Isso é o que eu chamo de degradação de uma cidade. Esse contraste horrendo de paisagens está presente em todos os bairros cariocas. Que eu me lembre o único que se salvou foi o bairro da Urca. Não vou dizer mais nada. As imagens sempre falam mais do que muitas palavras.
O bairro da Penha, no subúrbio carioca, com a igreja da Penha ao alto, 1950.
O bairro da Penha, no subúrbio carioca, com a igreja da Penha ao alto, 2000.
No dia 11 deste mês, escrevi um post com o título ‘Gonçalves Dias, amor, pecado e culpa’. Pensei que poucas pessoas leriam o texto. Até porque falava de poesia e história. Mas a vida do poeta Gonçalves Dias foi tão rica e densa, apesar de tão breve em seus 41 anos, que resolvi publicar. Fiquei surpresa de ver que este post teve um grande número de leitores. E fiquei contente porque meus leitores andam românticos. E se gostaram de Gonçalves Dias, sabem o que é bom.
Então, resolvi contar aqui mais uma história de vida rica e belíssima. Dessa vez, de uma poetiza, de quem, aliás, sou fã. Pudera! Ela escrevia poesias com incrível grandiosidade. Seu nome é Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, uma escritora portuguesa multifacetada, pois escrevia em prosa e verso toda a beleza da língua de Camões.
Florbela Espanca, como ficou conhecida, nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo, em 8 de dezembro de 1894. Os 36 anos de sua breve vida, foram intensos, inquietos e plenos de sofrimento que Florbela transformou em poesia ímpar, de alma feminina e erótica.
Seu pai, João Maria Espanca, era casado com Mariana do Carmo Toscano. Mariana não pôde lhe dar filhos. João Maria, entretanto, teve dois filhos – Florbela e Apeles – com outra mulher, Antônia da Conceição Lobo, de condição humilde. Os dois irmãos foram registrados como filhos ilegítimos de pai incógnito. Contudo, João Maria criou os dois filhos em sua casa, e Mariana, sua esposa, foi madrinha de batismo de ambos. João Maria nunca lhes recusou apoio nem carinho paternal, mas só reconheceu Florbela como sua filha legítima 18 anosdepois da morte dela.
Suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903/4. Em 1907, Florbela escreveu o seu primeiro conto, “Mamã!” No ano seguinte, sua mãe, Antônia, faleceu com apenas 29 anos.
Florbela foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário, quando ingressou no Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora, onde estudou até 1912. Durante os tempos no Liceu, ela leu Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Garrett etc.
Em 1913, casou-se com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. O casal morou em Redondo e, em 1915, foi para a casa dos Espanca, em Évora, com dificuldades financeiras.
Em 1916, Florbela trabalhou como jornalista em periódicos de Évora. Foi também nesta cidade que completou o curso de Letras e matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no qual foi uma das 14 mulheres entre 347 alunos inscritos.
Em 1917, apresentou os primeiros sinais sérios de neurose. Em 1919, publicou seu primeiro livro de sonetos, Livro de Mágoas. A tiragem de 200 exemplares esgotou-se rapidamente. Em 1920, ainda casada com Alberto de Jesus Silva Moutinho, Florbela foi viver com Antônio José Marques Guimarães, alferes de Artilharia da Guarda Republicana. Ela, então, interrompeu os estudos na faculdade de Direito e, em 1921, finalmente casou-se com Antônio Guimarães.
Em 1922, foi publicado seu soneto “Prince charmant...”, dedicado a Raul Proença. Em 1923, publicou sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade, edição paga por seu pai. Para sobreviver, Florbela começou a dar aulas particulares de português. Em 1925, Florbela divorciou-se pela segunda vez. Se isso não é coragem, não sei o que dizer. Uma mulher que estudou num liceu masculino, escrevia poesias ousadamente belas e vivas, divorciar-se pela segunda vez na segunda década do século XX é, no mínimo, extremamente forte e corajosa. E, na minha opinião, Florbela era uma mulher que se recusava a viver uma vida insípda, sem alma.
Senão, vejamos o que fez a intrépida, a audaz poetiza Florbela Espanca. Ainda em 1925, casou-se com o médico Mário Pereira Lage, que conhecia desde 1921 e com quem vivia desde 1924. O casamento foi em Matosinhos, no Porto, onde o casal foi morar a partir de 1926.
