Minha amiga e colaboradora aqui no blog, Marilda Teixeira, fez algumas considerações, pra lá de pertinentes, em relação a esse assunto estapafúrdio de Patrimônio da Unesco. Eis o texto dela.
Eu penso assim, agora que, dizem, o Brasil não é mais o país do futuro e sim um país emergente, está tudo certo. O Brasil está se comportando exatamente como um bom nouveau riche que se preza. É assim mesmo. Não há saneamento básico para a população das favelas, o brinquedinho preferido daqueles que vivem delas (as favelas), mas é um colecionador de títulos e afins. Coisas da república, não?!
Senão vejamos:
1. O Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-americanos em 2007.
2. Desde 2003, já é sabido que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
3. Em 2007, o Cristo Redentor, de braços abertos no morro do Corcovado, apesar de ser belíssimo, foi eleito uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, o que, cá entre nós, já é um pouco demais, principalmente se considerarmos que ele ocupa um lugar no qual poderiam estar, por exemplo, o Templo de Angkor Wat, no Camboja, ou a Acrópole de Atenas, na Grécia, dois dos finalistas do famigerado concurso.
4. Em 2009, o COI – Comitê Olímpico Internacional, elegeu o Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016.
5. E agora a novidade, o Rio de Janeiro ganhou da Unesco, o título de Patrimônio Mundial na categoria "Paisagem Cultural Urbana".
O pior de tudo isso é ver que é enorme o número de pessoas (muitas das quais conhecidas nossas), que postou votos de parabéns à “cidade maravilhosa” no Facebook. Essas pessoas sequer questionaram o acontecido. E o que é insensato, os ditos intelectuais brasileiros, bradam aos quatro ventos que, durante a ditadura militar, ganhar a Copa do Mundo de Futebol só serviu para anestesiar o povo, que era um bando de alienados, pois acabava por não saber o que acontecia por trás das cortinas etc. Interessante... Parece-me que estou assistindo ao mesmo filme. É essa, Marilda, minha opinião de “enfant terrible”(*).
Pois é... O lobby deve ter sido forte e o título vem complementar o status de sede da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas. Eu continuo achando que precisávamos de "mais" para sermos Patrimônio Cultural. Pois um título desses - "Paisagem Cultural Urbana" - no meu humilde entender, deveria envolver alguns outros critérios como educação, qualidade de vida, envolvimento da população com seus bens materiais públicos, coisa que não acontece com a frequência desejada.
Ontem, 01/07/2012, o Rio de Janeiro ganhou da Unesco, o título de Patrimônio Mundial na categoria "Paisagem Cultural Urbana". Mas... Sem querer ser chata (e já sendo), me respondam: uma cidade que macula seu centro histórico, colocando em meio a prédios tão lindos e tão importantes para a História e a Cultura da cidade, essas monstruosidades modernosas, merece esse título?
Na foto tirada por mim em novembro passado, vemos à direita o telhado do Teatro Municipal; ao centro a Av. Rio Branco, o Monumento aos Pracinhas adiante e o Morro da Urca ao fundo; à esquerda a Biblioteca Nacional e o CCJF (Centro Cultural da Justiça Federal, antigo Supremo Tribunal Federal) ao lado. Dos “caixotões” nem vou falar, até porque não são importantes mesmo...
Imaginem a beleza que seria essa paisagem urbana se o gabarito antigo fosse preservado e os prédios fossem mais ou menos na altura das cúpulas do CCJF: poderíamos ver a baía de Guanabara e o Pão-de-Açúcar que quase pode ser visto à esquerda, não fosse a altura dos prédios.Então, vou tentar responder à pergunta que a Marilda fez no início do texto. “Uma cidade que macula seu centro histórico, colocando em meio a prédios tão lindos e tão importantes para a História e a Cultura da cidade, essas monstruosidades modernosas, merece esse título?” Respondo com um sonoro NÃO! Marilda, no Brasil comemora-se qualquer coisa. É incrível como se gosta de uma esmola nesse país!
Alguém sabe dizer na gestão de que prefeito foi permitida a construção dessas três coisas horrendas? Sim, porque existia um gabarito (que já tinha sido aumentado anos depois da inauguração da avenida) e que foi novamente modificado, claro, para atender a interesses econômicos e provavelmente a custa de muita propina, como é de costume. Eu nunca vou me conformar com essa aberração urbana!!!
O Rio é a primeira cidade a candidatar-se inteira a Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana. Segundo o presidente do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o grande diferencial na cidade é “a utilização intencional da natureza, que, atendendo aos interesses econômicos dos colonizadores portugueses, formou a paisagem carioca."
Quando o texto fala em "primeira cidade a candidatar-se inteira", suponho que as outras cidades do Brasil e do mundo, que já são "Patrimônio da Humanidade", tenham o título apenas para seu centro histórico. Se for isso, o Rio se apresenta ao título em toda a sua extensão. E então, a minha pergunta é: O Rio merece esse título?
