sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Dia Nacional da Mulher Não é Hoje


Sobre o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, muito já se sabe. A sua história, por exemplo. Em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e reivindicaram melhores condições de trabalho, redução na carga horária, equiparação de salários com os homens, tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. Porém, foi somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, que foi decidido que o dia 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem às mulheres que morreram na fábrica em 1857. E somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU.

Mas vocês já ouviram falar no Dia Nacional da Mulher? Quanto conhecemos dessa data e daquelas que lutaram para que ela pudesse ser celebrada? Oficialmente, o dia 30 de abril é celebrado por conta da Lei 6.791 de 1980, sancionada pelo então Presidente João Figueiredo. Esse dia foi escolhido em homenagem a uma mineira chamada Jerônima Mesquita, nascida em 30 de abril de 1880, na Fazenda Paraíso, em Leopoldina.


Jerônima Mesquita
E quem foi ela?
De origem abastada e aristocrática, Jerônima era filha de Maria José Vilas Boas de Siqueira Mesquita e de José Jerônimo de Mesquita, nascida numa família de cafeicultores bem sucedidos; por isso teve acesso a educação e cultura. Na Fazenda da família destacava-se a maneira com que os escravos eram bem tratatados. A eles foram permitidas aulas de música e a construção de uma sala de música. A família tinha sua própria orquestra, que tocava durante os jantares. Mesquita foi um dos primeiros fazendeiros de Leopoldina a libertar os escravos, antes mesmo da Lei Áurea. Como reconhecimento, o imperador Pedro II concedeu-lhe o título de Barão. [Interessante a atitude de Dom Pedro II, não? Fez Barão um fazendeiro do café por ter libertado seus escravos, mas ele próprio não fez o mesmo. Cedeu às pressões da aristocracia cafeeira, não libertou os escravos quando talvez ainda pudesse fazê-lo sem perder o trono. Acabou por ter os escravos libertados por sua filha, mas já com o trono comprometido. Esse Dom Pedro II era um grande “perdedor de bondes”.]

Voltando à família Mesquita... Destacava-se, assim, por estes méritos e pela boa educação aos filhos. Como era de costume para a elite da época, viajava entre Brasil e Europa constantemente. Na residência do Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo, recebia ilustres da sociedade e personaldiades mundiais: Chiang Kai-shek e Madame Curie. A pianista Guiomar Novaes, amiga pessoal, costumava também hospedar-se na casa quando vinha ao Rio de Janeiro. Jerônima era a mais velha de cinco irmãos e realizou os estudos secundários na França, onde pôde presenciar a luta das mulheres pela igualdade. Por imposição da família casou-se aos 17 anos com um primo, com quem teve um filho, mas separou-se em seguida, após dois anos do casamento, e nunca mais voltou a casar.

Em 1914, quando eclodiu a I Guerra Mundial, Jerônima Mesquista ingressou como voluntária da Cruz Vermelha de Paris e depois serviu à Cruz Vermelha Suíça. Em 1919, Jerônima fundou o Movimento Bandeirante, que abriu caminho para a participação das mulheres na sociedade. As Bandeirantes tinham como atividades aulas de primeiros socorros, enfermagem e puericultura. Elas usavam uniformes decorrentes da influência militar, o que lhes conferia uma aparência masculinizada. Devido a sua dedicação por muitos anos ao bandeirantismo, foi condecorada com muitas honrarias. Entre elas estão o título de Oficial da Ordem Nacional do Mérito (Medalhas das Rosas), conferido pelo presidente da república; a primeira “Estrela de Honra no Brasil”, a maior condecoração bandeirante; e o Tapir de Prata, o maior distintivo escoteiro.

Associação de escoteiros em Leopoldina no início dos anos 1920

Em companhia das amigas Stela Duval e Bertha Lutz, Jerônima tornou-se uma ativista na luta dos direitos da mulher e foi uma das fundadoras, em 1922, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino - FBPF. Pioneira na luta pelo direito ao voto feminino, Jerônima atuou no movimento sufragista de 1932. Em 1931, Getúlio Vargas concedeu voto limitado às mulheres, ou seja, somente solteiras, viúvas com renda própria ou casadas com a autorização do marido poderiam votar. Grupos feministas continuaram manifestando-se, alegando igualdade de voto entre homens e mulheres. Getúlio assinou, então, o decreto n.º 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que determinava ser eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma do código.

Enfim a conquista do direito ao voto feminino
Com Bertha Lutz e Maria Eugênia, em 14 de agosto de 1934, lançou um manifesto à nação, chamado de Manifesto Feminista.

O Manifesto Feminista
As mulheres, assim como os homens, nascem membros livres e independentes da espécie humana, dotados de faculdades equivalentes e igualmente chamados a exercer, sem peias, os seus direitos e deveres individuais, os sexos são interdependentes e devem, um ao outro, a sua cooperação. A supressão dos direitos de um acarretará, inevitavelmente, prejuízos pra o outro, e, conseqüentemente, pra a Nação. Em todos os países e tempos, as leis, preconceitos e costumes tendentes a restringir a mulher, a limitar a sua instrução, a entravar o desenvolvimento das suas aptidões naturais, a subordinar sua individualidade ao juízo de uma personalidade alheia, foram baseados em teorias falsas, produzindo, na vida moderna, intenso desequilíbrio social; a autonomia constitui o direito fundamental de todo individuo adulto; a recusa desse direito à mulher é uma injustiça social, legal e econômica que repercute desfavoravelmente na vida da coletividade, retardando o progresso geral; as noções que obrigam ao pagamento de impostos e à obediência à lei os cidadãos do sexo feminino sem lhes conceder, como aos do sexo masculino, o direito de intervir na elaboração dessas leis e votação desses impostos, exercem uma tirania incompatível com os governos baseados na justiça; sendo o voto o único meio legítimo de defender aqueles direitos, a vida e a liberdade proclamados inalienáveis pela Declaração da Independência das Democracias Americanas e hoje reconhecidas por todas as nações civilizadas da Terra, à mulher assiste o direito ao título de eleitor.