Em 1927 a autora principiou a sua colaboração no jornal D. Nuno de Vila Viçosa, dirigido por José Emídio Amaro. Naquele tempo não encontrava editor para a coletânea Charneca em Flor. Preparava também um volume de contos, provavelmente O Dominó Preto, publicado postumamente apenas em 1982. Começou a traduzir romances para as editoras Civilização e Figueirinhas do Porto.
Em 1927, seu irmão, Apeles Espanca, faleceu num trágico acidente de avião. A morte do irmão foi um golpe duro para Florbela. Sua doença mental agravou-se bastante e, em 1928, ela teria tentado o suicídio pela primeira vez.
Em 1930, Florbela começou a escrever o ‘Diário do Último Ano’, obra que só foi publicada, postumente, em 1981.
Florbela tentou o suicídio por outras duas vezes. Uma vez em outubro e depois em novembro de 1930, na véspera da publicação da sua obra-prima, ‘Charneca em Flor’. Ainda neste ano de 1930, Florbela perdeu toda vontade de viver depois de receber o diagnóstico de um edema pulmonar. Não resistiu à terceira tentativa de suicídio e faleceu em Matosinhos, no dia em que completava 36 anos, 8 de dezembro de 1930. A causa da morte foi overdose de barbitúricos.
Para quem ainda não conhece os poemas de Florbela Espanca, experimente ler estes versos e estes sonetos.
Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.
Se tu viesses ver-me Charneca em Flor, Poemas
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Eu... Livro de Mágoas
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
O passar do tempo é o maior mistério que conheço. Me faz pensar muito e durante muito tempo... A letra dessa música de Caetano Veloso é pura poesia. Um convite à reflexão.
Vi esta foto de uma atriz de Hollywood e logo imaginei... Que bela foto de Grace Kelly! Hãã?! Nada disso! Essa belíssima mulher não é Grace Kelly. Ela é uma atriz italiana linda, de enorme talento, sofisticada e de origem nobre, a Baronesa von Marckenstein und Frauenberg. Seu nome completo, Alida Maria Laura von Altenburger. Nascida em 31 de maio de 1921, em Pula, na Ístria Italiana, hoje, parte da Croácia.
Dona de especial sensibilidade, ela dedicou-se ao cinema e, nos primeiros anos da década de 1940, já era uma atriz “da moda”, disputada pelos produtores da época. Seu nome era poético, Alida significa "voando como um pássaro". Foi chamada de “The next Garbo” e seus lindos olhos verdes eram sua marca registrada. Na minha humilde opinião, Alida Valli foi dona do segundo lugar no "ranking" dos mais belos olhos verdes italianos. O primeiro lugar neste "ranking" ainda está bem vivo, graças à Deus!
De 1936, quando fez seu primeiro filme, I due sergenti, até 2002, quando atuou pela última vez, aos 81 anos, em Semana Santa, Alida Valli fez 109 filmes, além de ter atuado em cerca de 30 peças de teatro. Ainda durante os anos 1940, foi considerada “a namoradinha da Itália”. Foi neste mesmo período que Alida recusou-se a fazer filmes de propaganda do regime fascista de Benito Mussolini, que a considerava “a mulher mais bonita do mundo”. Ela passou, então, a ser perseguida e teve de se esconder para evitar possível prisão e execução, isso segundo informações constantes na internet.
No auge do sucesso, em 1954, sua popularidade foi abalada com um escândalo envolvendo sexo, drogas, ritual religioso e morte. Ela estava em Torvajanica, uma praia particular próxima a Napóles, participando de uma orgia coordenada pelos Illuminati, ao lado de autoridades da igreja católica e da política, quando a desconhecida Wilma Montesi, de 21 anos, utilizada como sacerdotisa de uma missa adonaicida e escrava sexual, morreu de esgotamento físico, e também, de uma overdose de drogas. Este infortúnio provocou a renúncia do ministro das Relações Exteriores da Itália, Attilio Piccioni, pois um filho seu fazia parte da maratona sexual; inspirou uma cena de "A Doce Vida", de Federico Fellini; e resultou na separação definitiva da atriz de seu marido, Oscar De Mejo. A publicidade desagradável foi tão intensa que quase arruinou sua carreira.
