econômicos dos colonizadores portugueses, formou a paisagem carioca."

Quando o texto fala em "primeira cidade a candidatar-se inteira", suponho que as outras cidades do Brasil e do mundo, que já são "Patrimônio da Humanidade", tenham o título apenas para seu centro histórico. Se for isso, o Rio se apresenta ao título em toda a sua extensão. E então, a minha pergunta é: O Rio merece esse título?

Não resta dúvida que a cidade do Rio de Janeiro tem uma beleza natural sem par na área da orla. Os maciços que se estendem do interior da cidade até a orla, especialmente o da Tijuca, com o pico do Corcovado, o pontão do Pão-de-Açúcar e até mesmo a Serra do Mar que circunda ao longe a baía de Guanabara, a floresta da Tijuca (ainda que seja replantada), enfim, os nossos atrativos naturais, tão conhecidos no Brasil e no mundo, creio que não deixam margem a contestações sobre nosso Patrimônio Natural. Mas e quanto ao nosso Patrimônio Cultural?

Não estou diminuindo a importância das intervenções que fizemos ao longo do tempo e que contam nossa História (os prédios históricos, a abertura de avenidas e jardins) que contam a evolução urbano-histórica de nossa cidade. Afinal, nós próprios é que devemos ser os primeiros a valorizar a cidade que construímos. E é aí que a coisa se complica. Valorizamos o que construímos? As intervenções que fizemos na paisagem ao longo do tempo estão em bom estado, são conservadas e preservadas (pela população e pelos governos) a ponto de nos permitirem desejar e ganhar esse título de Patrimônio Cultural da Humanidade?

Falam muito no Corcovado e na orla de Copacabana, mas no quesito "patrimônio cultural" penso que devemos voltar nossas atenções também para outros monumentos e intervenções como o Aterro do Flamengo e, principalmente, o Centro do Rio, este Centro (que não é realmente o centro geográfico da cidade, mas o centro econômico). Esse Centro onde a nossa História se encontra, hoje, tão "picotada" (pois o que se tem são "ilhas" históricas num mar de espigões e de generalizado mau gosto modernoso), maltratado muitas vezes e pouco valorizado pelos órgãos da prefeitura e do estado, haja vista a dificuldade de se conseguir verbas suficientes para a conservação e restauração de importantes patrimônios.

E o Aterro do Flamengo? Será que suas condições de conservação são tão boas assim a ponto de influenciar positivamente na escolha da cidade para esse título? E a questão das moradias nos morros (favelas), que tanto interferiram no espaço cultural e social da cidade? É um ponto a favor ou contra? Sabemos que ainda hoje, apesar das melhorias introduzidas nessas comunidades, a falta de saneamento, os problemas de educação, de pobreza, ainda são seríssimos para a população. Esses problemas devem ser levados em conta numa escolha para "Patrimônio Cultural Urbano"?

Na minha opinião, tudo isso conta ou deveria contar. Por isso, não acho que o Rio devesse ser escolhido como Patrimônio Mundial, no item "Paisagem Cultural Urbana". Uma cidade - e um país - que não valoriza a sua História, que deixa prédios importantes de sua cidade se deteriorar para depois simplesmente demoli-los (um hábito que vem de longa data e que ainda não foi totalmente extirpado), que ainda apresenta tantos problemas de educação e cultura, não merece - pelo menos por enquanto - esse título.

Mas, enfim, o título está conosco e agora fazemos parte de um grupo seleto, junto com tantos outros sítios culturais no mundo. Só me resta esperar que os louros venham para toda a cidade, verdadeiramente.
Então, vou tentar responder à pergunta que a Marilda fez no início do texto. “Uma cidade que macula seu centro histórico, colocando em meio a prédios tão lindos e tão importantes para a História e a Cultura da cidade, essas monstruosidades modernosas, merece esse título?” Respondo com um sonoro NÃO! Marilda, no Brasil comemora-se qualquer coisa. É incrível como se gosta de uma esmola nesse país!

Eu penso assim, agora que, dizem, o Brasil não é mais o país do futuro e sim um país emergente, está tudo certo. O Brasil está se comportando exatamente como um bom nouveau riche que se preza. É assim mesmo. Não há saneamento básico para a população das favelas, o brinquedinho preferido daqueles que vivem delas (as favelas), mas é um colecionador de títulos e afins. Coisas da república, não?!

Senão vejamos:
1. O Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-americanos em 2007.
2. Desde 2003, já é sabido que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
3. Em 2007, o Cristo Redentor, de braços abertos no morro do Corcovado, apesar de ser belíssimo, foi eleito uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, o que, cá entre nós, já é um pouco demais, principalmente se considerarmos que ele ocupa um lugar no qual poderiam estar, por exemplo, o Templo de Angkor Wat, no Camboja, ou a Acrópole de Atenas, na Grécia, dois dos finalistas do famigerado concurso.
4. Em 2009, o COI – Comitê Olímpico Internacional, elegeu o Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016.
5. E agora a novidade, o Rio de Janeiro ganhou da Unesco, o título de Patrimônio Mundial na categoria "Paisagem Cultural Urbana".