Não resta dúvida que a cidade do Rio de Janeiro tem uma beleza natural sem par na área da orla. Os maciços que se estendem do interior da cidade até a orla, especialmente o da Tijuca, com o pico do Corcovado, o pontão do Pão-de-Açúcar e até mesmo a Serra do Mar que circunda ao longe a baía de Guanabara, a floresta da Tijuca (ainda que seja replantada), enfim, os nossos atrativos naturais, tão conhecidos no Brasil e no mundo, creio que não deixam margem a contestações sobre nosso Patrimônio Natural. Mas e quanto ao nosso Patrimônio Cultural?
Não estou diminuindo a importância das intervenções que fizemos ao longo do tempo e que contam nossa História (os prédios históricos, a abertura de avenidas e jardins) que contam a evolução urbano-histórica de nossa cidade. Afinal, nós próprios é que devemos ser os primeiros a valorizar a cidade que construímos. E é aí que a coisa se complica. Valorizamos o que construímos? As intervenções que fizemos na paisagem ao longo do tempo estão em bom estado, são conservadas e preservadas (pela população e pelos governos) a ponto de nos permitirem desejar e ganhar esse título de Patrimônio Cultural da Humanidade?
Falam muito no Corcovado e na orla de Copacabana, mas no quesito "patrimônio cultural" penso que devemos voltar nossas atenções também para outros monumentos e intervenções como o Aterro do Flamengo e, principalmente, o Centro do Rio, este Centro (que não é realmente o centro geográfico da cidade, mas o centro econômico). Esse Centro onde a nossa História se encontra, hoje, tão "picotada" (pois o que se tem são "ilhas" históricas num mar de espigões e de generalizado mau gosto modernoso), maltratado muitas vezes e pouco valorizado pelos órgãos da prefeitura e do estado, haja vista a dificuldade de se conseguir verbas suficientes para a conservação e restauração de importantes patrimônios.
E o Aterro do Flamengo? Será que suas condições de conservação são tão boas assim a ponto de influenciar positivamente na escolha da cidade para esse título? E a questão das moradias nos morros (favelas), que tanto interferiram no espaço cultural e social da cidade? É um ponto a favor ou contra? Sabemos que ainda hoje, apesar das melhorias introduzidas nessas comunidades, a falta de saneamento, os problemas de educação, de pobreza, ainda são seríssimos para a população. Esses problemas devem ser levados em conta numa escolha para "Patrimônio Cultural Urbano"?
Na minha opinião, tudo isso conta ou deveria contar. Por isso, não acho que o Rio devesse ser escolhido como Patrimônio Mundial, no item "Paisagem Cultural Urbana". Uma cidade - e um país - que não valoriza a sua História, que deixa prédios importantes de sua cidade se deteriorar para depois simplesmente demoli-los (um hábito que vem de longa data e que ainda não foi totalmente extirpado), que ainda apresenta tantos problemas de educação e cultura, não merece - pelo menos por enquanto - esse título.
Mas, enfim, o título está conosco e agora fazemos parte de um grupo seleto, junto com tantos outros sítios culturais no mundo. Só me resta esperar que os louros venham para toda a cidade, verdadeiramente.
Eu penso assim, agora que, dizem, o Brasil não é mais o país do futuro e sim um país emergente, está tudo certo. O Brasil está se comportando exatamente como um bom nouveau riche que se preza. É assim mesmo. Não há saneamento básico para a população das favelas, o brinquedinho preferido daqueles que vivem delas (as favelas), mas é um colecionador de títulos e afins. Coisas da república, não?!
Senão vejamos:
1. O Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-americanos em 2007.
2. Desde 2003, já é sabido que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
3. Em 2007, o Cristo Redentor, de braços abertos no morro do Corcovado, apesar de ser belíssimo, foi eleito uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, o que, cá entre nós, já é um pouco demais, principalmente se considerarmos que ele ocupa um lugar no qual poderiam estar, por exemplo, o Templo de Angkor Wat, no Camboja, ou a Acrópole de Atenas, na Grécia, dois dos finalistas do famigerado concurso.
4. Em 2009, o COI – Comitê Olímpico Internacional, elegeu o Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016.
5. E agora a novidade, o Rio de Janeiro ganhou da Unesco, o título de Patrimônio Mundial na categoria "Paisagem Cultural Urbana".
O pior de tudo isso é ver que é enorme o número de pessoas (muitas das quais conhecidas nossas), que postou votos de parabéns à “cidade maravilhosa” no Facebook. Essas pessoas sequer questionaram o acontecido. E o que é insensato, os ditos intelectuais brasileiros, bradam aos quatro ventos que, durante a ditadura militar, ganhar a Copa do Mundo de Futebol só serviu para anestesiar o povo, que era um bando de alienados, pois acabava por não saber o que acontecia por trás das cortinas etc. Interessante... Parece-me que estou assistindo ao mesmo filme. É essa, Marilda, minha opinião de “enfant terrible”(*).
(*) Criança ou adulto que, por indiscreto, causa embaraços contínuos, escandaliza os outros.
O texto em citação é da Profª Marilda Teixeira, colaboradora do blog.
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