Durante sua carreira, Alida teve participações em produções de Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Claude Chabrol, Pier Paolo Pasolini, Valerio Zurlini, René Clement, Bernardo Bertolucci, além de Alfred Hitchcock. Em 22 de abril de 2006, aos 85 anos, Alida Valli faleceu em Roma, na Itália.
Apaixonem-se por este belíssimo rosto da Ístria italiana!
Dia 17 de fevereiro passado, completaram-se 15 anos da morte de Darcy Ribeiro. Podia-se discordar de sua atuação como "político" profissional (coisa que absolutamente ele não era), mas jamais duvidar de seus ideais e de seu verdadeiro amor pelo Brasil. E apesar de sua importância para a Educação e a Cultura desse país, eu não vi nem ouvi nenhum grande meio de comunicação mencionar uma única linha sobre ele. Somente a TV Senado lhe prestou um tributo, reprisando um documentário sobre sua vida.
Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor, "político", acima de tudo sonhador. Sonhou até o último dia de sua vida que o Brasil poderia ser muito melhor do que sempre havia sido, que poderia realizar todas as suas potencialidades como nação mestiça, justa e humana, mas que, para isso, teria de jogar todas as suas fichas na Educação, base de qualquer sociedade que almeje algum desenvolvimento.
Foi esse sonho que o moveu quando fundou, junto com Anísio Teixeira, a Universidade de Brasília (UnB) e foi também esse sonho que plantou os pilares (inspirado ainda por Anísio Teixeira, já falecido a essa época), dos famosos e polêmicos CIEPs. Entre esses dois grandes projetos, o Golpe de 64, a marca divisória do destino desse país, para bem e (ou) para o mal.
Não posso - nem quero - me deter no período pré e imediatamente pós-1964, quando eu era ainda muito jovem, mas posso dizer alguma coisa sobre os CIEPs, pois nessa época, eu já exercia minhas atividades no magistério.
Se a concepção original dessas escolas tivesse sido seguida à risca, seriam as grandes escolas-modelo desse país. A Educação do povo brasileiro, para Darcy Ribeiro, era o que de mais importante havia a se fazer, tanto que em meio ao mirabolante e "midiático" projeto do Sambódromo, ele conseguiu introduzir, ali também, a Educação. O que eram os camarotes senão salas de aula que apenas no período de Momo serviriam para a folia? E foram mesmo salas de aula durante vários anos.
A existência de uma escola em tempo integral no ensino público, onde as crianças de classes populares teriam, não só as aulas tradicionais, mas alimentação, assistência médica e odontológica, natação, salas de leitura e outras atividades extra-classe, poderia proporcionar a essas crianças uma formação mais sólida, ocupando-as com atividades saudáveis e impedindo (ou, pelo menos, dificultando) que se tornassem presas fáceis da marginalidade. Com isso, achava Darcy, o país poderia consolidar o grande salto na Educação e na estruturação de uma nova sociedade, mais justa, mais igualitária e mais feliz.
Não foi isso que aconteceu. Seu projeto foi apropriado por demagogos, por aqueles que queriam apenas usar suas ideias para manterem-se na política. Com o tempo, tudo o que ele pensou foi sendo dilapidado, deturpado e, finalmente, ruiu diante da corrupção, do descaso e da ganância.
Pouco antes de morrer, ele declarou que sabia que tinha sido derrotado, mas, mesmo assim, "não queria estar no lugar de quem o tinha vencido". E mais: apesar disso, ele continuava tendo esperança de que o Brasil ainda desenvolveria todas as suas potencialidades, que caberia a nós, povo brasileiro, realizar isso, e que essa nação mestiça só precisava de Educação para se mostrar ao mundo como realmente ela deveria ser.
Não estou aqui "endeusando" Darcy Ribeiro. Ele teve alguns erros de percurso, mas ninguém pode negar que foi um Brasileiro que amou sua pátria, coisa hoje tão difícil de se ver, principalmente entre a classe política.
Ele, Anísio Teixeira e alguns outros, tinham um Projeto de País, que é exatamente o que falta aos nossos dirigentes e representantes em todas as esferas. Um Projeto de País não se concretiza em uma ou duas legislaturas, em um ou dois mandatos; isso é coisa que se faz em longo prazo, mas para nossos políticos "não há tempo a perder". Políticos querem resultados imediatos e, de preferência, sempre bastante visíveis na mídia. Educação é semente que se planta para colher os frutos cerca de vinte anos depois. É muito tempo para quem quer se vangloriar agora!
