O que é paternalismo? Em política, é tendência a dissimular o excesso de autoridade sob a forma de proteção.
O ditador pai dos pobres
A nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho em 1953 desagradou os círculos militares, políticos e empresariais. Para controlar a situação, Getúlio nomeou Zenóbio da Costa para o Ministério da Guerra e demitiu João Goulart.
O aumento de 100% para o salário-mínimo junto com o pedido aos trabalhadores que se organizassem em defesa do governo e o atentado a tiros no Rio de Janeiro ao jornalista Carlos Lacerda, no qual morreu o major-aviador Rubens Vaz, que o acompanhava, precipitaram uma crise política sem precedentes.
No dia 12 de agosto, a Aeronáutica já havia instaurado um IPM - Inquérito Policial Militar - para investigar o crime que resultara na morte de um de seus oficiais. Em manobra do Catete, Lutero Vargas abre mão da imunidade parlamentar e se apresenta, voluntariamente, para depor, negando a participação como mandante do atentado da Rua Toneleros.
A 13 de agosto de 1954, Getúlio Vargas já pôde sentir que estava se afogando em um mar de lama. Fora preso o pistoleiro Alcino José do Nascimento, que confessou o crime da Rua Toneleros. Mas a situação agravou-se ainda mais quando Alcino declarou na Polícia haver agido a mando do filho de Getúlio Vargas, o então Deputado Federal Lutero Vargas.
A trama que foi, aos poucos, sendo desvendada naqueles dias críticos de 1954 revela-se muito complexa para envolver apenas personagens subalternos do Palácio. Logo após a prisão do pistoleiro, o secretário da guarda pessoal de Getúlio Vargas, extinta em 7 de agosto, acabou confessando que havia facilitado a fuga do pistoleiro Alcino e do membro da guarda, Climério, ambos diretamente envolvidos no assassinato. Climério ainda levaria alguns dias para ser encontrado. João Vicente, o secretário, alegou que fizera tudo instruído por Gregório Fortunato, o “anjo negro”, chefe da guarda.
Ou seja, oito dias após a morte do Major Rubens Vaz a polícia e a Aeronáutica já tinham os nomes dos assassinos, de quem os acobertou e de quem os instruiu. Todos pertenciam ao círculo íntimo do Presidente, exceto o pistoleiro contratado.
Essas pessoas ligadas a Getúlio Vargas é que verdadeiramente conspiraram contra a Nação. O impeachment do Presidente era o único caminho legal possível.
O presidente reconheceu que, sem seu conhecimento, corria sob o palácio um mar de lama e os militares exigiam sua renúncia. Getúlio reuniu, então, o ministério e propôs se licenciar até que todas as responsabilidades pelo atentado fossem apuradas. O Exército, porém, não aceitou o afastamento temporário.
A pressão foi demais e o presidente retirou-se da reunião. No mesmo dia, 24 de agosto de 1954, no palácio do Catete, no Rio de Janeiro, suicidou-se com um tiro no coração, deixando uma carta-testamento de natureza fundamentalmente política.
Mar de Lama do Século XXI
Em maio/2005, trechos de pronunciamentos feitos no plenário do Senado diziam coisas do tipo:
Cristovam Buarque (PT-DF): "Ajudar o governo, como é minha obrigação de petista, é não encobrir nada. A melhor maneira é, em bloco, a Bancada inteira, aprovar a assinatura. Lamentavelmente, na reunião da Bancada, não foi aprovado isso. O meu medo, e vou procurar frisar isso, é que estejamos escondendo as cabeças como avestruz. A crise é muito mais séria, profunda e toca muito mais as instituições do que aparentemente estamos percebendo".
Demóstenes Torres (PFL-GO): "Neste ano, estamos implantando no Brasil algo que era reclamado há muito pela sociedade e pelo Poder Judiciário: a súmula com efeito vinculante. O que é a súmula com efeito vinculante? Pela repetição, o Supremo Tribunal Federal acaba editando uma norma e, assim, processos com a mesma característica são indeferidos por aquele Tribunal. Em decorrência disso, parece-me que o Governo Federal criou a Súmula José Dirceu.
Mas... Pois é, mas... Não sobrou pedra sobre pedra. Chegamos à Ação Penal 470. O STF “soltou o braço” nos meliantes. E o julgamento ainda não terminou. Paralelo com isso, o Senador Demóstenes Torres enfrentou a CPI do Cachoeira e fez um baita papelão com direito até a choro. Depois de tantas operações da Polícia Federal: Operação Hurricane, Caixa de Pandora, Sanguessuga, Anaconda, Satiagraha (que investigava crimes financeiros que teriam sido cometidos por um grupo comandado pelo presidente do Banco Opportunity, Daniel Dantas), e outras mais de que não me lembro, ei-nos aqui com o estouro da Operação Porto Seguro.
Hoje me pergunto de quem foi o mar mais lamacento? O de Getúlio ou o de Lula? Como estamos cronologicamente mais próximos do segundo, a população dirá que é dele, sem dúvida, o pior mar de lama. Na verdade, é só uma questão de tempo, ou melhor, do tempo. Do tempo decorrido. O que está distante de nós no tempo tende a distanciar-se também na memória coletiva. Aconteça o que acontecer, dentro de uns cinquenta anos, talvez meus netos leiam nos livros de História do Brasil que Lula foi um segundo pai dos pobres, o pai da bolsa-família, da emergência da classe C e da marola da crise financeira.
Interessante é que nenhum dos dois, cada um a seu tempo, sabia de rigorosamente nada! Será esse o Brasil do futuro? Ou do passado? E do presente também? Mais uma para reflexão.