O pior de tudo isso é ver que é enorme o número de pessoas (muitas das quais conhecidas nossas), que postou votos de parabéns à “cidade maravilhosa” no Facebook. Essas pessoas sequer questionaram o acontecido. E o que é insensato, os ditos intelectuais brasileiros, bradam aos quatro ventos que, durante a ditadura militar, ganhar a Copa do Mundo de Futebol só serviu para anestesiar o povo, que era um bando de alienados, pois acabava por não saber o que acontecia por trás das cortinas etc. Interessante... Parece-me que estou assistindo ao mesmo filme. É essa, Marilda, minha opinião de “enfant terrible”(*).


(*) Criança ou adulto que, por indiscreto, causa embaraços contínuos, escandaliza os outros.


O texto em citação é da Profª Marilda Teixeira, colaboradora do blog.

 


sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Queda de Ícaro

Dizem que um dragão sempre luta de frente para o inimigo, acabando por deixar a retaguarda desprevinida. Quantas vezes lutamos assim, desprevenidamente?

Li uma das mais belas páginas sobre o tema no livro “A casa do meu avô”, de Carlos Lacerda. Na página 183, encontra-se o seguinte texto, no qual hoje me reconheço sensivelmente.

"Da raça de Ícaro dificilmente sobra alguém. Sempre chega a hora em que as asas que pretenciosamente nos damos derretem-se ao sol. E caímos, de qualquer altura. Recentemente, publicou-se um livro que analisa, ampliado e explicado cada pormenor, o quadro de Brueghel que está no museu de Bruxelas, A Queda de Ícaro. Esse quadro por si só vale a viagem à Bélgica. O mais extraordinário ali, a par da pintura, que engloba tantos símbolos e propõe tantos enigmas, é que Ícaro cai no mar mas nada se perturba, em redor.
Do homem que partiu à conquista do espaço, do bicho da terra fascinado pela amplidão, vê-se ainda uma perna. Afora essa perna patética que sobrou da sua derrota, a superfície das águas permanece inalterada. Nada flutua do seu corpo, nem do espírito sobre as águas. Continua o lavrador a sua labuta, o navio a sua rota, a ilha permanece cercada de água por todos os lados, para não deixar de ser uma ilha, os carneiros continuam acarneirados sob o gesto imemorial do pastor que guarda a sua submissão. O céu não dá mostras de cólera nem de indulgência – o céu a que Ícaro pretendeu alçar-se não conhece o perdão. Nada, nada se altera. A intolerável pretensão, o desafio à mediocridade e ao conformismo, que mereceram castigo tamanho, recebem o merecido. A vingança das potestades que ele desafiou está consumada. A queda de Ícaro é a seca advertência a toda rebeldia, a imposição do conformismo. A consagração da mediocridade como regra de bem viver. Tudo em redor vai bem. Ícaro já desapareceu nas águas. Ninguém se dá conta, naquela paz excessiva e suspeita de que um dia essas águas crescerão sobre o mundo, a ilha, o pastor, as ovelhas, os símbolos, as alusões afinal decifradas nesse que tem a força de uma profecia. Depressa todos se conformam, procuram esquecer o episódio..."



Na mitologia grega, Dédalo e seu filho Ícaro foram aprisionados na ilha de Creta. Dédalo, um inventor, usou seu talento para construir dois pares de asas, com os quais ele e seu filho poderiam fugir de sua prisão. O inventor advertiu seu filho Ícaro para que este não voasse muito alto, mas Ícaro ignorou o conselho do pai. Ao subir muito, o sol derreteu a cera que mantinha as asas coladas às costas do jovem, que caiu no mar e se afogou.

O tema inspirado na lenda de Ícaro tem sido tratado desde a Antiguidade, mas não da maneira como Pieter Brueghel o abordou em seu quadro de 1558, A Queda de Ícaro. O pintor deixou de enfatizar a tragédia pessoal do menino para ater-se às reações das pessoas ao redor do acontecimento. Em vez de pintar Ícaro no céu, caindo, Brueghel mostra o jovem já na água. Seu pai, Dédalo, não é retratado na pintura. As únicas partes visíveis de Ícaro são suas pernas, que também já estão desaparecendo no mar. Sua morte, entretanto, não provoca sequer uma onda, e ninguém parece se importar com a situação. Não fosse o título da obra, da mesma maneira, os espectadores poderiam facilmente ignorar esse detalhe narrativo. Na realidade, nenhuma das atividades rotineiras presentes na cena é interrompida pela morte de Ícaro.