É por essas e por outras que somos hoje a 6ª economia do mundo (num mundo em crise não me parece que isso seja grande coisa) e o 88º país em Educação, no ranking da UNESCO.
Fico aqui pensando com meus botões se não é melhor mesmo que o Darcy não esteja mais aqui para ver tudo isso. Creio que ele, apesar de seu habitual bom humor e otimismo, ficaria triste em saber que 600 mil crianças brasileiras ainda estão fora da escola (dados de 2010). Também não sei o que ele diria ao saber que estamos negando nossa mestiçagem quando alguns acusam de "politicamente incorreta" a designação de mulata às mulheres mestiças de negros e brancos, pois a palavra agora, se tornou quase pejorativa. A sociedade mestiça de que Darcy tanto se orgulhava, parece que está desaparecendo em nome do "politicamente correto", um conceito que está extrapolando os limites do bom senso. Mas esse é assunto para outro momento... Por hora, apenas rendo minha homenagem a um Brasileiro com B maiúsculo: Darcy Ribeiro.
Gosto de jogar tênis. É óbvio que não sou nenhuma Serena Williams, mas quebro um galho. Na verdade, o meu problema nem é bem o tênis, mas a falta de condicionamento físico, um pouco inerente à idade e outro tanto à falta de exercícios físicos, o que me faz colocar um palmo de língua para fora em menos de meia hora.
Hoje, cheguei em casa depois de um fim de tarde batendo uma bolinha com uma amiga e, então, fazendo uma busca no Google, fui “bater”, totalmente por acaso, num blog super bem humorado, exatamente num post em que o blogueiro contava sua última peripécia jogando tênis. Não me contive ao ler o texto e caí na gargalhada.
Dorothea Douglass Lambert ganhou o título em Wimbledon 7 vezes (1903, 1904, 1906, 1910, 1911, 1913, 1914). Imaginem se ela usasse uma roupinha mais leve...
Sem mais delongas, compartilho a experiência do Rica Perrone, o dono do blog, com vocês. Diz ele: (sic)
Coisas que só acontecem com o Perrone terça-feira, setembro 16
O idiota aqui resolveu jogar Tenis. To na sexta aula e noto alguma dificuldade com a bola. Sem ela, tranquilo. Aquela merdinha amarela vem na minha direção e eu enfio ela longe.
Mas, tudo bem. O Nadal ainda tem tempo pra ganhar os titulos dele enquanto eu aprendo.
Hoje, na aula, cheguei atrasado. Parei meu carro fora da “academia de tenis” e entrei correndo. Fui pra aula e o professor mandando bola pra mim. Eu rebatendo, acertando uma a cada 10. Tava ótimo o indice! Me apelidaram de Eder Luis, não sei porque.
Eis que numa jogada eu mandei a bola lá na casa do ca…. Ouvi um “powwwwww” e comecei a rir, porque eu acertei a rua e provavelmente acertei um carro que passava.
Dei risada por 2 minutos. Até o guardinha dizer alto: “Acertou o carro preto!”.
Show… dei uma bolada no MEU CARRO! E ainda achei engraçado… rs
abs,
RicaPerrone
O charme dos pés de Maria Esther Bueno sacando
Bem, o texto do Rica Perrone foi um grande consolo para minha performance de hoje. Boa semana, caros leitores.
Desde os tempos de D. João VI já se pensava em construir um canal navegável ligando o mar ao Rocio Pequeno, a ex Praça Onze. O canal teria como objetivo secar uma série de mangues existentes próximo ao que é hoje a Cidade Nova, que era um foco de doenças, mosquitos e odores desagradáveis.
Só em 1857, foi iniciada a construção do Canal do Mangue, que foi a maior obra de saneamento do Rio de Janeiro, na época do Império, que possibilitou a extinção da Lagoa da Sentinela e dos maguezais de São Diogo, que iam até quase o Campo de Santana. A obra foi contratada ao visionário Barão de Mauá, que inaugurou a Avenida Canal do Mangue juntamente com sua fábrica de gás (a atual CEG, que teve sua sede na Av. Presidente Vargas). O gás seria usado na iluminação pública e doméstica.