O ditador pai dos pobres
A nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho em 1953 desagradou os círculos militares, políticos e empresariais. Para controlar a situação, Getúlio nomeou Zenóbio da Costa para o Ministério da Guerra e demitiu João Goulart.
O aumento de 100% para o salário-mínimo junto com o pedido aos trabalhadores que se organizassem em defesa do governo e o atentado a tiros no Rio de Janeiro ao jornalista Carlos Lacerda, no qual morreu o major-aviador Rubens Vaz, que o acompanhava, precipitaram uma crise política sem precedentes.
No dia 12 de agosto, a Aeronáutica já havia instaurado um IPM - Inquérito Policial Militar - para investigar o crime que resultara na morte de um de seus oficiais. Em manobra do Catete, Lutero Vargas abre mão da imunidade parlamentar e se apresenta, voluntariamente, para depor, negando a participação como mandante do atentado da Rua Toneleros.
A 13 de agosto de 1954, Getúlio Vargas já pôde sentir que estava se afogando em um mar de lama. Fora preso o pistoleiro Alcino José do Nascimento, que confessou o crime da Rua Toneleros. Mas a situação agravou-se ainda mais quando Alcino declarou na Polícia haver agido a mando do filho de Getúlio Vargas, o então Deputado Federal Lutero Vargas.
A trama que foi, aos poucos, sendo desvendada naqueles dias críticos de 1954 revela-se muito complexa para envolver apenas personagens subalternos do Palácio. Logo após a prisão do pistoleiro, o secretário da guarda pessoal de Getúlio Vargas, extinta em 7 de agosto, acabou confessando que havia facilitado a fuga do pistoleiro Alcino e do membro da guarda, Climério, ambos diretamente envolvidos no assassinato. Climério ainda levaria alguns dias para ser encontrado. João Vicente, o secretário, alegou que fizera tudo instruído por Gregório Fortunato, o “anjo negro”, chefe da guarda.
Ou seja, oito dias após a morte do Major Rubens Vaz a polícia e a Aeronáutica já tinham os nomes dos assassinos, de quem os acobertou e de quem os instruiu. Todos pertenciam ao círculo íntimo do Presidente, exceto o pistoleiro contratado.
Essas pessoas ligadas a Getúlio Vargas é que verdadeiramente conspiraram contra a Nação. O impeachment do Presidente era o único caminho legal possível.
O presidente reconheceu que, sem seu conhecimento, corria sob o palácio um mar de lama e os militares exigiam sua renúncia. Getúlio reuniu, então, o ministério e propôs se licenciar até que todas as responsabilidades pelo atentado fossem apuradas. O Exército, porém, não aceitou o afastamento temporário.
A pressão foi demais e o presidente retirou-se da reunião. No mesmo dia, 24 de agosto de 1954, no palácio do Catete, no Rio de Janeiro, suicidou-se com um tiro no coração, deixando uma carta-testamento de natureza fundamentalmente política.
Mar de Lama do Século XXI
Em maio/2005, trechos de pronunciamentos feitos no plenário do Senado diziam coisas do tipo:
Cristovam Buarque (PT-DF): "Ajudar o governo, como é minha obrigação de petista, é não encobrir nada. A melhor maneira é, em bloco, a Bancada inteira, aprovar a assinatura. Lamentavelmente, na reunião da Bancada, não foi aprovado isso. O meu medo, e vou procurar frisar isso, é que estejamos escondendo as cabeças como avestruz. A crise é muito mais séria, profunda e toca muito mais as instituições do que aparentemente estamos percebendo".
Demóstenes Torres (PFL-GO): "Neste ano, estamos implantando no Brasil algo que era reclamado há muito pela sociedade e pelo Poder Judiciário: a súmula com efeito vinculante. O que é a súmula com efeito vinculante? Pela repetição, o Supremo Tribunal Federal acaba editando uma norma e, assim, processos com a mesma característica são indeferidos por aquele Tribunal. Em decorrência disso, parece-me que o Governo Federal criou a Súmula José Dirceu.
Mas... Pois é, mas... Não sobrou pedra sobre pedra. Chegamos à Ação Penal 470. O STF “soltou o braço” nos meliantes. E o julgamento ainda não terminou. Paralelo com isso, o Senador Demóstenes Torres enfrentou a CPI do Cachoeira e fez um baita papelão com direito até a choro. Depois de tantas operações da Polícia Federal: Operação Hurricane, Caixa de Pandora, Sanguessuga, Anaconda, Satiagraha (que investigava crimes financeiros que teriam sido cometidos por um grupo comandado pelo presidente do Banco Opportunity, Daniel Dantas), e outras mais de que não me lembro, ei-nos aqui com o estouro da Operação Porto Seguro.
Hoje me pergunto de quem foi o mar mais lamacento? O de Getúlio ou o de Lula? Como estamos cronologicamente mais próximos do segundo, a população dirá que é dele, sem dúvida, o pior mar de lama. Na verdade, é só uma questão de tempo, ou melhor, do tempo. Do tempo decorrido. O que está distante de nós no tempo tende a distanciar-se também na memória coletiva. Aconteça o que acontecer, dentro de uns cinquenta anos, talvez meus netos leiam nos livros de História do Brasil que Lula foi um segundo pai dos pobres, o pai da bolsa-família, da emergência da classe C e da marola da crise financeira.
Interessante é que nenhum dos dois, cada um a seu tempo, sabia de rigorosamente nada! Será esse o Brasil do futuro? Ou do passado? E do presente também? Mais uma para reflexão.