Ficha Técnica do quadro
Autor: Pieter Brueghel, O Velho
Onde: Museu Real de Belas-Artes, Bruxelas, Bélgica
Ano: 1558
Técnica: Óleo sobre tela (transposto de um painel)
Tamanho: 73,5cm x 112cm
Movimento: Renascimento Nórdico (Brueghel era flamengo, nascido em Flandres)


Fontes:
- A casa do meu avô, Carlos Lacerda – Ed. comemorativa – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005
- Site Universia.com.br - Projeto Um Pouco de Arte para sua Vida




domingo, 17 de junho de 2012

Adriano, aconteceu outra vez(2) !


No meu post anterior, Sustentabilidade e outros quetais, de anteontem, um amigo deixou um comentário que, ao começar a responder, percebi que ficaria tão grande que, mais uma vez (isso já aconteceu com outros comentários dele em posts meus), transformei em novo post para o blog. Eis o comentário do meu amigo Adriano e minha resposta.

Eliane, todo esse papo de sustentabilidade que fala-se mundo afora não passa de uma nova era consumista com novos focos. Resta saber quem são os principais interessados (estão lá no chamado primeiro mundo, é claro) e qual será sua modalidade exclusiva de exploração das praças consumistas.

Eu sou contra o uso de sacolas de papel, pois não temos no Brasil a cultura de separação do lixo nas residências e nem um sistema de coleta seletiva eficiente que recicle no mínimo 70% das sacolas que seriam utilizadas nos supermercados.Isso seria, a médio prazo, um prato cheio para as madeireiras e as indústrias de celulose, e o tiro sairia pela culatra quando pensarmos simultaneamente em sustentabilidade e meio ambiente. Não haverá tempo hábil para reflorestar e produzir papel na velocidade de sua utilização e consumo.A não ser que essa campanha seja realizada simultaneamente com a reeducação alimentar, a queda da demanda por carne bovina e utilização de pastos para o plantio de árvore... enlouqueci agora!! KKKK 
Primeiro o governo precisa arrumar a casa para depois implantar as mudanças.
Boralá. Abraços!
Adriano


Não Adriano, você não enlouqueceu, meu anjo. Ao contrário. Ihhh... Tenho tanto a falar aqui que já estou escrevendo em forma de post-resposta. rsrsrs

Como você mesmo disse, boralá... Adriano, só para variar, né?!, estou totalmente de acordo com você. As sacolas de papel apareceram no texto por conta do próprio motivo que me levou a escrever o post, a foto da sacola. Lembrei-me que eu mesma cheguei a pegar a época em que saía do mercado com um “sacão” de papel enorme nas mãos.

Entretanto, você está certíssimo quanto ao papel. Vou dar o exemplo de como é uma ida ao mercado na Europa. Vou usar a Europa porque minha filha morou mais de um ano em Milão estudando e estive com ela um bom tempo. Lá, todos têm seus carrinhos de compras (aqueles com rodinhas que nossas mães usavam para ir à feira) para ir ao supermercado, que, aliás, não tem nada de super nem de hiper, são todos pequenos ou médios dentro das cidades.

Na Itália, supermercados e/ou shopping centers só são encontrados em localidades fora das cidades, na periferia mesmo, que lá não é ruim ou feia, ao contrário, é apenas um local planejado mais recentemente (já que as cidades europeias são antigas e preservadas) para ser área industrial e comercial de suporte às cidades. E aqui cito outro fato que me chamou a atenção. Nestas áreas comerciais, às quais se vai de carro, vemos as placas de sinalização nas estradas indicando na língua local “centro comercial”. Não me lembro de ter visto nada onde se pudesse ler shopping center ou “malls”. Na França é a mesma coisa.

Desculpem-me pelo “hipertexto”... Voltando aos carrinhos de compras, as pessoas entram com eles no mercado e colocam as coisas que desejam comprar dentro deles. Eu mesma cansei de fazer isso em vários mercados diferentes. Eu entrava morrendo de medo de ser surpreendida por algum segurança dizendo que aquilo não era permitido dentro do mercado. Mas lá é totalmente normal! Entrar com bolsas em estabelecimentos comerciais é normal e jamais me senti com mil olhos atrás de mim achando que eu poderia “subtrair” algum produto exposto. Obviamente há câmeras. Mas o sentimento que se tem como cliente é muito diferente.

Desculpem-me pelo “hipertexto”(2)... Voltando ao carrinho mais uma vez... Depois que você fez suas compras e seu carrinho já tem o que desejava, basta dirigir-se ao caixa e colocar os produtos para serem registrados e recolocados nos carrinhos. É neles que você leva, tranquilamente, para a casa suas compras. Embalagens? Para quê? Os produtos comprados já estavam embalados. Tanto é que estavam expostos nas gôndolas, prontos para o manuseio.

O problema, Adriano, é que isso não pode ser a regra no Brasil. Até porque nossas cidades não estão prontas para sairmos de casa com um carrinho de compras e ir até o mercado mais próximo. Nosso modelo de cidade, infelizmente, é aquele em que temos de tirar o carro da garagem para ir à padaria, à farmácia etc etc. Essa é uma questão cultural. Refiro-me ao modelo das cidades. Mesmo Brasília não absorveu o modelo de áreas comerciais como foram planejadas. Os hipermercados venceram lá também.