Avenida do Mangue em 1900
Ex-sede da CEG (Companhia Estadual de Gás) em foto atual. Esse foi o prédio construído pelo Barão de Mauá para sua fábrica de gás no século XIX.
No Governo do prefeito (interventor) Henrique de Toledo Dodsworth, do então Distrito Federal, de 1937 a 1945, a ideia de prolongar a Avenida do Mangue até o Cais dos Mineiros, atual Arsenal da Marinha, foi posta em prática e foi aberta a Avenida Presidente Vargas, que recebeu este nome em homenagem ao então Presidente Getúlio Vargas. Para abrir a Avenida houve uma série de demolições: 525 prédios desapareceram juntamente com antigas ruas, o que enfureceu vários seguimentos da sociedade. A Avenida tem 2.040 metros de extensão no trecho até a Praça Onze. Sua largura atinge 80 metros da Candelária até a Praça Onze e 90 metros no trecho do Canal do Mangue.
Na abertura da Avenida foram demolidas três importantes igrejas da cidade: a de São Pedro dos Clérigos, a de Bom Jesus do Calvário e a de São Domingos. Só a Igreja da Candelária foi preservada. Sua grandiosidade e imponência foram respeitadas e, em torno dela, surgiu a Praça Pio X, com a Avenida passando ao seu redor.
A Igreja de São Pedro dos Clérigos foi o centro das atenções e de um episódio interessantíssimo durante a abertura da Avenida. O Prof. Fernando Luiz Lobo Carneiro foi designado pelo chefe do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), onde veio a trabalhar por 33 anos, para fazer um ensaio a fim de testar a solução imaginada, na época, para a igreja: deslocá-la para o lado, usando rolos de concreto com 60cm de diâmetro.
A São Pedro dos Clérigos era uma igreja histórica, construída em 1732, pequena, barroca e com planta elíptica. Igual àquela só há mais uma no Brasil, em Ouro Preto: a Igreja do Rosário dos Pretos. Era, portanto, uma das mais importantes igrejas da cidade, seu interior foi totalmente decorado por Mestre Valentim e apresentava uma talha em estilo Rococó.
Igreja de São Pedro dos Clérigos em 1942
O projeto consistia em substituir a parte inferior das paredes da igreja por concreto. Sob o concreto, seriam colocados rolos que serviriam para deslocar a igreja até o outro lado da avenida.
A Franki, uma empresa de fundações e infraestruturas, tinha tido sucesso na Europa no transporte de construções sobre rolos de aço. Mas aqui no Brasil surgiu a ideia de fazer rolos de concreto. Os de aço eram calculados através da fórmula de Hertz, mas a questão era como calcular os de concreto. Eram rolos de 60 cm de diâmetro. Quando o Prof. Lobo Carneiro pôs o rolo de concreto na máquina, ele quebrou de uma maneira inteiramente diferente dos de aço: por uma fissura vertical, abrindo-se em dois. Segundo o Professor: “Estudei isso e me ocorreu propor um novo método para a determinação da resistência à tração dos concretos”.
A resistência à compressão era determinada em cilindros ensaiados verticalmente com as dimensões: diâmetro = 15cm e altura = 30cm. Pondo esses cilindros deitados, entre os pratos da máquina, se determinaria a resistência à tração.
O método foi logo levado à reunião de fundação da RILEM (Réunion Internationale des Laboratoires et Experts des Matériaux, Systèmes de Construction et Ouvrages). Isso ocorreu em 1947, por iniciativa de um grupo de diretores de laboratórios, composto por cerca de 14 pessoas, sob a direção de Robert L'Hermite, diretor do Laboratório de Ensaios e Pesquisas sobre Construção e Obras Públicas, da França. E assim o ensaio de compressão diametral do
concreto foi descrito e apresentado na França.
No Brasil, na época, ninguém deu muita importância àquilo, mas na França logo começou a ser usado e passou a ser chamado de "essai brésilien". Depois de ser aceito pela American Society for Testing Materials, em 1962, ficou conhecido também nos Estados Unidos como "brazilian test". Recentemente, em 1980, foi adotado pela International Organization for Standardization (ISO). A engenharia brasileira deve muito ao Prof. Fernando Luiz Lobo Carneiro, que faleceu em novembro de 2001. O Professor fundou na Coppe, na UFRJ, a pós-graduação em engenharia civil no Brasil.