Achei sensacional a parte do Manifesto que fala sobre a injustiça econômica entre homens e mulheres. Pagar impostos era dever igualitário, mas votar naqueles que decidiam sobre esses mesmos impostos não se aplicava ao sexo feminino. Tá bem... Durma-se com um barulho desses.

Em 1947, junto com um grupo de companheiras, fundou, no Rio de Janeiro, o CNMB - Conselho Nacional da Mulher do Brasil, uma organização cultural, não governamental, cujo objetivo é a defesa da condição da mulher. Dentre as principais conquistas estão: o direito ao voto, a fundação da Pró-Mater - hospital beneficente para acolher gestantes pobres -, a fundação da Associação Cruz Verde, que lutou contra a fome, a febre amarela e a varíola no início do século XX.

Jerônima Mesquita faleceu aos 92 anos, numa segunda-feira, dia 11 de dezembro de 1972, na Rua Almirante Tamandaré, 10, apto. 901, Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, então Estado da Guanabara. Foi sepultada no dia seguinte nesta mesma cidade, no Cemitério da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Paula, no Catumbi. Faleceu vitimada por acidente vascular cerebral e cardiopatia hipertensiva, conforme laudo do médico, doutor Nélson Siqueira.



sábado, 10 de novembro de 2012

Mídia - Ela é o Quarto Poder

Não pude me conter ao ler um artigo excelente no blog de um amigo, Periscópio Cidadão. Reproduzo-o aqui deixando o respectivo link para quem aprecia um blog de qualidade em seu conteúdo.

A informação que vende
Por Valério Cruz Brittos e Éderson Silva em 04/10/2011

Desde que a informação, a matéria-prima do jornalismo, passou a ser concebida como um produto e como tal priorizada para venda, o ato de informar seguiu um caminho perigoso e conflitante. A fidelidade aos fatos e à ética foi distorcida em nome de uma matéria espetacular para a apreciação e o consumo do maior número de receptores possível. Inseridas no contexto capitalista, as empresas de comunicação têm uma visão mercantilista da informação, que deve agregar a maior parte do público a que se destina para obter os melhores preços na vendagem do produto em si ou de sua publicidade.

O sensacionalismo é utilizado cada vez mais como recurso estratégico nesta Fase da Multiplicidade da Oferta em que os agentes comunicacionais têm que captar a atenção do público rapidamente, ante o acirramento da concorrência. Esta capacidade de agregar públicos faz com que o sensacionalismo seja utilizado, inclusive, como ação de programação para conquistar público localmente, como, no mercado televisivo, fazem Band e Record com a edição regional do Brasil Urgente e o Balanço Geral, respectivamente, ou como procedem organizações jornalísticas de vários estados brasileiros, com jornais para públicos C, D e E.

Nos projetos sensacionalistas, a notícia deve ser conduzida a um extremo, ocorrendo a exacerbação dos fatos incessantemente com detalhes minuciosos a fim de chocar ou emocionar o público. Estes casos ocorrem principalmente em sequestros, estupros, crimes hediondos, assaltos e outros acontecimentos fortes, em que há uma máscara de jornalismo popular, com seus protagonistas sendo proclamados representantes do povo. São mostrados como figuras paternalistas, defensoras dos mais fracos, mas se enriquecem da desgraça e do sofrimento alheio, vendendo uma imagem ilusória de salvação para os problemas sociais.

Questão ética, ponto crucial
Diariamente, grande parte da mídia utiliza-se do sensacionalismo para esquentar a notícia, permitindo sérios questionamentos éticos. Assim, o sensacional é mostrado de forma chocante e cruel ao telespectador e ao leitor. Os programas policiais utilizam-se muito desta forma de violência gratuita para noticiar os acontecimentos diários, quando são violados os direitos do cidadão. Forma-se um verdadeiro “circo midiático” em torno de um dado acontecimento, que toma proporções gigantescas, não raro desenrolando-se em vários capítulos, como uma novela, pronta para a venda em larga escala. Este tipo de jornalismo não distingue o que é informação relevante da que não é, e sim, a que vende e a que não vende.

O Código de Ética dos jornalistas brasileiros menciona que o profissional da área deve combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação. Deve haver respeito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão, o que não ocorre quando se trata de explorar a notícia pelo seu ângulo sensacional. Paradoxalmente, quanto mais o sensacionalismo é utilizado, mais é lançado o argumento de que o jornalismo não deve ser regulado porque, por si próprio, teria um caráter de serviço público, mesmo quando exercido no âmbito de instituições mercadológicas.

A atividade jornalística visa à pluralidade, na sua gênese estando ligada a interesses mais amplos, já a exploração de imagens com o objetivo de chocar as pessoas remete a objetivos privados, relacionados ao lucro, preferencialmente. No código da profissão está claro, em seu artigo 11, dentre outros pontos, que o jornalista não pode divulgar informações visando ao interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; nem que contenham caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes. Questiona-se até que ponto grande parte dos conteúdos jornalísticos atuais passa por este confronto nas diversas mídias que atravessam a sociabilidade contemporânea.


Valério Cruz Brittos e Éderson Silva são, respectivamente, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição
Fonte: Site Observatório da Imprensa em 04.10.2011