Tenho a plena certeza de que se quisermos que o planeta Terra sobreviva, e com ele a espécie Homo sapiens sapiens, não há outro caminho que não seja este que você começou a descrever; passando por uma modificação profunda na economia mundial, que não mais poderá ser centrada no consumo desenfreado e de produtos descartáveis. Esse caminho não foi o correto e temos de dar meia volta o mais brevemente possível. E quando falo em consumo desenfreado, eu teria que tocar num assunto considerado politicamente incorreto, a super população mundial. O planeta simplesmente não suporta a quantidade de gente que hoje há nele. Quem acredita que o problema não é a quantidade e sim a má distribuição do solo, da renda etc., está caindo num baita engodo, fruto de falácia comodista de religiões, partidos políticos, blá blá blá. Portanto, não me estenderei nesse item. Quem sabe numa outra vez...

Reeducação alimentar, queda da demanda por carne bovina e utilização de pastos para o plantio de árvores e outros vão ao encontro direto do que terá de ser repensado (talvez feito mesmo) mais dia, menos dia.

Quanto à casa, penso apenas que, em fazendo a arrumação, o governo já deveria colocar no planejamento de quaisquer de seus projetos, as expectativas, as formulações de conceitos, enfim, as premissas, já baseadas na nossa sobrevivência. Mas... Será que há planejamento de verdade nos projetos de governo?

É isso, meu amigo. Será que eu enlouqueci ou viajei mais do que você achou que tinha enlouquecido? Não sei, mas como sempre digo, meus posts são sempre fonte para reflexão. Fica mais essa.


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sustentabilidade e outros quetais



Hoje uma amiga postou esta foto no Facebook. Em plena Rio+20, durante a qual os ONGeiros vão deitar e rolar nos seus “blás blás blás” de sempre, que não levam ninguém a lugar nenhum, fui tomada de súbito pela vontade de comentar o seu post. Escrevi o seguinte (aqui o texto está enriquecido com vitaminas e sais minerais):

Minha campanha é para voltarmos aos anos 1950, talvez até 40, pois foi a II Grande Guerra que elevou os EUA ao status de superpotência. Teríamos, então, sacolas de papel gratuitas nos mercados (que ainda não eram super, muito menos hiper), leite e refrigerantes em garrafas de vidro, pão embrulhado naquele papel cinza e barbante de fibra natural etc. etc. etc. Tudo super ecológico.

Isso foi antes de a petroquímica ser endeusada através do seu menino-propaganda, o plástico! Mas, será que há 60 ou 70 anos não se pensava que o planeta é finito? Claro que sim. O ponto é que os Tios Patinhas de plantão àquela época jamais divulgariam essas ideias e informações para a população de mortais mundo afora. Afinal, o lema deles é “consumir cada vez mais para a geração de cada vez mais lucro”. Com isso, não é interessante para “eles” (os caras que mandam verdadeiramente no vil metal) que exista um mundo com menos gente em números absolutos. “Eles” precisam de muitos “consumidores” para que a “cadeia alimentar” se complete. Tão simples quanto isso.

Vale termos em mente, ainda, que essa não é uma ideia tão moderninha assim. No final do século XIX, a Inglaterra faria qualquer coisa para o Brasil abolir a escravidão. Por quê? Porque os milhares de escravos no Brasil eram consumidores em potencial, depois de quase um século de revolução industrial. O Brasil tinha de ter libertado seus escravos muito antes de 1888. Perder o bonde do tempo custou o trono à Dom Pedro II. Por conta disso, hoje estamos sujeitos àquele parlamento lá em Brasília. Olha aí a confusão armada.

Entenderam porque eu penso que esses clichês sobre reciclagem, sacolas plásticas etc. são parte de um grande engodo? Eu toquei em tantos temas diferentes e, no entanto, eles estão interligados. E ainda haveria muito mais a dizer, mas vou deixá-los em paz para refletir, que sempre é minha proposta maior.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Então... Onde?

“Então”, hoje estou com uma vontade irresistível de falar sobre o Português. Não, não dos rapazes que nascem em Portugal, mas da língua portuguesa, por isso o ‘P’ maiúsculo em ‘Português’.

Penso que, pior do que os graves erros gramaticais e de ortografia da língua portuguesa, são esses horrendos vícios de linguagem que acometem a população de quando em vez. Digo de quando em vez porque eles aparecem em ondas. Duram um certo tempo e desaparecem como a espuma das ondas do mar na areia da praia. Isso porque são logo substituídos por outros. Na maioria das vezes, piores do que os anteriores.