Prof. Fernando Luiz Lobo Carneiro
Mas voltando à igreja, o que aconteceu exatamente com a São Pedro dos Clérigos? Segundo o Professor, ela acabou sendo demolida, porque suas alvenarias eram bastante espessas (algumas tinham mais de um metro), mas completamente heterogêneas. Dentro delas havia pedaços de estátuas, madeira, tijolos etc., o que as tornava fracas. Além disso, o prefeito da época, Henrique Dodsworth, começou a ser ridicularizado. Diziam: "O velho está gagá, quer deslocar uma igreja sobre rolos...", embora esse tipo de transporte tivesse sido feito na Europa com êxito. Fizeram até um samba sobre o assunto.
O prefeito mandou, então, um ofício à Franki, perguntando se a empresa garantia que a igreja chegaria intacta do outro lado da avenida. O diretor respondeu: "Garantir eu não posso, porque, dada a heterogeneidade das paredes da igreja, pode haver um acidente durante o transporte e ela desmoronar". Diante disso, o prefeito deu o caso por encerrado e mandou demolir a igreja.
Gosto de poesia. Daquela poesia lírica do período romântico brasileiro, de meados do século XIX. Antonio Gonçalves Dias é para mim o ícone desse lirismo que me arrebata cada vez que releio seus escritos.
Sua poesia me agrada tanto... Talvez mais pela história de seu grande amor irrealizado. De fato, o amor correspondido entre o poeta e sua eterna musa, Ana Amélia Ferreira do Vale, foi em si o maior dos poemas já “escritos” por Gonçalves Dias.
Entretanto, como um dos representantes máximos do amor romântico, Gonçalves Dias não viveu feliz para sempre com sua Ana Amélia. Depois de ter a mão de sua amada negada por sua família, frustrado, casou-se no Rio de Janeiro, em 1852, com Olímpia Carolina da Costa, de quem se separou em 1856. Morreu aos 41 anos num naufrágio na costa do Maranhão, sua terra natal, levando consigo a grande culpa de não ter tido a coragem de enfrentar a família de sua amada e fugido com ela para se casarem, como era desejo da própria Ana Amélia.
Sobre sua morte no naufrágio sabe-se que ele foi à Europa em 1862 para um tratamento de saúde. Não obtendo resultados, retornou ao Brasil em 1864 no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira. Salvaram-se todos, exceto o poeta que foi esquecido agonizando em seu leito e se afogou. O acidente ocorreu nos baixios de Atins, perto da vila de Guimarães no Maranhão. Incrível esse acidente, não?!
Transcrevo aqui um breve resumo desta história de amor contada na antologia poética da fase romântica, elaborada por Manuel Bandeira, e que está publicado na Wikipédia.
Gonçalves Dias viu Ana Amélia pela primeira vez em 1846 no Maranhão. Era uma menina quase, e o poeta, com 23 anos, fascinado pela sua beleza e graça juvenil, escreveu para ela as poesias 'Seus olhos' e 'Leviana'. Vindo para o Rio, é possível que essa primeira impressão tenha desaparecido do seu espírito. Mais tarde, porém, em 1851, voltando a São Luís, viu-a de novo, e já então a menina e moça de 1846 se fizera mulher, no pleno esplendor da sua beleza desabrochada. O encantamento de outrora se transformou em paixão ardente, e, correspondido com a mesma intensidade de sentimento, o poeta, vencendo a timidez, pediu-a em casamento à família. A família da linda Don'Ana — como lhe chamavam — tinha o poeta em grande estima e admiração. Mais forte, porém, do que tudo, era naquele tempo no Maranhão o preconceito de raça e casta. E foi em nome desse preconceito que a família recusou o seu consentimento. Por seu lado, o poeta, colocado diante das duas alternativas: renunciar ao amor ou à amizade, preferiu sacrificar aquela a esta, levado por um excessivo escrúpulo de honradez e lealdade, que revela nos mínimos atos de sua vida. Partiu para Portugal. Renúncia tanto mais dolorosa e difícil por que a moça que estava resolvida a abandonar a casa paterna para fugir com ele, o acusou em carta, dura e amargamente, por não ter tido a coragem de passar por cima de tudo e de romper com todos para desposá-la!