Um desses “vícios-modismos”, atualmente, é o uso indiscriminado do advérbio “então” como uma interjeição para começar qualquer frase. Alguém poderia explicar o porquê disso? De onde desenterraram tantos “entões”? Será que é falta de inspiração ou de vocabulário?

O outro “vício-modismo”, e esse é um erro, é o uso do advérbio “onde” como se fosse um pronome relativo. Vejam esta pérola retirada de uma propaganda de um site: "Conheça ainda nosso Plano de Fidelidade, onde concedemos descontos de até 10 Frete gratuito (sic)!".


Ai, meus sais! O advérbio "onde" ocorre com valor circunstancial de lugar. Isso significa que somente poderá ser usado na indicação de lugar: Estar em algum lugar, ir a algum lugar, vir de algum lugar. Uma vez que haja o valor circunstancial de lugar, pode-se usar o advérbio "onde". Por exemplo, “A casa onde estive pertenceu à Princesa Isabel.” Será que as pessoas esqueceram-se de que ainda existem os pronomes "que" e "qual"?

Então (aqui utilizado corretamente!), por que a população deste Brasil não usa os bons e velhos "no qual", "na qual", "nos quais", "nas quais", “em que”, “com o qual”, “para a qual”, “com o que” etc., sem, obviamente, deixar de fazer as respectivas concordâncias de gênero e de número?

Vou repetir aqui o que escrevi há alguns dias no Facebook para uma amiga brasileira que leciona numa faculdade nos Estados Unidos. “A língua portuguesa foi assassinada e estamos em seu velório até hoje. O problema é que, com o passar do tempo, o "defunto" vai ficando malcheiroso. Por isso, qualquer dia desses, vão acabar por enterrá-la de vez.” E ela me respondeu: “Você tem razão. E vai chegar a hora em que esse linguajar pobre será o padrão.” E então eu arremato para terminar, “em parte já é, infelizmente.”


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Por que construíram o Hangar dos Zeppelins em Santa Cruz?

Em 1930, os alemães da Companhia Luftschiffbau Zeppelin vieram ao Brasil escolher a área apropriada para pouso e abrigo dos Zeppelins. Após meticulosos estudos climáticos, direção dos ventos, velocidade e também possibilidade de meios de transporte, foi escolhida a área próxima à Baía de Sepetiba. Essas terras foram doadas pelo Ministério da Agricultura e totalizavam 80.000 m2. No ano seguinte, o Hangar concebido por engenheiros alemães, começou a ser construído pela companhia brasileira "Construtora Nacional Condor". A construção do Hangar seguia as instruções do gigantesco Kit fornecido pelos alemães. Um acordo entre o governo brasileiro e a companhia alemã previa a construção de um aeródromo no local, que mais tarde foi denominado Bartolomeu de Gusmão.



Além da construção do Hangar, foi instalada também uma fábrica de hidrogênio para abastecer os dirigíveis e uma linha ferroviária ligando o “aeroporto” à estação de D. Pedro II. Finalmente, em 26 de dezembro de 1936, o Hangar foi inaugurado com a ativação de uma linha regular de transportes aéreos que ligava Frankfurt ao Rio de Janeiro com escala em Recife e contou com a presença do então presidente da república, Getúlio Vargas.

Até aqui tudo bem, mas onde está a resposta para a pergunta no título do post? Não sei, não... Mas acho que a encontrei, meio que por acaso, esta manhã durante minha atual leitura.

Em 1933, Getúlio Vargas fez uma viagem pelos estados do nordeste e norte do país pensando em conhecer melhor o Brasil. Seguiu no navio Almirante Jaceguay do Lloyd Brasileiro. Quando o navio rumava para a Bahia, foi sobrevoado pelo Zeppelin. Naquele dia, Getúlio Vargas escreveu em seu diário sobre a “pujança alemã, sua capacidade tecnológica e disciplina”. Na volta desta viagem, Getúlio seguiu de Recife para o Rio de Janeiro no Graf Zeppelin. Desceu no Campo dos Afonsos, após viagem inesquecível e que rendeu bons dividendos aos alemães. “O governo comprou por quase um milhão de dólares, da Zeppelin, 30 viagens, uma por ano, até 1964, entre o Brasil e a Alemanha. A compra, de tão exótica, deixou um rastro de suspeita jamais decifrado. Em contrapartida, os alemães construiriam um hangar para acomodar a imensa aeronave em suas paradas no Rio de Janeiro.”



Um trágico acidente com o dirigível Hidenburgh, na noite do dia 6 de maio de 1937, quando este incendiou, retirou de circulação estas maravilhosas naves silenciosas. O hangar de Santa Cruz está incorporado à Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro, desde 1941. E hoje é o único hangar para Zeppelins existente no mundo, pois os outros dois que foram construídos, um na Alemanha e outro nos Estados Unidos, já não existem mais.
Alguém conhecia este “detalhe” da história?



Fontes:
http://waveland__1.tripod.com/zeppelin/zeppelin.html
Os Tempos de Getúlio Vargas, José Carlos Mello, Topbooks Editora, 2011

domingo, 22 de abril de 2012

Mudar para evoluir



"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,

que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos
caminhos, que nos levam aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa

sexta-feira, 30 de março de 2012

O que fizeram com o Rio?


Isso é o que eu chamo de degradação de uma cidade. Esse contraste horrendo de paisagens está presente em todos os bairros cariocas. Que eu me lembre o único que se salvou foi o bairro da Urca. Não vou dizer mais nada. As imagens sempre falam mais do que muitas palavras.

O bairro da Penha, no subúrbio carioca, com a igreja da Penha ao alto, 1950.

O bairro da Penha, no subúrbio carioca, com a igreja da Penha ao alto, 2000.


terça-feira, 27 de março de 2012

Flor Bela de Alma da Conceição Espanca

No dia 11 deste mês, escrevi um post com o título ‘Gonçalves Dias, amor, pecado e culpa’. Pensei que poucas pessoas leriam o texto. Até porque falava de poesia e história. Mas a vida do poeta Gonçalves Dias foi tão rica e densa, apesar de tão breve em seus 41 anos, que resolvi publicar. Fiquei surpresa de ver que este post teve um grande número de leitores. E fiquei contente porque meus leitores andam românticos. E se gostaram de Gonçalves Dias, sabem o que é bom.

Então, resolvi contar aqui mais uma história de vida rica e belíssima. Dessa vez, de uma poetiza, de quem, aliás, sou fã. Pudera! Ela escrevia poesias com incrível grandiosidade. Seu nome é Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, uma escritora portuguesa multifacetada, pois escrevia em prosa e verso toda a beleza da língua de Camões.

Florbela Espanca, como ficou conhecida, nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo, em 8 de dezembro de 1894. Os 36 anos de sua breve vida, foram intensos, inquietos e plenos de sofrimento que Florbela transformou em poesia ímpar, de alma feminina e erótica.

Seu pai, João Maria Espanca, era casado com Mariana do Carmo Toscano. Mariana não pôde lhe dar filhos. João Maria, entretanto, teve dois filhos – Florbela e Apeles – com outra mulher, Antônia da Conceição Lobo, de condição humilde. Os dois irmãos foram registrados como filhos ilegítimos de pai incógnito. Contudo, João Maria criou os dois filhos em sua casa, e Mariana, sua esposa, foi madrinha de batismo de ambos. João Maria nunca lhes recusou apoio nem carinho paternal, mas só reconheceu Florbela como sua filha legítima 18 anos depois da morte dela.

Suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903/4. Em 1907, Florbela escreveu o seu primeiro conto, “Mamã!” No ano seguinte, sua mãe, Antônia, faleceu com apenas 29 anos.

Florbela foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário, quando ingressou no Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora, onde estudou até 1912. Durante os tempos no Liceu, ela leu Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Garrett etc.

Em 1913, casou-se com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. O casal morou em Redondo e, em 1915, foi para a casa dos Espanca, em Évora, com dificuldades financeiras.

Em 1916, Florbela trabalhou como jornalista em periódicos de Évora. Foi também nesta cidade que completou o curso de Letras e matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no qual foi uma das 14 mulheres entre 347 alunos inscritos.

Em 1917, apresentou os primeiros sinais sérios de neurose. Em 1919, publicou seu primeiro livro de sonetos, Livro de Mágoas. A tiragem de 200 exemplares esgotou-se rapidamente. Em 1920, ainda casada com Alberto de Jesus Silva Moutinho, Florbela foi viver com Antônio José Marques Guimarães, alferes de Artilharia da Guarda Republicana. Ela, então, interrompeu os estudos na faculdade de Direito e, em 1921, finalmente casou-se com Antônio Guimarães.

Em 1922, foi publicado seu soneto “Prince charmant...”, dedicado a Raul Proença. Em 1923, publicou sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade, edição paga por seu pai. Para sobreviver, Florbela começou a dar aulas particulares de português. Em 1925, Florbela divorciou-se pela segunda vez. Se isso não é coragem, não sei o que dizer. Uma mulher que estudou num liceu masculino, escrevia poesias ousadamente belas e vivas, divorciar-se pela segunda vez na segunda década do século XX é, no mínimo, extremamente forte e corajosa. E, na minha opinião, Florbela era uma mulher que se recusava a viver uma vida insípda, sem alma.

Senão, vejamos o que fez a intrépida, a audaz poetiza Florbela Espanca. Ainda em 1925, casou-se com o médico Mário Pereira Lage, que conhecia desde 1921 e com quem vivia desde 1924. O casamento foi em Matosinhos, no Porto, onde o casal foi morar a partir de 1926.

Em 1927 a autora principiou a sua colaboração no jornal D. Nuno de Vila Viçosa, dirigido por José Emídio Amaro. Naquele tempo não encontrava editor para a coletânea Charneca em Flor. Preparava também um volume de contos, provavelmente O Dominó Preto, publicado postumamente apenas em 1982. Começou a traduzir romances para as editoras Civilização e Figueirinhas do Porto.