E foi em Portugal, tempos depois, que recebeu outro rude golpe: Don'Ana, por capricho e acinte à família, casara-se com um comerciante, homem também de cor como o poeta e nas mesmas condições inferiores de nascimento. A família se opusera tenazmente ao casamento, mas desta vez o pretendente, sem medir considerações para com os parentes da noiva, recorreu à justiça, que lhe deu ganho de causa, por ser maior a moça. Um mês depois falia, partindo com a esposa para Lisboa, onde o casal chegou a passar até privações. Foi aí, em Lisboa, num jardim público, que certa vez se defrontaram o poeta e a sua amada, ambos abatidos pela dor e pela desilusão de suas vidas, ele cruelmente arrependido de não ter ousado tudo, de ter renunciado àquela que com uma só palavra sua se lhe entregaria para sempre. Desvairado pelo encontro, que lhe reabrira as feridas e agora de modo irreparável, compôs de um jato as estrofes de 'Ainda uma vez — adeus!', as quais, uma vez conhecidas da sua inspiradora, foram por esta copiadas com o seu próprio sangue.
Não posso deixar de incluir neste post o poema considerado uma das obras-primas de Gonçalves Dias, feito para sua amada, Ana Amélia, depois de terem se encontrado casualmente na rua, em maio de 1855, em Lisboa, o famoso “Ainda uma vez - adeus!” Este post é para aqueles que, assim como eu, admiram a enorme beleza e verdade contidas nessas palavras.
Ainda uma vez — Adeus
I
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
III
Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp'rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!
IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.
V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!
VII
Oh! se lutei! . . . mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?
VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!
IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
X
Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha. . .
Perdoa, que me enganei!
XI
Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!
XII
Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!
XIII
Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Co que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.
XIV
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!
XV
És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!
XVI
Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!
XVII
Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!
XVIII
Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, — de compaixão.
Bem a propósito do que eu publiquei esta tarde no meu post sobre a internet e a privacidade. Concordo plenamente com o autor do vídeo. A internet é baseada no compartilhamento de conteúdo. Ponto!
Por que as pessoas fazem de tudo para guardar a sete chaves o monte de coisas que publicam nas redes de relacionamento, nos blogs etc? Não quer que ninguém veja ou saiba o que você anda fazendo? Simples, não publica na internet!
O problema é que as pessoas postam de tudo na internet, vídeos, fotos, textos, tudo. Depois, se alguém vê ou copia o que publicaram, elas batem o pé e esperneiam gritando por privacidade. Como assim? Desde quando internet rima com privacidade?
Direito autoral na era da informação é algo quase (eu disse quase, viu?!) impossível de pensar. Imaginem proteger cada foto, cada clip, que alguém produz e publica nos ‘Youtubes’ da vida! É pra lá de complexo, intrincado.
A internet é um terreno sem dono. E não é só no seu bairro, na sua cidade ou no seu país... É no mundo inteiro! Devemos ter em mente o seguinte: publicou na internet, acabou, já era, a coisa se transforma em domínio público imediatamente. É o preço da tecnologia da informação, da comunicação instantânea.
Acontece que na hora de se relacionar com o mundo através dos Facebooks, Orkuts e afins, o lado show off do ser humano explode a cada click do mouse. Aquele lado obscuro, inconfessável até, que temos de aparecer na “revista Caras”, revela-se quando temos a chance de nos mostrarmos imponentes, importantes nas redes de relacionamento, por exemplo. Isso é normal, é do ser humano. Só que temos de entender que faz parte do jogo. Postou na internet? Esqueça a privacidade. Só se publica na internet aquilo que podemos compartilhar abertamente com o mundo inteiro!
Será que ninguém se lembra que a vida é feita de escolhas? Que somos responsáveis por cada escolha que fazemos em nossas vidas? É bom lembrar também que para cada escolha que fazemos, temos um preço a pagar.
O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Conjunto Habitacional do Pedregulho, foi projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, a partir de 1947, para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal. Está localizado no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Ganhou um prêmio na Bienal Internacional de São Paulo de 1953 por sua solução funcional e estética, que faz com que até hoje esse conjunto se destaque na paisagem da cidade. O ginásio, parte anexa à obra, tem painel de azulejos de Portinari. Alguém se lembra? Ainda outro dia passei por perto dessa obra e lembrei-me dessa foto. Informações mais detalhadas sobre o arquiteto Reidy e suas obras no link do blog The Urban Earth.