Em 1927, seu irmão, Apeles Espanca, faleceu num trágico acidente de avião. A morte do irmão foi um golpe duro para Florbela. Sua doença mental agravou-se bastante e, em 1928, ela teria tentado o suicídio pela primeira vez.

Em 1930, Florbela começou a escrever o ‘Diário do Último Ano’, obra que só foi publicada, postumente, em 1981.

Florbela tentou o suicídio por outras duas vezes. Uma vez em outubro e depois em novembro de 1930, na véspera da publicação da sua obra-prima, ‘Charneca em Flor’. Ainda neste ano de 1930, Florbela perdeu toda vontade de viver depois de receber o diagnóstico de um edema pulmonar. Não resistiu à terceira tentativa de suicídio e faleceu em Matosinhos, no dia em que completava 36 anos, 8 de dezembro de 1930. A causa da morte foi overdose de barbitúricos.

Para quem ainda não conhece os poemas de Florbela Espanca, experimente ler estes versos e estes sonetos.

Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.



Se tu viesses ver-me
Charneca em Flor, Poemas

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Eu...
Livro de Mágoas

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!





segunda-feira, 26 de março de 2012

Oração ao Tempo


O passar do tempo é o maior mistério que conheço. Me faz pensar muito e durante muito tempo... A letra dessa música de Caetano Veloso é pura poesia. Um convite à reflexão.



sexta-feira, 23 de março de 2012

Alida Valli, quem conhece?



Vi esta foto de uma atriz de Hollywood e logo imaginei... Que bela foto de Grace Kelly! Hãã?! Nada disso! Essa belíssima mulher não é Grace Kelly. Ela é uma atriz italiana linda, de enorme talento, sofisticada e de origem nobre, a Baronesa von Marckenstein und Frauenberg. Seu nome completo, Alida Maria Laura von Altenburger. Nascida em 31 de maio de 1921, em Pula, na Ístria Italiana, hoje, parte da Croácia.

Dona de especial sensibilidade, ela dedicou-se ao cinema e, nos primeiros anos da década de 1940, já era uma atriz “da moda”, disputada pelos produtores da época. Seu nome era poético, Alida significa "voando como um pássaro". Foi chamada de “The next Garbo” e seus lindos olhos verdes eram sua marca registrada. Na minha humilde opinião, Alida Valli foi dona do segundo lugar no "ranking" dos mais belos olhos verdes italianos. O primeiro lugar neste "ranking" ainda está bem vivo, graças à Deus!

De 1936, quando fez seu primeiro filme, I due sergenti, até 2002, quando atuou pela última vez, aos 81 anos, em Semana Santa, Alida Valli fez 109 filmes, além de ter atuado em cerca de 30 peças de teatro. Ainda durante os anos 1940, foi considerada “a namoradinha da Itália”. Foi neste mesmo período que Alida recusou-se a fazer filmes de propaganda do regime fascista de Benito Mussolini, que a considerava “a mulher mais bonita do mundo”. Ela passou, então, a ser perseguida e teve de se esconder para evitar possível prisão e execução, isso segundo informações constantes na internet.

No auge do sucesso, em 1954, sua popularidade foi abalada com um escândalo envolvendo sexo, drogas, ritual religioso e morte. Ela estava em Torvajanica, uma praia particular próxima a Napóles, participando de uma orgia coordenada pelos Illuminati, ao lado de autoridades da igreja católica e da política, quando a desconhecida Wilma Montesi, de 21 anos, utilizada como sacerdotisa de uma missa adonaicida e escrava sexual, morreu de esgotamento físico, e também, de uma overdose de drogas. Este infortúnio provocou a renúncia do ministro das Relações Exteriores da Itália, Attilio Piccioni, pois um filho seu fazia parte da maratona sexual; inspirou uma cena de "A Doce Vida", de Federico Fellini; e resultou na separação definitiva da atriz de seu marido, Oscar De Mejo. A publicidade desagradável foi tão intensa que quase arruinou sua carreira.

Durante sua carreira, Alida teve participações em produções de Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Claude Chabrol, Pier Paolo Pasolini, Valerio Zurlini, René Clement, Bernardo Bertolucci, além de Alfred Hitchcock. Em 22 de abril de 2006, aos 85 anos, Alida Valli faleceu em Roma, na Itália.

Apaixonem-se por este belíssimo rosto da Ístria italiana!




quarta-feira, 21 de março de 2012

Darcy Ribeiro, 15 anos depois

Dia 17 de fevereiro passado, completaram-se 15 anos da morte de Darcy Ribeiro. Podia-se discordar de sua atuação como "político" profissional (coisa que absolutamente ele não era), mas jamais duvidar de seus ideais e de seu verdadeiro amor pelo Brasil. E apesar de sua importância para a Educação e a Cultura desse país, eu não vi nem ouvi nenhum grande meio de comunicação mencionar uma única linha sobre ele. Somente a TV Senado lhe prestou um tributo, reprisando um documentário sobre sua vida.

Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor, "político", acima de tudo sonhador. Sonhou até o último dia de sua vida que o Brasil poderia ser muito melhor do que sempre havia sido, que poderia realizar todas as suas potencialidades como nação mestiça, justa e humana, mas que, para isso, teria de jogar todas as suas fichas na Educação, base de qualquer sociedade que almeje algum desenvolvimento.

Foi esse sonho que o moveu quando fundou, junto com Anísio Teixeira, a Universidade de Brasília (UnB) e foi também esse sonho que plantou os pilares (inspirado ainda por Anísio Teixeira, já falecido a essa época), dos famosos e polêmicos CIEPs. Entre esses dois grandes projetos, o Golpe de 64, a marca divisória do destino desse país, para bem e (ou) para o mal.

Não posso - nem quero - me deter no período pré e imediatamente pós-1964, quando eu era ainda muito jovem, mas posso dizer alguma coisa sobre os CIEPs, pois nessa época, eu já exercia minhas atividades no magistério.

Se a concepção original dessas escolas tivesse sido seguida à risca, seriam as grandes escolas-modelo desse país. A Educação do povo brasileiro, para Darcy Ribeiro, era o que de mais importante havia a se fazer, tanto que em meio ao mirabolante e "midiático" projeto do Sambódromo, ele conseguiu introduzir, ali também, a Educação. O que eram os camarotes senão salas de aula que apenas no período de Momo serviriam para a folia? E foram mesmo salas de aula durante vários anos.

A existência de uma escola em tempo integral no ensino público, onde as crianças de classes populares teriam, não só as aulas tradicionais, mas alimentação, assistência médica e odontológica, natação, salas de leitura e outras atividades extra-classe, poderia proporcionar a essas crianças uma formação mais sólida, ocupando-as com atividades saudáveis e impedindo (ou, pelo menos, dificultando) que se tornassem presas fáceis da marginalidade. Com isso, achava Darcy, o país poderia consolidar o grande salto na Educação e na estruturação de uma nova sociedade, mais justa, mais igualitária e mais feliz.

Não foi isso que aconteceu. Seu projeto foi apropriado por demagogos, por aqueles que queriam apenas usar suas ideias para manterem-se na política. Com o tempo, tudo o que ele pensou foi sendo dilapidado, deturpado e, finalmente, ruiu diante da corrupção, do descaso e da ganância.

Pouco antes de morrer, ele declarou que sabia que tinha sido derrotado, mas, mesmo assim, "não queria estar no lugar de quem o tinha vencido". E mais: apesar disso, ele continuava tendo esperança de que o Brasil ainda desenvolveria todas as suas potencialidades, que caberia a nós, povo brasileiro, realizar isso, e que essa nação mestiça só precisava de Educação para se mostrar ao mundo como realmente ela deveria ser.

Não estou aqui "endeusando" Darcy Ribeiro. Ele teve alguns erros de percurso, mas ninguém pode negar que foi um Brasileiro que amou sua pátria, coisa hoje tão difícil de se ver, principalmente entre a classe política.

Ele, Anísio Teixeira e alguns outros, tinham um Projeto de País, que é exatamente o que falta aos nossos dirigentes e representantes em todas as esferas. Um Projeto de País não se concretiza em uma ou duas legislaturas, em um ou dois mandatos; isso é coisa que se faz em longo prazo, mas para nossos políticos "não há tempo a perder". Políticos querem resultados imediatos e, de preferência, sempre bastante visíveis na mídia. Educação é semente que se planta para colher os frutos cerca de vinte anos depois. É muito tempo para quem quer se vangloriar agora!

É por essas e por outras que somos hoje a 6ª economia do mundo (num mundo em crise não me parece que isso seja grande coisa) e o 88º país em Educação, no ranking da UNESCO.

Fico aqui pensando com meus botões se não é melhor mesmo que o Darcy não esteja mais aqui para ver tudo isso. Creio que ele, apesar de seu habitual bom humor e otimismo, ficaria triste em saber que 600 mil crianças brasileiras ainda estão fora da escola (dados de 2010). Também não sei o que ele diria ao saber que estamos negando nossa mestiçagem quando alguns acusam de "politicamente incorreta" a designação de mulata às mulheres mestiças de negros e brancos, pois a palavra agora, se tornou quase pejorativa. A sociedade mestiça de que Darcy tanto se orgulhava, parece que está desaparecendo em nome do "politicamente correto", um conceito que está extrapolando os limites do bom senso. Mas esse é assunto para outro momento... Por hora, apenas rendo minha homenagem a um Brasileiro com B maiúsculo: Darcy Ribeiro.



Texto de Marilda Teixeira, colaboradora do blog.